Ex director desportivo em entrevista…
“HOUVE MUITAS VITÓRIAS QUE SERVIRÃO PARA AJUDAR AO
CRESCIMENTO DO CLUBE E DA PRÓPRIA ESTRUTURA”
“Já nos consideravam mortos e enterrados em Janeiro mas chegámos à última jornada praticamente a depender de nós. A dez minutos do fim a manutenção estava garantida só que depois aconteceu o pior”, recorda David Barata
Reunidas as condições e após
disponibilidade do entrevistado colocámos então algumas questões ao ex-director
da equipa fabril que fez o balanço da temporada, analisou os factores que
estiveram na origem da não concretização do objectivo, da mudança de treinador
a meio da época, explicou por que razão não continuou a exercer funções no
clube, apesar de ter sido convidado e adiantou que o seu futuro [que em breve
será tornado público] passará claramente pela direcção desportiva ou scouting.
Qual
o balanço que faz da sua passagem pelo Desportivo Fabril como director
desportivo?
Em primeiro lugar, deixe-me
agradecer e enaltecer o trabalho que tem feito no distrito, na promoção do
desporto e dos seus intervenientes, em particular. O balanço é extremamente
positivo e devemos olhar para a época 2020/21 de duas formas: pese embora o
objectivo da manutenção não tenha sido conseguido, e há́ que assumir essa
derrota, houve muitas vitórias que fomos alcançando ao longo da época e que servirão
para ajudar ao crescimento do clube e da própria estrutura, no futuro. Hoje o
Grupo Desportivo Fabril, em particular o seu departamento de futebol sénior,
está muito mais capaz, mais organizado, mais competitivo, e muito graças ao
trabalho que foi feito na última época. Não esquecendo a temporada
imediatamente anterior (2019/20), e o meu antecessor André́ Dias, que iniciou
esta pequena revolução e deu asas a uma mudança de mentalidades e exigências
que não existiam até então. Acabámos por dar continuidade a esse trabalho
organizativo, apetrechando a equipa sénior e todo o departamento de futebol das
ferramentas necessárias para que o clube possa competir ao mais alto nível a
breve trecho. E quando falo de vitórias ao longo da época, falo também da valorização
de activos – todos os jogadores tiveram propostas para continuarem no
Campeonato de Portugal, repito, TODOS (!!!), e três ou quatro estiveram às
portas da Liga 3, algo que acredito que aconteça, de forma natural, até final
da presente época. Ficou a faltar o departamento de Scouting e a criação do
mesmo, objectivo que defini no início da época, mas que lamentavelmente, não
conseguimos concretizar. Também o corpo técnico saiu valorizado, apesar de
tudo, e sinal disso mesmo é a continuidade do Mister João Nuno e da sua
equipa. O convite para a renovação é sinal de que as coisas foram e estavam a
ser muito bem-feitas. Uma palavra de agradecimento a todos eles, em particular
ao Mister Filipe Romão, coordenador da formação e adjunto da equipa principal,
ele que é hoje o verdadeiro pilar de toda a estrutura do futebol do GD Fabril.
A
Série mais forte de todas
Tal como referi, há́ que
assumir essa mesma derrota, apesar de tudo o que de bom foi feito. O que
falhou? Falhámos golos quando não podíamos, falhámos na exigência e na concentração
num ou outro momento, e no futebol moderno, erros assim pagam-se caros. Ainda
assim, fomos para a última jornada com a possibilidade da manutenção intacta, e
a dez minutos do final do jogo, estava garantida. Depois, aconteceu o pior. A série
em que estávamos era, talvez, a mais forte de todas, o que também dificultou a
nossa tarefa. Tínhamos o orçamento mais baixo de todo o Campeonato de Portugal
– e digo-o até com orgulho pelo que conseguimos fazer. Estamos a falar de um
plantel construído, maioritariamente, por jogadores oriundos de campeonatos distritais
que, apesar de toda a qualidade, ainda não tinha a experiência que muitas vezes
faz a diferença em pequenos pormenores. Ainda assim, já nos consideravam
mortos e enterrados em Janeiro e repito, chegámos à última jornada
praticamente a depender de nós.
