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segunda-feira, 13 de abril de 2020

FUTEBOL FEMININO»» Paio Pires sofreu um murro no estômago

Com 14 profissionais estrangeiras, clube aderiu ao lay-off...

PROJECTO ENVOLVE UM INVESTIMENTO DE MEIO MILHÃO DE EUROS


Para o Paio Pires Futebol Clube o término do Campeonato Nacional Feminino da 2.ª Divisão foi um autêntico murro no estômago porque não proporcionou a concretização de um objectivo que havia sido estabelecido com base num projecto devidamente sustentado e suportado por um investimento de meio milhão de euros.

Muita gente pode pensar que se trata de uma loucura porque no Vale da Abelha não existe qualquer poço de petróleo. Contudo, deve ser esclarecido que tudo foi devidamente pensado e delineado com os pés bem assentes na terra.

O clube conseguiu juntar um grupo de pessoas que, fazendo uso da sua experiencia profissional, se empenhou na procura de investidores e parceiros estratégicos, resultando daí a formação de um plantel constituído na sua maioria por jogadoras profissionais estrangeiras. As expectativas eram altas mas o novo coronavírus, que causou esta pandemia, acabou com elas e o clube viu-se na obrigação de aderir ao lay-off para minimizar os prejuízos causados e, no mínimo, cumprir com as suas obrigações para com as jogadoras. 

Nuno Painço, responsável pela parte administrativa, logística e comunicação, em entrevista ao nosso jornal, contou tudo ao pormenor e adiantou já alguns pormenores sobre a próxima época.


“Só não erra quem nada faz”

Como reagiu o clube à notícia da decisão da FPF em dar por concluído o campeonato nacional da 2.ª divisão? 
Se foi uma surpresa. Não, não foi. Até porque assim que foram dados por terminados os campeonatos de formação, já calculávamos que era o que ia acontecer, e não foi ao mesmo tempo porque não tiveram coragem para o fazer. Mas como é óbvio foi uma enorme decepção, que soubemos da notícia do término dos campeonatos não profissionais, através da comunicação social. No entanto a nossa postura sempre foi estarmos preparados para o reatar da competição, dando condições ao staff técnico e às atletas, tanto a nível físico, médico e psicológico, para estarem prontas para a competição. Agora não nos compete condenar a decisão, de quem teve a responsabilidade de decidir, só o tempo dirá se foi uma medida acertada ou errada, mas também sei, nos 15 anos que levo de movimento associativo, só não erra quem nada faz e nunca teve nas mãos o poder de decisão.

O investimento foi grande e as expectativas eram altas para esta época. Sente alguma desilusão pelo facto do campeonato não ter terminado? 
Foi como um muro no estômago. É claro que dentro da normalidade, os campeonatos são para se decidir dentro do rectângulo de jogo e não de forma administrativa. Mas não estamos num estado, nem numa posição em que o futebol possa estar em primeiro lugar, do que salvaguardar as vidas de todos nós. Com uma vitória e uma derrota nada estava decidido, ainda havia muito campeonato para disputar, estava tudo nas nossas mãos, melhor dizendo nos pés das atletas. 

O presidente Jorge Lopes soube rodear-se de pessoas, leais, honestas, sérias e profissionais. Podemos ser amadores do futebol, mas trabalhamos tão bem ou melhor que os clubes profissionais.

“Somos amadores mas trabalhamos como profissionais”


