Por Hugo Pascoal, Football Scout / Coach UEFA B Licence…
O TRABALHO FEITO NAS
CATEGORIAS DE BASE TEM SERVIDO PARA AUMENTAR O NÍVEL QUALITATIVO DE CLUBES E
SELECÇÕES NACIONAIS
Artigo publicado na Viva Football, revista indiana de futebol
Portugal é, neste momento, uma das referências mundiais ao nível do seu futebol, tanto na base como no topo. O trabalho árduo e difícil efectuado nas últimas três décadas começa, agora, a dar os seus frutos desportivos. Tem sido um trabalho rigoroso e metódico feito por agentes desportivos e clubes que gravitam em torno dos talentos que vão emergindo com impressionante regularidade e onde se pode constatar a qualidade individual que faz projectar para outra dimensão, outro patamar.
De Eusébio a Luís Figo
ou Paulo Futre, passando pela actual e cintilante estrela mundial, Cristiano
Ronaldo, Portugal começa a ser um exemplo e uma marca determinante de qualidade
nos seus jogadores e clubes. A exemplo do topo do futebol sénior, igualmente as
equipas nacionais mais jovens representam o país com regularidade nas fases
finais de campeonatos da Europa ou do Mundo. O trabalho feito nas categorias de
base tem servido para aumentar o nível qualitativo de clubes e selecções
nacionais.
A melhoria das estruturas físicas desportivas, a qualidade individual e formativa dos treinadores e o talento dos jogadores tem sugerido ao mundo uma mudança de paradigma que tem levado as equipas ao sucesso. As equipas nacionais presentes nas fases finais das competições, os escalões mais jovens de clubes a brilhar na Youth League da Europa (FC Porto vencedor e SL Benfica em três finais da competição) e a qualidade das academias, um pouco por todo o país, fazem pensar que o salto qualitativo é definitivo.
Os principais clubes
trabalham já com enorme nível qualitativo. SL Benfica, FC Porto, Sporting CP,
SC Braga ou Vitória SC, entre outros exemplos, possuem infra-estruturas de
óptima qualidade, treinadores que gradualmente têm desenvolvido a sua própria
formação em competição e jovens talentos dispostos a chegar às primeiras
equipas. Não tem sido um caminho fácil atendendo aos percalços financeiros que
Portugal, enquanto país, tem sofrido nos últimos dez a quinze anos.
O nosso potencial é de
grande crescimento. Cristiano Ronaldo representa o topo, alicerçado em
jogadores como Bernardo Silva, Renato Sanches, Bruno Fernandes, Diogo Jota,
Rúben Dias ou Rui Patrício. Há poucos anos houve Figo, Rui Costa, Fernando
Couto ou Vítor Baía entre outros. Estas certezas de qualidade colocam Portugal
no topo como país formador de excelência e qualidade certificada a nível
mundial.
O alicerce de todo este edifício formativo são os campeonatos nacionais e regionais. As ligas nacionais jovens estão divididas por divisões representando diferentes patamares competitivos. Os campeonatos regionais são, na maior parte dos casos, o início do aparecimento dos principais talentos que surgem em equipas de menor dimensão mas que acabam por entrar no filtro, na rede, no radar de captação das principais equipas.
Portugal é um país
vendedor, exportador de talentos. Como país periférico na Europa, a
subsistência dos principais clubes passa pela venda dos melhores jogadores. O
processo é simples: aparecem e destacam-se pela sua qualidade em equipas menores,
dão o salto pubertário, desenvolvem-se cognitivamente e futebolisticamente numa
equipa maior. Normalmente estas equipas nacionais de elevada dimensão possuem
condições logísticas e potencial humano para desenvolver o atleta. Têm,
igualmente, algum poder de retenção vendendo, mais tarde, o atleta pelo seu
potencial ou, até mesmo, pelo rendimento que apresenta.
Todavia, ainda está por
decifrar o perverso “efeito Covid-19” no futebol português. É inegável que tal
está a deixar uma marca profunda. As competições teimam em arrancar, algumas
avançam lentamente. Portugal, um país que vende talento para as principais
ligas europeias, vai sentir dificuldades em vender por valores altos alguns dos
seus principais jogadores. O mercado não está inflacionado. Bem pelo contrário,
parece haver alguma aversão aos grandes negócios dos últimos anos. Os estádios
estão, ainda, sem ou com pouco público o que reduz fortemente a receita
financeira. A venda do passe de atletas é uma alavanca financeira para
equilibrar as contas.
Os principais clubes
continuarão a produzir talento em quantidades quase industriais. Mas jogadores
como Ronaldo serão cada vez mais uma miragem, uma raridade. Num momento recente
em que apontou 101 golos pela equipa nacional cabe a todos os responsáveis
desportivos reflectir se o modelo de formação actual é o ideal ou se será
necessário ajustar a esta nova realidade que, infelizmente, presentemente se
vive. Portugal estará sempre na linha da frente para dar um sinal de partida.
Hugo Pascoal
Football Scout / Coach UEFA B Licence
Portugal
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