Nuno Ferreira, treinador da equipa…
“ESTAMOS PREPARADO PARA TRÊS SITUAÇÕES DIFERENTES”
Três pré-épocas, semanas de trabalho atípicas, jogos de manhã e treinadores a orientarem as equipas através do computador, à distância, são histórias que ficarão guardadas para sempre.
O regresso em condições “normais”, não haver mais campeonato em 20/21 e regresso em condições semelhantes às que tivemos até ao último mês de Dezembro, são as três situações a que se refere Nuno Ferreira. Aquela que o treinador dos Pescadores mais gostava que acontecesse era a terceira hipótese mas para isso terá que haver um apressar da competição com jogos a meio da semana e ao fim de semana.
Na entrevista concedida ao nosso jornal, Nuno Ferreira
emite a sua opinião sobre a forma como o campeonato tem decorrido, sobre as
dificuldades sentidas para gerir a situação, sobre a diferença de jogos entre as
várias equipas, sobre a desmotivação que existe entre os jogadores e sobre aquilo que
poderá acontecer em relação à retoma da competição.
Qual
a sua opinião sobre a forma como o campeonato tem decorrido?
Antes de responder à sua pergunta,
já tive a oportunidade no passado de explanar a minha opinião (exclusivamente
pessoal) em relação à realização do nosso campeonato e não queria deixar de
reforçar que desde o primeiro dia que considero que não deveria haver
competições seniores a nível distrital. É uma opinião pessoal, reforço,
fundamentada no facto de considerar que não existiriam condições para que o
campeonato pudesse decorrer de forma razoavelmente normal. No entanto, a partir
do momento em que os órgãos oficiais decidiram que haveria campeonato (não
condeno a decisão, aliás, compreendo-a) nós quisemos trabalhar para estar o
melhor possível nessa mesma competição. Considero apenas que, uma vez que é
para se jogar, uma vez que é para haver campeonato, uma vez que existe competição,
então todos podemos melhorar. O campeonato poderia ter iniciado mais cedo. Nas
semanas menos críticas, poderia ter havido mais jogos a meio da semana e ao fim
de semana. A probabilidade de contágio iria aumentar? Sim! Então nem competição
deveria haver. Mas se há, então vamos melhorar todos e jogar. O nosso clube
orgulhosamente tomou todas as medidas necessárias para minimizar os riscos de
contágio. Tivemos 2 atletas infectados, 3 treinadores infectados e alguns
elementos em isolamento por prevenção. Felizmente nenhum dos casos teve origem
no clube, todos tiveram origem em casa. Temos histórias para recordar
eternamente. Três pré-épocas. Semanas de trabalho sempre atípicas. Jogos de
manhã. Cheguei a orientar a equipa à distância via Zoom, no jogo frente ao
Moitense. São histórias que ficarão no percurso de todos.
Tem sido complicado gerir a situação?
Bastante complicado. Mais do que complicado diria desafiante. Em nenhum livro nos ensinam a gerir uma equipa em tempo de pandemia. Em nenhuma aula há um professor que nos diga o que fazer quando isto acontece. Não há nenhum treinador que por mais experiência que tenha (como jogador e/ou treinador) que estivesse preparado para esta situação. A verdade, reforço, é que tem sido bastante desafiante. Os resultados nem sempre demonstram a forma como as equipas trabalham, mas no nosso caso, para além do compromisso e qualidade dos atletas, os resultados foram reflectindo essa forma de estar e de ser em campo. É extraordinário quando temos um plantel com 25 jogadores que apresenta uma média de assiduidade de 21 atletas por treino. Para quem trabalha ou trabalhou a nível distrital, reconhece o quão isto é fantástico. Acrescentando ao desafio habitual que é trabalhar no futebol distrital, a pandemia afasta ainda mais os atletas. Nesse caso, os nossos são inexcedíveis. Verdadeiros profissionais na ascensão da palavra. Um orgulho enorme poder trabalhar com este grupo.
Como
é sabido, nem todos os clubes têm o mesmo número de jogos. Que análise faz a
este facto?
