COSTA DE CAPARICA»» A competição e os efeitos da pandemia - JORNAL DE DESPORTO

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

COSTA DE CAPARICA»» A competição e os efeitos da pandemia

 


Nuno Ferreira, treinador da equipa…


 

“ESTAMOS PREPARADO PARA TRÊS SITUAÇÕES DIFERENTES”

 

 

Três pré-épocas, semanas de trabalho atípicas, jogos de manhã e treinadores a orientarem as equipas através do computador, à distância, são histórias que ficarão guardadas para sempre.  
 

 

 


O regresso em condições “normais”, não haver mais campeonato em 20/21 e regresso em condições semelhantes às que tivemos até ao último mês de Dezembro, são as três situações a que se refere Nuno Ferreira. Aquela que o treinador dos Pescadores mais gostava que acontecesse era a terceira hipótese mas para isso terá que haver um apressar da competição com jogos a meio da semana e ao fim de semana.



Na entrevista concedida ao nosso jornal, Nuno Ferreira emite a sua opinião sobre a forma como o campeonato tem decorrido, sobre as dificuldades sentidas para gerir a situação, sobre a diferença de jogos entre as várias equipas, sobre a desmotivação que existe entre os jogadores e sobre aquilo que poderá acontecer em relação à retoma da competição.


                           

Qual a sua opinião sobre a forma como o campeonato tem decorrido?

Antes de responder à sua pergunta, já tive a oportunidade no passado de explanar a minha opinião (exclusivamente pessoal) em relação à realização do nosso campeonato e não queria deixar de reforçar que desde o primeiro dia que considero que não deveria haver competições seniores a nível distrital. É uma opinião pessoal, reforço, fundamentada no facto de considerar que não existiriam condições para que o campeonato pudesse decorrer de forma razoavelmente normal. No entanto, a partir do momento em que os órgãos oficiais decidiram que haveria campeonato (não condeno a decisão, aliás, compreendo-a) nós quisemos trabalhar para estar o melhor possível nessa mesma competição. Considero apenas que, uma vez que é para se jogar, uma vez que é para haver campeonato, uma vez que existe competição, então todos podemos melhorar. O campeonato poderia ter iniciado mais cedo. Nas semanas menos críticas, poderia ter havido mais jogos a meio da semana e ao fim de semana. A probabilidade de contágio iria aumentar? Sim! Então nem competição deveria haver. Mas se há, então vamos melhorar todos e jogar. O nosso clube orgulhosamente tomou todas as medidas necessárias para minimizar os riscos de contágio. Tivemos 2 atletas infectados, 3 treinadores infectados e alguns elementos em isolamento por prevenção. Felizmente nenhum dos casos teve origem no clube, todos tiveram origem em casa. Temos histórias para recordar eternamente. Três pré-épocas. Semanas de trabalho sempre atípicas. Jogos de manhã. Cheguei a orientar a equipa à distância via Zoom, no jogo frente ao Moitense. São histórias que ficarão no percurso de todos.


 


Tem sido complicado gerir a situação?

Bastante complicado. Mais do que complicado diria desafiante. Em nenhum livro nos ensinam a gerir uma equipa em tempo de pandemia. Em nenhuma aula há um professor que nos diga o que fazer quando isto acontece. Não há nenhum treinador que por mais experiência que tenha (como jogador e/ou treinador) que estivesse preparado para esta situação. A verdade, reforço, é que tem sido bastante desafiante. Os resultados nem sempre demonstram a forma como as equipas trabalham, mas no nosso caso, para além do compromisso e qualidade dos atletas, os resultados foram reflectindo essa forma de estar e de ser em campo. É extraordinário quando temos um plantel com 25 jogadores que apresenta uma média de assiduidade de 21 atletas por treino. Para quem trabalha ou trabalhou a nível distrital, reconhece o quão isto é fantástico. Acrescentando ao desafio habitual que é trabalhar no futebol distrital, a pandemia afasta ainda mais os atletas. Nesse caso, os nossos são inexcedíveis. Verdadeiros profissionais na ascensão da palavra. Um orgulho enorme poder trabalhar com este grupo.


 

Como é sabido, nem todos os clubes têm o mesmo número de jogos. Que análise faz a este facto?

