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domingo, 11 de junho de 2023

RICARDO FARIA»» Treinador conta a experiência que teve na Quinta do Conde

 

Equipa jogou sempre como se nunca tivesse perdido…

 

“MESMO COM RESULTADOS DESNIVELADOS MANTIVEMOS SEMPRE A NOSSA POSTURA COM CARÁCTER E PERSONALIDADE”

 



ADQC chegou a jogar com um guarda-redes lesionado como jogador de campo e depois do jogo com o Barreirense passou a treinar apenas duas vezes por semana

 

 


Ricardo Faria assumiu o comando técnico do Quinta do Conde numa altura em que pouco havia a fazer porque a equipa estava condenada à descida de divisão.

 

Fez o que foi possível fazer e levou a equipa a concluir o campeonato implementando as ideias que julgou serem as mais adequadas para a situação, mas isso não evitou que a equipa somasse derrotas nos 10 jogos que disputou sob sua orientação.

 

Quando aceitou tomar conta da equipa foi avançada a possibilidade de continuar como treinador na nova temporada, mas como no futebol as surpresas por vezes acontecem e nada é previsível, não foi isso que aconteceu.

 


Ainda assim, Ricardo Faria aceitou o nosso convite para falar da experiência que teve na ADQC.

 

 

Não deve ter sido fácil trabalhar numa situação como aquela que encontrou …

De facto, não foi. Mas só aceitei o convite porque o objectivo era a próxima época. A abordagem foi feita de forma pedagógica para desenvolver e preparar os jogadores para o futuro. É uma situação onde ninguém quer estar ou pertencer porque o insucesso é o que está mais presente e isso gera desmotivação, insegurança e desapego. Quando cheguei já tinham saído muitos jogadores e dos que ficaram nenhum era guarda-redes, jogávamos com um júnior de primeiro ano e chegámos a jogar com o guarda-redes, que estava lesionado, como jogador de campo em alguns jogos. Saíram ainda mais quatro e a seguir ao jogo com o Barreirense passámos a treinar só duas vezes por semana. Treinávamos com 10/13 jogadores e sem guarda-redes mas não deixámos de focar no desenvolvimento dos jogadores, nem tão pouco deixámos de preparar o jogo da melhor maneira possível. Mostrámos sempre um nível aceitável de organização mas a diferença era notória nos pequenos detalhes individuais.


 


Como conseguia motivar os jogadores para os jogos num cenário que era completamente desfavorável?

A melhor forma de lidar com situações destas é focar os jogadores naquilo que eles controlam mais que são as suas acções. Por isso, o nosso objectivo foi centrado nas tarefas e responsabilidades dos jogadores no jogo e no seu desempenho individual com o objectivo de serem melhores no próximo. Se falarmos naquilo que causa “dor” que são as derrotas, a insegurança e a desconfiança instala-se. Por isso, nunca abordamos esse tema e focamos nas tarefas que tínhamos de fazer, até porque mudamos o sistema táctico e estávamos sempre concentrados na optimização do mesmo. Houve melhorias evidentes, a equipa ficou mais competitiva, dinâmica, organizada e com mais garra, começamos a chegar mais vezes à baliza adversária e mesmo treinando só duas vezes por semana não sentimos muito o desconforto físico. Mostrámos sempre coragem e personalidade. Encarámos sempre os jogos para ganhar e disputamos todos os lances com essa intenção. Jogamos sempre como se nunca tivéssemos perdido. Usámos os vídeos dos jogos para rectificar algumas coisas mas alguns jogadores não gostaram desse tipo de abordagem, penso que não estavam habituados a isso, mas mesmo assim fomos evoluindo e ficamos cada vez mais organizados e confortáveis.

 


Na parte final do campeonato sofreram muitas goleadas. Há alguma justificação para que isso tenha acontecido?

Com o passar do tempo tivemos cada vez mais dificuldade em preencher a convocatória e tivemos de recorrer aos juniores. Nos dois últimos jogos jogaram 4 juniores de início contra o Olímpico e 6 contra o Comércio. Jogaram ainda alguns jogadores com pequenas lesões e muitos acabaram o campeonato em sofrimento, mas isso não justifica tudo. Os golos surgiram sempre no final da primeira parte e durante a segunda parte em períodos curtos. Quando começávamos a ganhar confiança no jogo a concentração baixava e os golos surgiam. Estava identificado como trabalhar isso com eles mas já não houve tempo das melhorias aparecerem. Mesmo com resultados desnivelados mantivemos sempre a nossa postura com carácter e personalidade e por exemplo no jogo com o Olímpico a nossa linha defensiva esteve durante alguns períodos do jogo a pisar a linha do meio campo.


 


Quando foi convidado para treinar a equipa foi avançada a hipótese de continuar na próxima temporada mas isso não vai acontecer. Ficou desiludido?

Nada. Só tenho a agradecer ao presidente Joaquim Tavares pela oportunidade que me deu e ao Rui Fonseca por se ter lembrado de mim. No entanto tentei saber o porquê da não continuidade numa perspectiva de melhoria e de evolução mas não me foi dito nada em concreto. O único feedback que obtive foi dos jogadores que realçaram a justiça das decisões que tomei neste contexto difícil e a metodologia de treino aplicada.

 

E em relação ao futuro, quais são as perspectivas?

Tenho algumas coisas que foram interrompidas e gostava de as retomar. Tenho 3 critérios para aceitar um novo projecto e se algum dos 3 não for preenchido já tenho planeado uns pequenos “estágios” que irei fazer entre o distrito de Setúbal e Lisboa.

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