KARADAS»» Manifestou intenção de abandonar o futebol - JORNAL DE DESPORTO

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quarta-feira, 15 de abril de 2020

KARADAS»» Manifestou intenção de abandonar o futebol

Desmotivado por situações acumuladas nas duas últimas épocas…

“QUANDO UM JOGADOR COMEÇA A VER O TREINO E O JOGO COMO UM SACRIFÍCIO, É ALTURA DE PARAR”

O avançado do Grandolense João Jesus, conhecido no mundo do futebol por Karadas, está desiludido com o que se está a passar à sua volta e manifestou a intenção de abandonar a carreira de jogador.


Karadas, considera-se uma pessoa pacífica e ponderada, e não compreende por que razão foi expulso quatro vezes na época passada e cinco vezes já esta temporada. O jogador, de grande porte físico, diz que o futebol é um jogo de contacto que alguns árbitros não toleram e adianta que já foi expulso por acumulação de amarelos num jogo em que cometeu apenas duas faltas.

Na entrevista que concedeu ao nosso jornal falou ainda da sua passagem pelo Trofense (II Liga) e explicou a razão por que lhe chamam Karadas. 


O Karadas anunciou nas redes sociais que se iria retirar do futebol. Não será esta uma decisão prematura?
Sim, claro que é prematuro. Tenho 30 anos e fisicamente sinto-me bem. Esta decisão nada tem a ver com a idade ou condição física. Como referi na publicação, não sei se será definitiva porque ninguém sabe o que vai acontecer amanhã. Sei sim que no presente momento é o que mais se adequa com a minha vida.


Houve alguma razão que o levasse a tomar esta iniciativa?
As razões são simples de explicar. Primeiro que tudo, quero estar mais presente e disponível para a minha família, coisa que nunca consegui estar. Depois, tem sido um acumulado de situações época após época que me têm feito perder o gosto pelo jogo, principalmente nas duas últimas temporadas. Quando um jogador começa a ver o treino e o jogo como um sacrifício, penso que seja altura de parar. O futebol é muito mais do que um jogo e tem de ser disfrutado ao máximo. Quando assim não é alguma coisa não está certa é há que repensar aquilo que andamos a fazer.  

Sei que a AF Setúbal tem tido muita dificuldade em conseguir formar árbitros mas isso não pode ser desculpa para colocar qualquer um com um apito


Esta época não foi famosa em termos de golos e ficou também marcada por um excessivo número de expulsões. A que se ficou a dever isto?
Na época passada fui expulso 4 vezes na recta final do campeonato e esta época já fui 5 e o campeonato ainda ia a meio. Eu não gosto de falar publicamente sobre arbitragens mas o que vou dizer aqui acredito que não vá ferir susceptibilidades. Desengane-se quem acha que tenho orgulho em ser expulso, antes pelo contrário, envergonha-me. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa pacífica e ponderada, o que faz a diferença é a forma como nos tratam. Para ser sincero há árbitros que andam aqui na distrital que deviam primeiro ter formação enquanto pessoas, porque errar em termos técnicos dentro do campo faz parte e é normal a este nível, o que não posso admitir é a constante falta de respeito a que eu, os meus colegas e o clube temos vindo a ser submetidos por parte de algumas arbitragens, digo algumas porque não quero generalizar, até porque temos árbitros com qualidades pessoais e técnicas para singrar. Também sei que a AF Setúbal tem tido muita dificuldade em conseguir formar árbitros mas isso não pode ser desculpa para colocar qualquer um com um apito. Quanto às expulsões, e quem me conhece como jogador sabe que o físico sempre foi o meu ponto forte, mas algo mudou porque nas últimas épocas tem sido sim o meu ponto fraco pelos vistos, simplesmente porque há equipas de arbitragem que não toleram o contacto num jogo de contacto, e eu cheguei a ser expulso muitas vezes por acumulação de amarelos por fazer apenas 2 faltas no jogo. Nós sabemos que devido à minha estatura física o contacto será inevitavelmente mais duro e os adversários também sabem e fazem a parte deles como possivelmente eu também faria no seu lugar, cabe aos árbitros analisar e nesse campo tenho sido "perseguido". Tive jogos em que fui expulso em que no final em conversa me vêm dizer que se precipitaram, mas o mal já estava feito. Pensariam que eu ficava mais contente por me dizerem isto? Antes pelo contrário.



Grande parte do seu percurso de jogador foi passado no Grandolense e o ponto alto da carreira foi a transferência para o Trofense (II Liga) mas as coisas não correram bem. Porquê?
 Foi uma experiência bastante gratificante que me ajudou a crescer em todos os aspectos. Eu tinha 23 anos e já vivia em conjunto com a minha companheira há 2 anos, tínhamos os nossos planos e a vida organizada, e quando surgiu a oportunidade de seguir um sonho agarrei-a. Tinha o meu trabalho onde estava efectivo e despedi-me. Passado uns tempos já na Trofa comecei a aperceber-me que o mundo do futebol profissional não é tão bom como muita gente pensa, e foi aí que eu não soube gerir dentro da minha cabeça, com ordenados em atraso, contas por pagar, longe dos meus e sem o apoio de quem me levou, deixei-me ir abaixo psicologicamente e não me consegui reerguer durante toda a época. Mas, fora isso, conheci gente espectacular que me ajudou em parte a atravessar todos os maus momentos, inclusive a minha companheira que sempre que podia estava lá ao pé de mim.

Quando comecei a jogar futebol federado tinha 15 anos e nessa altura o Benfica tinha um avançado chamado Karadas. Por brincadeira o João Romão achou que eu era parecido fisicamente com ele e fiquei com a alcunha

No Distrital de Setúbal é considerado um dos avançados mais temidos pelos adversários. Tem essa noção?
Não vou ser hipócrita. Claro que tenho essa noção e apesar de adversários tenho uma excelente relação com a grande maioria dos jogadores desta divisão. Depois dos jogos falamos sempre um pouco sobre essas e mais coisas. É importante sentimo-nos valorizados por aquilo que fazemos mas não é por isso que eu me vou achar melhor que este ou aquele.


O seu nome é João Jesus mas no futebol é conhecido por Karadas. Como surgiu a alcunha?
Quando comecei a jogar futebol federado tinha 15 anos e nessa altura o Benfica tinha um avançado chamado Karadas e por brincadeira o meu colega e amigo João Romão achou que eu era parecido fisicamente com esse jogador, a alcunha foi ficando e acabou por pegar.

Neste momento tem algo mais para dizer ou alguma mensagem que queira deixar?
Desejar felicidades a todos os intervenientes da nossa distrital e ao Sr. José Pina pelo excelente trabalho que tem desenvolvido em prol do futebol no distrito, e esperar que toda esta situação passe e que os clubes se consigam reerguer porque sei que não tem sido fácil para ninguém. Por último, quero dar uma palavra de agradecimento ao "meu" CR Grandolense por sempre me ter dado a mão mesmo quando se calhar não havia razão para isso.


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