Infelizmente sabíamos que este era um risco que todos corríamos. Na minha opinião, perante a situação pandémica que vivemos, não existem culpas. O jogo “A” não deixou de acontecer por culpa da equipa “B”. Houve jogos adiados apenas e só devido ao Covid. Todos os treinadores e atletas que se viram privados de competir, com toda a certeza viveram um sentimento de frustração bastante acentuado. Somos uma das equipas com mais jogos na competição, por pura sorte. Como referi, já tivemos alguns casos positivos no grupo, mas sempre que aconteceu, por algum motivo estivemos antes parados e afastados do trabalho de campo, não tendo havido a necessidade de toda a equipa estar em quarentena. Como referi, por pura sorte! Ainda em pequeno me ensinaram que “candeia que vai à frente, ilumina duas vezes” e correr de trás para a frente é sempre mais difícil. Honestamente, tenho dificuldade em posicionar-me no lugar de colegas que apenas têm um jogo realizado, mas sem sombra de dúvida, nutro uma enorme empatia por essa situação. Andamos todos neste “nosso” futebol por prazer pelo jogo. Não o podermos fazer é frustrante. Independentemente do que acontecer, espero que em momento algum uma equipa seja promovida ou despromovida sem que a competição tenha terminado. Em vários contextos da minha vida, privilegio a organização e a conversa antes de algo acontecer, por mais que isso nos possa magoar, no entanto ver alguém ganhar uma maratona a 10km de acabar é difícil. Recordo a situação do Quinta do Conde o ano passado! Passaram a grande maioria dos seis meses de competição em lugar de subida, três dias depois de pararem os campeonatos havia um 1.º x 2.º e o Qt. do Conde em condições normais ganharia o jogo que tinha em agenda... e não subiu! Acho de uma injustiça tremenda. Espero que isso não venha a acontecer este ano. Até porque uma amostra de 5 jogos (no máximo) é pouco ou nada elucidativa, portanto isso nunca se poderia considerar.


 


Relativamente aos jogadores nota que tenha havido alguma desmotivação?

Naturalmente existe alguma desmotivação da parte de todos. Sentimos a distância dos nossos adeptos que tão importantes têm sido ao longo da nossa caminhada. O facto dos nossos familiares não estarem por perto também magoa os nossos jogadores. Por um lado, existe um orgulho enorme por termos conseguido fazer um percurso acima das expectativas nos meses em que houve competição e isso traz uma motivação extra. Por outro lado, treinar sem competir como aconteceu na grande maioria das nossas semanas, traz dificuldades de motivação garantidamente. Há sensivelmente uma semana, tive a oportunidade de ouvir uma entrevista com um treinador com quem tive o privilégio de trabalhar há uns anos atrás, Renato Paiva, e este referia que muitas vezes é o processo e a forma como o lideramos enquanto treinadores que motiva os nossos jogadores, não nos devendo agarrar a factores extra para a desmotivação dos nossos jogadores. Se nós treinadores conseguirmos encontrar as estratégias necessárias para os motivar, não vai ser o Covid que os vai afastar do compromisso e do empenho. Sem dúvida nenhuma que tudo fica mais fácil com a qualidade de Homens com quem trabalhamos!


 

Acredita que o campeonato vai mesmo chegar ao fim?

Não sou muito de fazer futurologia. Gosto de organizar o nosso trabalho e preparar vários cenários. Neste momento estamos preparados para três situações diferentes: regresso em condições “normais”; não haver mais campeonato em 20/21; regressarmos em condições semelhantes às que tivemos até ao fim de 2020. Seja o que for que vier a acontecer, aquela que merece o nosso maior cuidado e atenção é a terceira hipótese. No caso de isso acontecer, havendo condições para tal, terá de haver um apressar da competição, com jogos a meio da semana e ao fim de semana como disse anteriormente, nós queremos jogar. Em conclusão, disse-o no início da entrevista... Não deveria ter havido competição desde o início, não acredito que haja condições para que termine.


 

Qual a sua maior preocupação, neste momento?

Em termos pessoais, a minha grande preocupação está relacionada com a minha família. Os meus pais, a minha mulher e os meus filhos. Essa é garantidamente a minha grande preocupação pessoal neste momento e mantê-los a todos o mais protegidos possível. Em termos profissionais, na qualidade de professor e treinador, preocupa-me o futuro e tudo o que está a ser perdido nestes meses. Sinto que as próximas gerações irão sofrer com a ausência de competição e a ausência de partilhas entre eles. Cá estaremos todos, espero eu, para procurar minimizar os prejuízos que esta pandemia terá. O futebol é importante, para nós que o vivemos diariamente, é o nosso “mundinho”, mas será garantidamente algo secundário perante o que vivemos actualmente.

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