Nunca abdicou de nenhum objectivo para cumprir o outro…
JOGADOR
CONSEGUIU CONCILIAR O FUTEBOL COM O TRABALHO E A VIDA ACADÉMICA
O ex-jogador do Pinhalnovense, Amora, Olímpico do Montijo, Banheirense e Barreirense é um dos bons exemplos a seguir pelos mais jovens e a prova evidente de que, com ambição e força de vontade, tudo se consegue.
Bandeira, um "mestre" no futebol |
É
neto de uma das grandes referências do Barreirense, tem 25 anos e um gosto
profundo pelo futebol mas isso não o impediu de continuar a estudar e hoje é
“mestre”. Ultimamente tem andado pelo Campeonato de Portugal e neste momento está
sem clube mas ainda não perdeu a esperança de poder chegar à 1.ª Liga. Em
entrevista ao nosso jornal, João Bandeira conta tudo ao pormenor.
Não
foi complicado conciliar a actividade desportiva com a vida estudantil?
Sempre me ensinaram que o Homem não aprende nada quando
as coisas são fáceis, por isso procuro sempre aprender com os contextos mais
difíceis porque são esses que nos ajudam a evoluir. Confesso que foi preciso
alguma força de vontade e sacrifício. Grande parte dos anos que estudei,
primeiro na licenciatura e depois no mestrado, tive de conciliar os estudos com
o futebol (jogador e treinador) e também com um part-time. Levantava-me para ir
treinar de manhã, ao início da tarde ia trabalhar, ao fim do dia ia treinar os
jovens e, por fim, guardava o tempo que sobrava para estudar.
Tinhas
que fazer uma boa gestão do tempo!
Sim, é verdade. Mas nunca abdiquei de nenhum objectivo para
cumprir o outro, consegui sempre conciliar as coisas e dividir bem o tempo,
entre todas as minhas tarefas. Confesso que andei cansado alguma parte do
tempo, tanto nos treinos como na faculdade, mas o que me deixa mais realizado é
o facto de nunca ter abdicado da minha vida social para poder cumprir todas as
tarefas, tive sempre tempo para estar com os meus amigos e fazer as coisas que
mais gosto, fora do trabalho. No fim, a sensação de dever cumprido e de
realização supera todo o cansaço. Por isso, o conselho que tento transmitir aos
mais novos é que se apliquem nos estudos e que nunca desistam da escola pelo
sonho de ser jogador de futebol, porque dá para conciliar ambos.
Qual
foi o curso que tiraste e qual o tema que escolheste para o mestrado?
Mestrado em Futebol – da Formação à Alta Competição e
para além do estágio e consequente relatório, escolhi também o tema “Evolução
da aptidão física de jovens futebolistas de 12 e 13 anos ao longo da segunda
fase da época desportiva”. Procurei avaliar aptidão física de 20 jogadores do
escalão de infantis, através de uma série de testes físicos e compará-los em
dois momentos (de Março a Julho), para perceber qual foi a sua evolução e se
existiram ou não melhorias significativas. Depois procurei saber de que forma é
que a idade de maturação dos atletas poderia estar envolvida nesta evolução e
nestes resultados.
O
facto de seres jogador de futebol contribuiu de forma positiva para a nota
final?
Ser jogador de futebol ajudou-me de certa forma a
interpretar melhor o que era leccionado nas aulas, visto que todos os dias
estava no terreno a jogar e a praticar, isso facilitava a compreensão e
consequente aplicação das matérias. Por isso, posso afirmar que contribuiu para
uma melhor aprendizagem.
A
licenciatura e o mestrado podem vir a ser fundamentais em termos profissionais?
Todos os jovens deviam ter oportunidade de fazer uma
licenciatura porque nada tem a ver com o secundário. Numa licenciatura estamos
a estudar uma área que fomos nós próprios que escolhemos e supostamente
gostamos. Quanto ao mestrado, depende das áreas. Em minha opinião há algumas em
que não é fundamental fazer um mestrado, porque neste momento existem muitas
acções de formação que podem dar o mesmo ou até mais que um mestrado numa certa
área. No caso do desporto, creio que é muito benéfico realizar os dois, até
porque em termos de aprendizagem ganhamos uma grande bagagem, para além de dar
um bom currículo e reconhecimento.
Tenho o sonho de jogar na I Liga Portuguesa mas também gostaria de ter uma oportunidade fora de Portugal.
Como
jogador fizeste toda a tua formação no Barreirense, mas depois saíste para
outros clubes. Por alguma razão especial?
Toda a gente que me conhece sabe que o Barreirense é o
meu clube de coração. Gostava de ter permanecido e jogar os campeonatos
nacionais com aquele emblema ao peito, mas tal não foi possível. Saí porque não
estava feliz naquele momento e um jogador de futebol com 18/19 anos deve ser feliz
e confiante, então fui procurar a minha felicidade em outro lado e confesso que
a encontrei. Mas sei que um dia irei voltar a vestir aquela camisola.
Nas
duas últimas épocas estiveste no Pinhalnovense. E na próxima para onde vais, já
se pode saber?
Sim, passei as duas últimas épocas no Pinhalnovense.
Clube que me ajudou muito na afirmação do meu futebol e das minhas capacidades.
Esta pandemia atrasou tudo e teve implicações graves no mundo do futebol, o que
prejudicou muitos clubes e jogadores. Quanto a mim, ainda não tenho nada
definido.
Passaste
pela distrital, agora estás no Campeonato de Portugal. Até onde esperas chegar
como jogador?
Sendo uma pessoa ambiciosa, pretendo e tenho o sonho de
jogar na Primeira Liga Portuguesa, como é natural. Também gostaria de ter uma
oportunidade fora de Portugal, para poder sair da minha zona de conforto e
mostrar todo o meu futebol, num lugar onde só me conheçam, por isso mesmo. Mas
o meu primeiro objectivo continua a ser jogar na Primeira Liga.
Para
além de jogador também és treinador na formação, isso poderá ser algum
indicador em relação ao futuro?
Sim, são as duas coisas que mais gosto de fazer na vida,
jogar e treinar. Assim que perceber que já não tenho condições ou hipóteses de
jogar num patamar elevado pretendo dedicar-me ao treino a tempo inteiro. É algo
que gosto muito e que me dá muito prazer, principalmente treinar as crianças
que serão os craques do futuro.
Ficou
algo importante para dizer nesta entrevista?
Queria só aproveitar para agradecer o que tem feito em
prol do desporto de Setúbal e não só. É cada vez mais importante que existam
pessoas que dinamizem e ‘’dêem voz” ao desporto nesta região, sendo que cada
vez há menos pessoas nos estádios, menos apoios aos clubes e mais desprezo
pelos jogadores e treinadores, que vai manchando a imagem de uma região que tem
muito talento para oferecer no desporto.
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