PINHALNOVENSE»» Ricardo Estrelado e a crise vivida no clube - JORNAL DE DESPORTO

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

PINHALNOVENSE»» Ricardo Estrelado e a crise vivida no clube

Esteve nove meses sem receber um cêntimo…


 

“AS SAD’S PROVOCAM INÉRCIA NOS DIRIGENTES PORQUE O DINHEIRO CHEGA DE FORMA FÁCIL”

 


O ex-treinador considera que a parte desportiva foi óptima mas a parte financeira foi horrível. E, destaca a atitude e o carácter dos jogadores que foram fantásticos.


 


O treinador Ricardo Estrelado esperou até ao limite por uma solução mas como ela não surgiu viu-se obrigado a rescindir o contrato por justa causa, dado que esta época não havia recebido um cêntimo e da época anterior também ficaram por pagar quatro meses.


O bom trabalho realizado não passou despercebido ao Coruchense, também do Campeonato de Portugal, mas da Série E, que o contratou de imediato.


Ricardo Estrelado confessou ao nosso jornal que esta foi uma boa experiência em termos desportivos mas péssima a nível financeiro, e sente-se triste por isso. 



“Já muito se falou sobre o assunto, as dificuldades financeiras foram muitas e aquilo que se conseguiu arranjar nada teve a ver com o investidor que nos abandonou mas sim com ajudas de todos nós e na parte final também do clube, nas deslocações e almoços. Disseram para nos preocuparmos com o aspecto desportivo porque a questão financeira estava bem encaminhada mas com a renúncia de uma proposta iraniana que havia, ficámos perdidos”, começou por dizer, prosseguindo depois, “com um orçamento baixo fizemos um esforço enorme para montar o plantel, conseguimos formar uma equipa humilde e com ela obtivemos os resultados que são conhecidos. Acabámos a primeira volta em segundo lugar só com uma derrota, e sem um cêntimo no bolso”.



Ricardo Estrelado recorda que “o jogo com o Olhanense foi uma demonstração do carácter que a equipa tinha, fizemos uma exibição muito boa e o resultado foi justo, mas até poderíamos ter ganho. Acabámos com uma derrota em 10 jogos num campeonato muito difícil e com praticamente cinco meses de vencimentos em atraso. Em meados de Dezembro havia uma nova esperança no que respeita a investidores mas como isso não se concretizou os jogadores começam a sair. Resumindo, a parte desportiva foi óptima mas a parte financeira foi horrível. Houve jogadores que chegaram a fazer de roupeiros e a fisioterapeuta aguentou connosco todo este tempo sem nada receber à imagem do que aconteceu com a equipa técnica. Fomos fiéis e lutámos pelo clube mas chegou a altura de dizer basta porque já não dava para mais. Resultado, acabámos por rescindir o vínculo com o clube por justa causa”.


 


Cinco meses de vencimentos em atraso


O treinador falou em cinco meses de vencimentos em atraso mas em relação à equipa técnica a falta de pagamento foi muito superior.


“No meu caso pessoal, da época passada ficaram quatro meses por receber, se a eles juntarmos cinco deste ano, perfaz nove meses e contando com as férias o tempo sobe praticamente para um ano. Ou seja, estive praticamente um ano sem receber. No final da época passada assinei um acordo para que me fosse pago o que deviam de forma faseada. Fiz este acordo porque queria o bem do clube mas a verdade é que fiquei nove meses sem receber, assim como os meus adjuntos”.



E o que se passou com o treinador passou-se também com os jogadores. Aliás, foi isso possibilitou a inscrição da equipa no início desta época, confirmou Ricardo Estrelado.


“Foi exactamente o que aconteceu. Se não fossem os acordos que o investidor ainda fez connosco, a equipa não poderia inscrita. Pelo que sei, com alguns jogadores ainda conseguiu cumprir mas com outros não”.


Esta é uma situação muito delicada que coloca em causa o bom nome do Pinhalnovense que participa há 23 anos consecutivos em competições de âmbito nacional.



“Custa-nos ver o clube envolvido nesta situação mas há que colocar o dedo na ferida. Antigamente os clubes faziam das tripas coração para arranjar os meios necessários para sobreviver e, cada um na sua terra sentia verdadeiramente o clube e agora com os investidores e com as SAD’s as coisas mudam de figura. No caso do Pinhalnovense, com os chineses as coisas correram bem porque nunca falharam com o dinheiro. Com isto, começa a haver alguma inércia por parte das pessoas que dirigem o clube porque o dinheiro chega fácil e sempre do mesmo lado. Ou seja, aquela ligação dos clubes com o mercado comercial, industrial e empresarial começa a não haver grande interesse em pedir ajuda e procurar sinergias e depois acontecem estes casos muito graves. Mesmo que o clube quisesse fazer um esforço de recuperação era muito difícil porque nesta fase já ninguém acredita na sua viabilidade por falta de ligação da terra ao clube e ficam à espera que apareça outro Messias”.   

 

Treinador no Coruchense 

                                                                     


Tendo em conta o sucedido Ricardo Estrelado alegando justa causa rescindiu unilateralmente o contrato que o ligava ao Pinhalnovense mas não demorou tempo a encontrar novo clube.


“Por incrível que pareça, no dia em que estava em contacto com o advogado da Associação Nacional de Treinadores de Futebol recebo um convite, houve conversações, chegámos a acordo e já começámos a trabalhar no Coruchense que também disputa o Campeonato de Portugal, mas na Série E. Entrar no último terço do campeonato com a equipa no sétimo lugar não é muito bom e milagres é coisa que não consigo fazer do consigo fazer mas vamos dar o nosso melhor para consolidar o clube no campeonato de Portugal, garantindo a manutenção”.



A finalizar a conversa que tivemos, Ricardo Estrelado deixou uma palavra de apreço aos adeptos da equipa de Pinhal Novo. “Agradeço à massa associativa pelo apoio que me deram no tempo em que lá estive. A vida continua. Quem sabe se no futuro um dia nos poderemos voltar a encontrar”.


 

Pedido de insolvência da SAD


Face à crise instalada e à desclassificação da equipa de futebol sénior do Campeonato de Portugal, está marcada para o dia 11 de Fevereiro uma assembleia-geral do clube, detentor de 20 por cento do capital da SAD, na qual a direcção irá pedir aos sócios que a mandatem para avançar com o pedido de insolvência da sociedade desportiva.

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