Esteve 23 épocas consecutivas no topo da arbitragem nacional…
“CHEGUEI
ONDE NUNCA PENSAVA SER POSSÍVEL”
Exibiu as insígnias da FIFA durante cinco anos e actuou em 80 desafios. Catar foi onde a arbitragem o levou mais longe mas no plano internacional o ponto mais alto foi a fase final do Europeu Sub-21, na Dinamarca. Por cá, actuou em nove clássicos entre SL Benfica, FC Porto e Sporting CP e esteve presente numa final da Taça de Portugal.
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jogos depois de iniciar a carreira de árbitro assistente, entre a elite da
arbitragem nacional e internacional, Venâncio Tomé viu travada a sua actuação
oficial nos relvados pela natural imposição do limite de idade.
Aos
45 anos, o empresário de profissão, ainda não caiu em si sobre o fechar de um
ciclo em nome de uma causa que abraçou desde o dia 27 de Novembro de 1993. Daí,
quase 27 anos volvidos, até ao dia 21 de Julho de 2020, altura em que soou o
apito final daquele que foi o seu derradeiro jogo oficial, Venâncio Tomé correu
quilómetros nos ‘pelados’ e relvados do futebol distrital, nacional e em palcos
de eleição no estrangeiro.
Na
hora de olhar para trás, num conjunto de respostas libertadas ao afsetubal.pt,
Venâncio Tomé confessa estar positivamente surpreendido com o percurso que
trilhou, que o levou a longínquas paragens, mas sempre com a dedicação à
arbitragem bem presente.
No âmbito luso, desde
que em 1997 ganhou o estatuto de árbitro assistente de primeira categoria,
registadas que foram 23 épocas consecutivas no topo da arbitragem, o seixalense
Venâncio Tomé contabilizou um total de 684 jogos FPF e LPFP. Desta
significativa quantidade de actuações, nove foram em clássicos entre SL
Benfica, FC Porto e Sporting CP, um dos quais (SLB-FCP), em 2004, naquele que
foi um dos pontos altos da carreira com a prestigiada nomeação para a final da
Taça de Portugal.
Mas, já neste ano de
2020, em Janeiro, Venâncio Tomé foi nomeado para uma meia-final da Taça da
Liga, ficando por concretizar a ambição de participar no jogo de atribuição do
troféu reservado ao futebol profissional.
Nos cinco anos em que
exibiu as insígnias da FIFA, entre 2009 e 2013, foi nomeado para um total de 80
desafios. Catar foi onde a arbitragem o levou mais longe, mas foi a Fase Final
do Europeu Sub-21, em 2011, na Dinamarca, a prova no plano internacional de que
guarda boas memórias, até porque esteve na meia-final e foi o único
representante da arbitragem lusa no evento.
Fora dos relvados,
Venâncio Manuel Raposo Batista Tomé é um dos nomes incontornáveis da história
do Núcleo de Árbitros de Futebol de Almada/Seixal. No mais antigo núcleo de
árbitros de futebol do país, começou a desempenhar cargos no seio dos órgãos
sociais em 1994.
Entre 2006 e 2008
assumiu a presidência da Direcção. Desde 2010 que é o líder da Mesa da
Assembleia Geral.
No âmbito da AF Setúbal
integra o quadro de Observadores de futebol.
Eis a entrevista que
concedeu ao site da AF Setúbal:
A bandeirola está definitivamente
arrumada, no que às provas oficiais diz respeito. Já sente saudades?
Penso que ainda não
percebi bem o que aconteceu, mas quando recomeçarem as competições decerto que
irei ter saudades.
Venâncio Tomé (na foto, à direita) num dos primeiros jogos em que atuou com estatuto de 3.ª categoria nacional |
Que balanço faz a quase três décadas de
uma carreira ligada à arbitragem dentro dos campos de futebol?
O balanço que faço é
muito positivo. Quando tirei o curso não fazia ideia onde me estava a meter,
pois foi apenas para aumentar o meu currículo, mas depois, com o passar do
tempo, fui alcançando várias metas, e cheguei onde nunca pensava ser possível. Cresci
muito como pessoa, como homem, aprendi muito com todos aqueles que me
acompanharam desde o distrital até ao patamar FIFA/UEFA.
Que recordações guarda do primeiro jogo em que actuou?
O meu primeiro jogo foi
na Quinta do Conde, uma partida do escalão de juniores, entre as equipas da AD
Quinta do Conde e do GC Corroios. Era normal começarmos por jogos de camadas
mais jovens, mas naquele fim-de-semana faltou um
colega e chamaram-me a mim para completar a equipa. Estava super nervoso, mas
correu muito bem.
A chegada à primeira categoria nacional de Venâncio Tomé (na foto, à esquerda, com António Costa e Luís Vilhena), aconteceu na época de 1997/98. |
O que o motivou a seguir uma carreira na
arbitragem?
Como já referi, tirei o
curso para acrescentar valor ao meu currículo, estava na área de desporto e
frequentava todo o tipo de formações, até que um dia o meu pai, que tinha um
colega árbitro, me disse que estava a começar um curso, e foi assim…
Completou 23 anos de árbitro assistente na
primeira categoria, de forma consecutiva, e foi internacional. O que significa
este registo?
Esse registo significa
que me dediquei de corpo e alma a uma causa que abracei e, quando assim é, os
resultados surgem naturalmente.
A partir de casa, qual foi a viagem mais
longa que fez para arbitrar uma partida?
A viagem mais longa foi
realizada para arbitrar quatro jogos no Catar. Foi uma experiência
inesquecível.
Qual o jogo em que gostaria de ter atuado?
Fiquei com duas finais em
falta no meu currículo, a Final da Taça da Liga e a Final da Taça da AFS
“Joaquim José Sousa Marques”. Gostaria muito de as ter feito.
Venâncio Tomé exibiu as prestigiadas insígnias das FIFA entre 2009 e 2013 |
O que guarda de mais marcante da carreira dentro dos campos?
Guardo o cheiro da
relva, o ambiente antes, durante e após o jogo. Guardo a amizade dos meus
colegas, de muitos jogadores e demais agentes desportivos. Nestes anos todos,
cruzei-me com muita gente boa de norte a sul do país e guardo a recordação de
grandes momentos que passei na arbitragem.
De que forma vai seguir ligado à
arbitragem?
Ainda não pensei nisso.
Quero aproveitar algum tempo com a minha família, que foi prejudicada pela
minha ausência, depois logo se vê...
Que conselho daria um árbitro em início de
carreira?
Primeiro, dar-lhe os
parabéns pela difícil decisão de tirar o curso e depois, o melhor conselho que
posso dar, é que se realmente quer abraçar esta causa que o faça de corpo e
alma, por vezes com muito sacrifício, mas na certeza que se o fizer os frutos,
mais cedo ou mais tarde, vão surgir.
Fotos cedidas por Venâncio Tomé
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