Ao
longo da época o Fabril teve 37 jogadores. Porquê tanta gente?
- Fruto também da inexperiência
que falámos há́ pouco, alguns jogadores não estavam preparados para a exigência
e qualidade que o GD Fabril queria e quis impor desde início. Inclusivé,
atletas que até já tinham jogado Campeonato de Portugal, mas que claramente não
estavam preparados para o compromisso que se exigia. Mas faz parte. De qualquer
forma, houve clubes com mais atletas inscritos e onde não vi tanto alarido pelo
sucedido.
A
‘chicotada psicológica’
Sem dúvida. Um momento
marcante para todos nós. Um dia mágico, com uma atmosfera a fazer lembrar as
grandes tardes/noites da CUF, no Alfredo da Silva. Creio que deixámos uma
imagem digna, de futebol positivo, onde o resultado acabou por ser o menos
importante.
Com
a mudança no comando técnico os resultados melhoraram e as vitórias começaram a
aparecer. Isso quer dizer que os jogadores assimilaram bem os métodos do novo
treinador?
As mudanças na liderança das
equipas de futebol tendem a trazer algo novo. Uma lufada de ar fresco, que pode
ou não resultar, não é por acaso que se referem a elas como ‘chicotadas psicológicas’.
Foi uma mudança positiva, que claramente trouxe frutos, e que merecia ter sido concluída
com chave de ouro. Nada contra a equipa técnica anterior, bem pelo contrário,
porque acabaram por ter o papel mais duro de todos, sobretudo na fase inicial,
que foi o de construir um grupo totalmente novo, num campeonato que se previa super
exigente.
Continuo
a ser sócio e pagar quotas
Logo após o jogo em São
Miguel, diante do Sporting Ideal, o Presidente Faustino Mestre, dirigiu-se a mim,
convidando-me para permanecer na época seguinte, convite que recebi com extremo
agrado, e ao qual pedi tempo para pensar. Apesar do ano muito produtivo, quer
do ponto de vista desportivo, mas sobretudo do ponto de vista pessoal, entendi após
muito reflectir, que não estavam reunidas as condições para a continuidade.
Pelo menos, para uma continuidade que eu gostaria que fosse de grande
estabilidade e de vitórias. E, essa, não senti que estivesse garantida, por um
sem número de coisas que, para mim, fariam e farão sempre toda a diferença.
Adoro o clube. A quem sou grato pela oportunidade, em particular ao Presidente
Faustino que, com mais ou menos esforço, nunca deixou que nos faltasse nada e,
apesar de ser esta já a minha terceira passagem por esta casa, sinto e senti
que a minha ideia de projecto de futuro não estava alinhada com a do clube.
Continuo e continuarei a ser sócio e a pagar as minhas quotas, mas infelizmente
temos de seguir caminhos diferentes.
Que
objectivo tem para o futuro?
Tal como os jogadores e
equipa técnica, também os restantes elementos da estrutura saíram valorizados.
Desde o corpo medico, à Direcção Desportiva, da qual fazia parte juntamente
com o meu parceiro de guerra, o Fernando Vicente. Os convites e propostas
acabaram por chegar também até nós, algo que muito me orgulha e satisfaz. O
futuro passará claramente pela área da Direcção Desportiva e/ou Scouting, e em
breve será́ tornado público. Em jeito de despedida, uma palavra para a família
do Sr. Jorge Luís, antigo dirigente do Grupo Desportivo Fabril, que nos deixou há́
poucas semanas e a quem gostaria de prestar a minha homenagem pela forma como
me recebeu, acolheu e sempre tratou. Um verdadeiro Dirigente. O verdadeiro
esteio do clube até então, que partiu cedo demais, e que dias antes me havia
ligado para saber da disponibilidade para irmos almoçar. Ficam as memórias.
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