Presidente
do Racing Power Football Club…
“É DE LAMENTAR QUE A FPF VEJA SÓ OS INTERESSES DAS EQUIPAS DA LIGA
BPI E DAS SELECÇÕES NACIONAIS”
Em entrevista ao Jornal de Desporto, o presidente do Racing Power Football Club, Nuno Painço, não poupa críticas à Federação Portuguesa de Futebol pela forma como tem vindo a gerir as competições nacionais, e levanta algumas questões pertinentes…
Qual a sua opinião sobre a decisão da FPF ter adiado, sem reagendamento, a eliminatória da Taça de Portugal que estava programada para este fim-de-semana?
É de lamentar que a FPF veja só os interesses das equipas da Liga BPI e das selecções nacionais femininas e não tenha qualquer consideração pelas equipas da 2.ª e 3.ª divisão nacional. Como sabe, as únicas competições organizadas pela de FPF de futebol 11 que foram suspensas, foram as competições da 2.ª e 3.ª divisão nacional de futebol feminino, porque não são consideradas competições equiparadas a profissionais, mas para poderem disputar a Taça de Portugal já se encontram dentro do estipulado do Comunicado Oficial n.º 301 datado de 14 de Janeiro do corrente ano, que é uma competição equiparada a profissional. Mas, como a Taça de Portugal nunca foi suspensa, mas sempre adiada com novas datas, obrigou-nos a que tivéssemos sempre de continuar a treinar, até porque o nosso adversário na próxima eliminatória é uma equipa da Liga BPI que continuou a disputar o seu campeonato, mantendo sempre os seus índices competitivos e psicológicos ao mais alto nível. Sabemos que no futebol feminino começam a aparecer também os interesses mediáticos de direitos desportivos, como as transmissões televisivas e contractos com patrocinadores, daí terem já anunciado o dia da final e local. Mas, das duas uma, ou dão a prova como nula ou terão de cumprir o Regulamento.
Jogo de interesses, desleal e discriminatório
Que repercussão tem tido esta situação de incerteza na
reparação da equipa, em termos globais?
Tem sido difícil manter o foco das atletas, porque treinar não é o mesmo que competir. Somos uma equipa semi-profissional, metade das atletas do plantel são profissionais, têm uma rotina de profissionalização que ainda não existe muito em Portugal, e, que, pelos vistos, quem tutela o futebol feminino, não quer que exista. A concentração, a disponibilidade física, o foco, a mentalidade ganhadora que demorou adquirir, começa a desaparecer, o ritmo competitivo é diferente, e as lesões aparecem do nada. Metade das atletas estão longe de casa e das suas famílias, alguém se preocupou com estas atletas, sem ser os clubes? A tão falada estrutura do futebol feminino da FPF preocupou-se com estas atletas e com o momento difícil que estão atravessar, por não terem competição? As culpas são sempre do Governo e da DGS. Como tive a oportunidade de comunicar aos meus parceiros dirigentes associativos dos clubes que participam na Taça de Portugal, não somos burros nem tolos. Se reparar na convocatória, tanto para a selecção A como agora na B, quantas atletas de clubes da 2.ª e 3.ª divisão foram convocadas? Será que estas atletas não têm o mesmo direito de sonhar em representar as selecções nacionais? Não contem connosco para fazer parte deste jogo de interesses, desleal e discriminatório.
Não viemos para andar a brincar ao futebol
Já há alguma data prevista para a retoma do campeonato nacional da 3.ª divisão?
Quando fomos convocados para uma reunião no dia 19 de Março pela FPF, a maioria dos clubes ia com elevadas expectativas e nós não fugíamos à regra, sobre o que nos iriam transmitir para quando o regresso das competições, mais concretamente o nosso campeonato e qual o formato que iria ser implementado, se continuava o mesmo, se iria haver novo modelo. Ora bem, as únicas certezas transmitidas foram que a época desportiva termina dia 30 de Junho e que a prioridade são o término dos campeonatos e nada mais. Como é possível que com o enquadramento que o Governo transmitiu do desconfinamento, ainda não tenha sido possível a FPF apresentar aos clubes o que pretende fazer relativamente às competições que estão suspensas. Não podemos estar à espera duas ou três semanas para vermos como se encontra o país ao nível da pandemia, para determinarem seja aquilo que for, temos de estar preparados, com ou sem pandemia. Temos um investimento de meio milhão de euros, com um projecto avaliado para o futebol feminino em 6 milhões, não viemos para andar a brincar ao futebol ou porque gostamos de gastar dinheiro. Quando o Sr. Vice-presidente da FPF, José Couceiro, na dita reunião, na sua intervenção, disse que não é por se fazer barulho que se atinge alguma coisa, ou esteve distraído ou não ligou ao futebol feminino, porque durante a época transacta quem fez mais barulho viu os seus intentos e objectivos serem alcançados.
Nunca falhámos com nenhum compromisso
O vosso projecto continua a merecer o apoio do investidor, apesar de todas estas contrariedades?
Quando
decidimos investir na marca, e os investidores terem preferido criar um clube
de raiz em vez de investir em clubes que nada lhes dizia, ou adquirir os
direitos desportivos, como alguns fizeram, sabiam o risco que estavam a
correr. Teríamos de começar do zero. Mesmo em estado pandémico, não
falhámos com nenhum compromisso. Os nossos investidores estiveram sempre
presentes, nunca se afastaram do grupo de trabalho, mantendo sempre os
seus compromissos com o clube. Cada vez mais os clubes e o futebol
feminino precisam de investidores para que possa haver evolução. Esses investidores
devem ser respeitados, acarinhados e serem bem tratados, porque é o
dinheiro deles que permite que muitas atletas tenham a hipótese de sonhar com a
profissionalização.
Todos têm de ser tratados de igual modo
Há algo mais que queira acrescentar?
Para
terminar, penso que as pessoas que têm a responsabilidade de gerir o futebol,
tanto a nível associativo como federativo, estão bastante desgastados com a
crise que atravessámos e estamos atravessar. Começa a haver pouca
visão, tanto do presente como do futuro, nunca em estado de pandemia se
devia ter criado uma nova competição como a 3.ª divisão nacional, mas ter
mantido o formato anterior, com a Liga BPI e 2.ª Divisão Nacional, e só
depois de a pandemia amainar, então sim preparar uma nova
competição. Os dirigentes associativos e federativos são eleitos pelos clubes,
as Federações e Associações existem e dão emprego a muita gente porque os clubes
existem. Por isso, todos têm de ser tratados de igual modo, sejam grandes
ou pequenos, tenham mais ou menos votos. Tanto se ganha como se perde,
por um voto.
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