Por
Ricardo Clemente…
O
FUTEBOL AO LONGO DOS ANOS E A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE NA FORMAÇÃO DOS
JOGADORES
Ricardo Clemente |
Quando falamos de futebol, o que nos vem à mente são os craques, os jogadores mais marcantes, sem dúvida.
Em toda a história do futebol, vemos jogadores de grande qualidade, de décadas
totalmente diferentes, como ídolos, falamos por exemplo de Eusébio, Van Basten,
Johan Cruyff, Maradona, Roberto Baggio, Ronaldinho Gaucho, Messi e Cristiano
Ronaldo, entre outros...
O que os diferenciava era a sua criatividade e a forma como esta se misturava com a intensidade e velocidade.
Falando de Ronaldinho, o futebol espectáculo da década passada; de Eusébio da Silva Ferreira, a velocidade e a
forma como finalizava. Hoje temos os mágicos Cristiano Ronaldo e Leonel Messi, chamados
jogadores de outro Mundo, devido à sua criatividade e à naturalidade como
colocam os seus skills no jogo.
No futebol actual, há cerca de 5 anos para cá, que se vê é um futebol mais
colectivo, eficaz e “seco”.
Os clubes na sua maioria, na formação, pouco ou nada
puxam pelas qualidades individuais dos seus jovens, alguns copiando metodologias
como se não existissem mais formas.
Sendo a meu ver um futebol de “ MATRAQUILHOS HUMANOS”, não
existe brilho, nem a intensidade que havia, será que voltamos a ver Cristianos
Ronaldos portugueses? Talvez se as mentalidades dos chamados especialistas do futebol,
evoluírem e tornarem o futebol um jogo livre e não um padrão supra financeiro.
Vocês perguntam o que quero dizer com padrão supra financeiro? Eu explico, é a
formação de jogadores que se integram em qualquer estilo de jogo, em qualquer
equipa, ou seja, formação de jogadores comuns para todos, o que simboliza um
maior número de vendas.
Para mim o futebol sem criatividade não é futebol, é um jogo de Matraquilhos.
Comparar Cristiano Ronaldo, Messi, Ronaldinho, a outros jogadores que partem destas formações actuais que podemos observar, é Comparar o Lamborghini a um mais comercial. O primeiro, com mais qualidade, supera em todos os aspectos, mas os segundos vendem-se mais facilmente. Uma equipa que pense em fazer Cristianos Ronaldos verdadeiros, sabe que tem de evoluir o potencial e tem poucas vendas, mas uma equipa que faça um jogador comum, vende a todas as equipas.
Digo-vos que já vi (Des) Treinadores, a matar qualidades
individuais de jogadores para estes poderem jogar em todas as posições.
Podemos observar tudo o que transmito neste artigo, no Euro 2020, onde o melhor
marcador obteve apenas 5 golos…
A maioria dos golos foram marcados de bola parada, o que significa que não havendo
criatividade, os jogadores não tiram partido da magia do jogo e não se
enfrentam uns aos outros, sendo um embate coletivo.
Com todo o respeito pelos intervenientes, os jogos de Portugal dão-me sono, há
oportunidades flagrantes, mas os jogadores não rematam, querem entrar aos
passes para dentro da baliza com a bola. De longe a longe, vê-se um que remata
de longe e faz um grande golo.
Sou treinador em progressão de carreira, tenho o UEFA B ainda, mas posso
afirmar aqui com todos os colegas e amigos, que acompanham ou acompanharam as
minhas equipas, é raro o jogador que com oportunidade não remata.
Sendo o meu clube de coração o Real Madrid, respeito todos os adversários, mas posso afirmar que desde que o grande mister Pepe Guardiola, colocou o tiki-taka e os novos treinadores seguem esse parâmetro, nunca vi um jogo completo do Barcelona porque adormeço, só me aguentava quando jogavam Real Madrid x Barcelona, devido à intensidade e velocidade imposta pelo Real obrigando o Barça a reagir da mesma forma.
A formação de jovens jogadores tem melhorado bastante a nível pedagógico, também por parte dos treinadores que os acompanham e
dos coordenadores, mal pagos...
“Costuma-se dizer um bom mestre, faz um bom aluno.”
Nas décadas anteriores, os jogadores jogavam com paixão, apesar dos bons
salários. Hoje em dia, ocupam espaços dentro de campo e andam por ali a trocar
a bola , parecendo que ainda estão na fase da formação passa e desmarca.
Dou-vos o exemplo de Ronaldinho, quando usava os seus skills, mesmo que
corresse mal nada lhe tirava a felicidade, o próprio Cristiano, são jogadores
que jogam felizes, pelo gosto ao futebol.
A maioria dos jogadores de hoje, não vou dar exemplos para não cair em constrangimentos, jogam por jogar, para ganhar dinheiro, tal como irmos para um trabalho e pronto, tem que ser. São autênticos mercenários sem opinião própria, movidos pelos seus agentes desportivos ou empresários como quiserem afirmar.
O que será do futebol que conhecemos daqui a uns anos? Será que caminhamos para o fim da modalidade?
Agora até já consideram desporto a E-Sports. Enfim…
Concluo este artigo com as melhores das intenções para quem o ler reflectir e
pensar. Estamos no caminho certo?
“Treinador não é o que imita, mas o que dentro da metodologia do clube que
representa, é criador do seu trabalho”
Veremos no momento em que o mais importante da carreira do jogador é a formação
e temos os seus mestres (treinadores) a receberem migalhas de 150€ a 200€ ,
quando têm cursos que custam entre os 660€ e os 3500€.
Para finalizar deixo a questão à ANTF e à FPF, porque não oficializar a
profissão de treinador de futebol, que na sua vertente é um professor, com
salários tabulados consoante o curso realizado, tendo estes a oportunidade de
se dedicarem a 100% ao trabalho que os faz felizes, em vez de irem de forma escravatória,
fazerem o que gostam por uma migalha?
Reflictam...
Desejo a todos uma época 2021/2022 com muito sucesso.
Agradecimentos:
Obrigado a quem me apoia, são vocês que me motivam quer dentro quer fora dos relvados, à minha esposa que é incondicional no seu apoio, ao Mário Barradas meu colega de trabalho, à equitadora Filipa Canelas Pinto e Paco Nieves do Centro Equestre Quinta da Alorna em Almeirim que têm contribuido imenso para melhorar a nível psicológico, físico e equilíbrio emocional através da equitação, César Gomes que para mim não tem adjectivos para descrever e a todos os amigos, familiares, treinadores que todos os dias me incentivam a continuar de forma incansável.
Agradeço a oportunidade da publicação deste artigo ao José Pina (Jornal de
Desporto), Muito Obrigado
Ricardo Clemente.
Treinador de Futebol
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