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sábado, 5 de setembro de 2020

FUTEBOL DE FORMAÇÃO»» Para quando o regresso?

 

Gonçalo Cruz coloca o dedo na ferida…

 

“SE NÃO ESTAMOS DE ACORDO COM A SITUAÇÃO NÃO PODEMOS PERMANECER IMPÁVIDOS E SERENOS”

 

Cientificamente está provado que a inactividade física é um importante factor de risco para o desenvolvimento de doenças, como a diabetes, depressão e doenças respiratórias, entre outras.

 



Gonçalo Cruz, licenciado em Ciências do Desporto e diplomado com o curso de treinador UEFA C, actualmente a exercer funções na equipa de juniores do Comércio Indústria, lançou recentemente nas redes sociais o movimento “deixa jogar” como sinal de descontentamento pelo que se está a passar nos escalões de formação que continuam sem luz verde para a retoma da actividade desportiva. 
 

O assunto está a gerar controversa porque há quem considere uma medida acertada por se estar a proteger a saúde dos mais jovens mas há também quem discorde por considerar que a actividade física é igualmente necessária para o desenvolvimento da comunidade, em especial da mais jovem.


Neste sentido o nosso jornal colocou algumas questões a Gonçalo Cruz, que foi também jogador de futebol.


 

Lançou recentemente o movimento “Deixa Jogar”. Com que objectivo?

A ideia surgiu num momento solitário de reflexão e preocupação sobre o futuro não só do futebol de formação mas também de outros desportos que estão na mesma situação que o futebol. As redes sociais são actualmente uma arma muito forte de comunicação e através delas podemos chegar a muitas mais pessoas, esse foi o meu objectivo. Partilhar a minha indignação acerca do tratamento discriminatório que sinto estar o desporto jovem a ser alvo.

 

Que repercussão tem tido. Há muita gente solidária com a iniciativa?

Sim, o feedback de colegas treinadores e de alguns encarregados de educação que partilham da mesma opinião tem sido positivo e têm parabenizado a iniciativa. Fico feliz por sentir que não estou (estamos) sozinho nesta “luta”. Com orgulho recebi mensagens de apoio de pessoas ilustres do nosso desporto como José Boto e Rémulo Jonatas que também aderiram à iniciativa e a partilharam nas suas redes sociais. Sem dúvida que tornaram esta iniciativa mais mediática, o que ajudou a alcançar ainda mais pessoas.


O assunto é de facto pertinente e há muita gente que se interroga por que razão a DGS ainda não autorizou a prática desportiva entre jovens ao contrário do que aconteceu com os Seniores. Que opinião tem sobre isto?

Não existem dados que justifiquem, no meu entender, esta decisão. É uma medida que assenta num conjunto de incoerências e contradições grosseiras que em nada defendem o futuro dos nossos jovens. Já para não falar na incapacidade que a grande maioria dos clubes têm para cumprir com algumas das orientações divulgadas pela DGS. Só quem está no terreno todos os dias sabe destas dificuldades. Em Portugal mais de 400 mil jovens federados estão na eminência de ficar apenas a ver o escalão sénior competir (cheio de condições específicas e extremamente penalizadoras, algo que irá desafiar a sobrevivência de alguns clubes). A minha pergunta é: Que sentido isto faz? Que sentido faz a escola regressar no presente mês de Setembro e o desporto de competição não ter qualquer previsão de retoma, deixando milhares de jovens e encarregados de educação sem resposta. Quanto mais tempo passar, mais difícil será de recuperar.


 

Sabemos que se trata de um caso de saúde pública mas há quem diga que a inactividade física também não é nada benéfica para os jovens. Partilha desta opinião?

Sim, sem dúvida. Existe evidência científica que prova que a inactividade física é um importante factor de risco para o desenvolvimento de doenças, tais como a diabetes, a depressão, as doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e respiratórias. Ou seja, não podemos trocar o certo pelo incerto.


Gonçalo Cruz

Os jovens poderão vir a sofrer algumas consequências no futuro em virtude desta longa paragem?

Sim, claro. Na minha opinião a suspensão do desporto de formação como medida para prevenir a COVID 19 pode vir a ser catastrófica na medida que todos sabemos que o desporto é fundamental para o desenvolvimento físico, intelectual e mental dos jovens. Se olharmos para o desporto de competição outras questões se levantam e todas elas merecem ser analisadas em detalhe. Ora vejamos, o desporto de competição prepara os jovens a saber lidar com momentos de pressão, a saber lidar com a derrota e com a vitória, a saber estar em grupo e a viver numa sociedade, a perceber que tudo na vida se conquista e que nada é garantido. Pensar que acabar/suspender o desporto de competição não é um erro é o maior erro de todos.


No seu entender, o que deveria ser feito para resolver este problema?

Penso que tem de existir coragem. Coragem para se assumir que os riscos da COVID 19 nos jovens são praticamente nulos mas que os riscos da suspensão das suas actividades físicas e das competições podem ser bastante mais e mais graves no futuro. Ou seja, defendo que deverá existir um plano de retoma das actividades e das competições. Tal como todos os outros sectores de actividade, o desporto também precisa de respostas urgentes.


 

No seu clube, o Comércio Indústria, como estão a viver com esta situação. Sente que os jovens anseiam voltar à competição?

O clube está em fase de adaptação a esta “nova realidade” e procura dentro das suas capacidades dar resposta a todas as orientações da DGS e esta é, neste momento, a principal preocupação dos responsáveis do clube. É claro que os nossos atletas e treinadores anseiam impacientemente pelo início das competições, algo que não sabemos quando será. Neste momento a maior dificuldade passa por conseguir manter os atletas, principalmente os mais velhos (Sub-19 e Sub-17), motivados mesmo treinando sem contacto físico e sem competição. No caso de esta situação permanecer por muito mais tempo preocupa-me um possível aumento da taxa de abandono e que com isso se desista de muitos sonhos de criança.

 

Quer acrescentar algo mais ou deixar alguma mensagem sobre o assunto?

Sim. Actualmente estamos mergulhados num clima de medos e incertezas. Muito se fala do “distanciamento físico” mas no que a este tema diz respeito eu apelo não ao distanciamento mas sim à UNIÃO. União das pessoas que discordam das medidas que estão em vigor e que pretendem o regresso do desporto e das competições jovens. Apelo a todos os treinadores, dirigentes, atletas, encarregados de educação, clubes e associações que se UNAM em prol de um bem comum. Se não estamos de acordo com a situação actual, não podemos permanecer impávidos e serenos à espera de respostas de quem até agora nos tem descriminado e não reconhece a devida importância que temos no desenvolvimento dos nossos jovens. Eles também são o futuro de Portugal.

 

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