Infelizmente sabíamos que
este era um risco que todos corríamos. Na minha opinião, perante a situação
pandémica que vivemos, não existem culpas. O jogo “A” não deixou de acontecer
por culpa da equipa “B”. Houve jogos adiados apenas e só devido ao Covid. Todos
os treinadores e atletas que se viram privados de competir, com toda a certeza
viveram um sentimento de frustração bastante acentuado. Somos uma das equipas
com mais jogos na competição, por pura sorte. Como referi, já tivemos alguns
casos positivos no grupo, mas sempre que aconteceu, por algum motivo estivemos
antes parados e afastados do trabalho de campo, não tendo havido a necessidade
de toda a equipa estar em quarentena. Como referi, por pura sorte! Ainda em pequeno
me ensinaram que “candeia que vai à frente, ilumina duas vezes” e correr de
trás para a frente é sempre mais difícil. Honestamente, tenho dificuldade em
posicionar-me no lugar de colegas que apenas têm um jogo realizado, mas sem
sombra de dúvida, nutro uma enorme empatia por essa situação. Andamos todos
neste “nosso” futebol por prazer pelo jogo. Não o podermos fazer é frustrante.
Independentemente do que acontecer, espero que em momento algum uma equipa seja
promovida ou despromovida sem que a competição tenha terminado. Em vários
contextos da minha vida, privilegio a organização e a conversa antes de algo
acontecer, por mais que isso nos possa magoar, no entanto ver alguém ganhar uma
maratona a 10km de acabar é difícil. Recordo a situação do Quinta do Conde o
ano passado! Passaram a grande maioria dos seis meses de competição em lugar de
subida, três dias depois de pararem os campeonatos havia um 1.º x 2.º e o Qt. do
Conde em condições normais ganharia o jogo que tinha em agenda... e não subiu!
Acho de uma injustiça tremenda. Espero que isso não venha a acontecer este ano.
Até porque uma amostra de 5 jogos (no máximo) é pouco ou nada elucidativa,
portanto isso nunca se poderia considerar.
Relativamente aos jogadores nota que tenha havido alguma desmotivação?
Naturalmente existe alguma desmotivação da parte de todos. Sentimos a distância dos nossos adeptos que tão importantes têm sido ao longo da nossa caminhada. O facto dos nossos familiares não estarem por perto também magoa os nossos jogadores. Por um lado, existe um orgulho enorme por termos conseguido fazer um percurso acima das expectativas nos meses em que houve competição e isso traz uma motivação extra. Por outro lado, treinar sem competir como aconteceu na grande maioria das nossas semanas, traz dificuldades de motivação garantidamente. Há sensivelmente uma semana, tive a oportunidade de ouvir uma entrevista com um treinador com quem tive o privilégio de trabalhar há uns anos atrás, Renato Paiva, e este referia que muitas vezes é o processo e a forma como o lideramos enquanto treinadores que motiva os nossos jogadores, não nos devendo agarrar a factores extra para a desmotivação dos nossos jogadores. Se nós treinadores conseguirmos encontrar as estratégias necessárias para os motivar, não vai ser o Covid que os vai afastar do compromisso e do empenho. Sem dúvida nenhuma que tudo fica mais fácil com a qualidade de Homens com quem trabalhamos!
Acredita
que o campeonato vai mesmo chegar ao fim?
Não sou muito de fazer
futurologia. Gosto de organizar o nosso trabalho e preparar vários cenários.
Neste momento estamos preparados para três situações diferentes: regresso em
condições “normais”; não haver mais campeonato em 20/21; regressarmos em condições
semelhantes às que tivemos até ao fim de 2020. Seja o que for que vier a
acontecer, aquela que merece o nosso maior cuidado e atenção é a terceira
hipótese. No caso de isso acontecer, havendo condições para tal, terá de haver
um apressar da competição, com jogos a meio da semana e ao fim de semana como
disse anteriormente, nós queremos jogar. Em conclusão, disse-o no início da
entrevista... Não deveria ter havido competição desde o início, não acredito
que haja condições para que termine.
Qual
a sua maior preocupação, neste momento?
Em termos pessoais, a minha
grande preocupação está relacionada com a minha família. Os meus pais, a minha
mulher e os meus filhos. Essa é garantidamente a minha grande preocupação
pessoal neste momento e mantê-los a todos o mais protegidos possível. Em termos
profissionais, na qualidade de professor e treinador, preocupa-me o futuro e
tudo o que está a ser perdido nestes meses. Sinto que as próximas gerações irão
sofrer com a ausência de competição e a ausência de partilhas entre eles. Cá
estaremos todos, espero eu, para procurar minimizar os prejuízos que esta
pandemia terá. O futebol é importante, para nós que o vivemos diariamente, é o
nosso “mundinho”, mas será garantidamente algo secundário perante o que vivemos
actualmente.
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