Muita gente interroga, como foi possível ao Paio Pires fazer uma aposta tão forte no futebol feminino? 
Fomos à luta. Em tudo na vida, seja na nossa vida profissional, associativa, ou desportiva, temos de ser profissionais. Temos de colocar em campo todo o nosso profissionalismo, como fazemos em tudo na vida, pelo menos eu penso assim, e também sei, que é assim que o meu presidente pensa. O presidente Jorge Lopes soube rodear-se de pessoas, leais, honestas, sérias e profissionais. Podemos ser amadores do futebol, mas trabalhamos tão bem ou melhor que os clubes profissionais, e foi dito por várias entidades ligadas ao futebol. Criámos um departamento de futebol feminino muito forte e blindado, como um balneário deve ser, liderado pelo vice-presidente João Gonçalves, com a experiência do Pedro Sebastião como director desportivo, a minha experiência no movimento associativo faz 15 anos, aplicando a parte administrativa, logística e comunicação da minha área profissional, e o principal impulsionador deste projecto o Engenheiro Ismael Duarte, no qual colocou toda a sua experiência empresarial, na busca de patrocinadores e parceiros estratégicos. Tentámos libertar o Presidente, para ele se preocupar mais com o futebol masculino, academia, praça de touros, ao fim ao cabo, com tudo o resto, menos como o futebol feminino, e se existe futebol feminino no Paio Pires Futebol Clube ao nosso Presidente podem agradecer. 


Esta medida teve algum efeito negativo em termos financeiros para o clube? 
Como é óbvio, não havendo movimento no nosso Vale Da Abelha, alguma receita que se ia fazendo com a competição, principalmente com os jogos da equipa sénior, deixou de entrar alguma verba, para despesas correntes que o clube tem. O nosso presidente e a tesoureira têm feito milagres, têm conseguido esticar o dinheiro, para fazer face às despesas, sem ajudas principalmente do poder político local, mas acredito que não estamos esquecidos, e que o vento vai mudar de direcção. 

Temos 14 atletas estrangeiras e profissionais, com contrato de trabalho até 30 de Junho do corrente ano, e por isso neste momento o Paio Pires Futebol Clube aderiu ao lay-off.


Tendo a época terminado mais cedo, o que vai acontecer às atletas, principalmente às estrangeiras? 
Vamos deixar passar o estado de emergência, e aguardarmos serenamente que os órgãos de decisão passem instruções. Não nos podemos esquecer que temos 14 atletas estrangeiras e profissionais, com contrato de trabalho até 30 de Junho do corrente ano, e que neste momento o Paio Pires Futebol Clube aderiu ao lay-off, e que durante este período nem pode rescindir, nem despedir atletas, e como é óbvio, com a limitação de voos, não podemos fazer seguir as atletas para o seu país. Vamos ter mais despesa, porque com a alteração que temos de fazer das passagens que estão asseguradas para o fim da época, mais taxas nos vão cobrar. As atletas portuguesas regressam à sua vida normal, ficando resguardadas como têm feito. 

O orçamento da equipa sénior foi meio milhão de euros e desse orçamento utilizámos até ao dia em que as competições foram suspensas 270 mil euros. Foi um grande investimento.

“Aposta em jogadoras portuguesas de qualidade”



O projecto mantém-se na próxima época ou poderão surgir algumas novidades? 
Posso dizer que o orçamento da equipa sénior foi meio milhão de euros e que desse orçamento utilizámos até ao dia em que as competições foram suspensas 270 mil euros. Foi um grande investimento. Mas, atenção, orçamento este vindo de parceiros e investidores. O projecto do futebol feminino no Paio Pires Futebol Clube não é uma promessa, é uma realidade. Como sabe durante algum tempo, mataram o futebol feminino no Paio Pires Futebol Clube, pessoas que não deviam andar no futebol, quanto mais no feminino. O nosso presidente reactivou novamente o futebol feminino, esta é a sua segunda época a comandar este navio. Com mais tempo para preparar a próxima época, não só no futebol sénior, mas principalmente na formação. Vamos querer ter técnicos qualificados em todos os escalões, onde o coordenador de todo o futebol feminino será o treinador da equipa sénior que for contratado para a próxima época. Ao nível da equipa sénior, iremos apostar numa base de jogadoras portuguesas de grande qualidade e se conseguirmos internacionais, tendo também no nosso plantel 5 ou 6 atletas estrangeiras que possam fazer a diferença. Queremos ter uma equipa mais equilibrada, tínhamos as melhores jogadoras, mas não tínhamos o melhor plantel, e cabe-nos a nós analisar o que não esteve bem, o que já estamos a fazer. A segunda divisão vai ser composta pelas equipas que estavam a disputar a subida à Liga BPI, irá ser muito forte e competitiva, pelo menos a Zona Sul.