Com 14 profissionais estrangeiras, clube aderiu ao lay-off...
PROJECTO
ENVOLVE UM INVESTIMENTO DE MEIO MILHÃO DE EUROS
Para o
Paio Pires Futebol Clube o término do Campeonato Nacional Feminino da 2.ª
Divisão foi um autêntico murro no estômago porque não proporcionou a
concretização de um objectivo que havia sido estabelecido com base num projecto
devidamente sustentado e suportado por um investimento de meio milhão de euros.
Muita
gente pode pensar que se trata de uma loucura porque no Vale da Abelha não
existe qualquer poço de petróleo. Contudo, deve ser esclarecido que tudo foi
devidamente pensado e delineado com os pés bem assentes na terra.
O clube
conseguiu juntar um grupo de pessoas que, fazendo uso da sua experiencia
profissional, se empenhou na procura de investidores e parceiros estratégicos,
resultando daí a formação de um plantel constituído na sua maioria por
jogadoras profissionais estrangeiras. As expectativas eram altas mas o novo
coronavírus, que causou esta pandemia, acabou com elas e o clube viu-se na
obrigação de aderir ao lay-off para minimizar os prejuízos causados e, no
mínimo, cumprir com as suas obrigações para com as jogadoras.
Nuno
Painço, responsável pela parte administrativa, logística e comunicação, em
entrevista ao nosso jornal, contou tudo ao pormenor e adiantou já alguns
pormenores sobre a próxima época.
“Só não erra quem nada faz”
Como reagiu o clube à notícia da decisão da
FPF em dar por concluído o campeonato nacional da 2.ª divisão?
Se foi
uma surpresa. Não, não foi. Até porque assim que foram dados por terminados os
campeonatos de formação, já calculávamos que era o que ia acontecer, e não foi
ao mesmo tempo porque não tiveram coragem para o fazer. Mas como é óbvio foi
uma enorme decepção, que soubemos da notícia do término dos campeonatos não
profissionais, através da comunicação social. No entanto a nossa postura sempre
foi estarmos preparados para o reatar da competição, dando condições ao staff
técnico e às atletas, tanto a nível físico, médico e psicológico, para estarem
prontas para a competição. Agora não nos compete condenar a decisão, de quem
teve a responsabilidade de decidir, só o tempo dirá se foi uma medida acertada
ou errada, mas também sei, nos 15 anos que levo de movimento associativo, só
não erra quem nada faz e nunca teve nas mãos o poder de decisão.
O investimento foi grande e as expectativas
eram altas para esta época. Sente alguma desilusão pelo facto do campeonato não
ter terminado?
Foi como
um muro no estômago. É claro que dentro da normalidade, os campeonatos são para
se decidir dentro do rectângulo de jogo e não de forma administrativa. Mas não
estamos num estado, nem numa posição em que o futebol possa estar em primeiro
lugar, do que salvaguardar as vidas de todos nós. Com uma vitória e uma derrota
nada estava decidido, ainda havia muito campeonato para disputar, estava tudo
nas nossas mãos, melhor dizendo nos pés das atletas.
O presidente Jorge Lopes soube rodear-se de pessoas, leais, honestas, sérias e profissionais. Podemos ser amadores do futebol, mas trabalhamos tão bem ou melhor que os clubes profissionais.
“Somos amadores mas trabalhamos como
profissionais”
Muita gente interroga, como foi possível ao
Paio Pires fazer uma aposta tão forte no futebol feminino?
Fomos à
luta. Em tudo na vida, seja na nossa vida profissional, associativa, ou
desportiva, temos de ser profissionais. Temos de colocar em campo todo o nosso
profissionalismo, como fazemos em tudo na vida, pelo menos eu penso assim, e
também sei, que é assim que o meu presidente pensa. O presidente Jorge Lopes soube
rodear-se de pessoas, leais, honestas, sérias e profissionais. Podemos ser
amadores do futebol, mas trabalhamos tão bem ou melhor que os clubes
profissionais, e foi dito por várias entidades ligadas ao futebol. Criámos um
departamento de futebol feminino muito forte e blindado, como um balneário deve
ser, liderado pelo vice-presidente João Gonçalves, com a experiência do Pedro
Sebastião como director desportivo, a minha experiência no movimento
associativo faz 15 anos, aplicando a parte administrativa, logística e
comunicação da minha área profissional, e o principal impulsionador deste projecto
o Engenheiro Ismael Duarte, no qual colocou toda a sua experiência empresarial,
na busca de patrocinadores e parceiros estratégicos. Tentámos libertar o
Presidente, para ele se preocupar mais com o futebol masculino, academia, praça
de touros, ao fim ao cabo, com tudo o resto, menos como o futebol feminino, e
se existe futebol feminino no Paio Pires Futebol Clube ao nosso Presidente
podem agradecer.
Esta medida teve algum efeito negativo em
termos financeiros para o clube?
Como é óbvio,
não havendo movimento no nosso Vale Da Abelha, alguma receita que se ia fazendo
com a competição, principalmente com os jogos da equipa sénior, deixou de
entrar alguma verba, para despesas correntes que o clube tem. O nosso presidente e a tesoureira têm feito milagres, têm conseguido esticar o
dinheiro, para fazer face às despesas, sem ajudas principalmente do poder político
local, mas acredito que não estamos esquecidos, e que o vento vai mudar de direcção.
Temos 14 atletas estrangeiras e profissionais, com contrato de trabalho até 30 de Junho do corrente ano, e por isso neste momento o Paio Pires Futebol Clube aderiu ao lay-off.
Tendo a época terminado mais cedo, o que vai
acontecer às atletas, principalmente às estrangeiras?
Vamos deixar passar o estado de
emergência, e aguardarmos serenamente que os órgãos de decisão passem
instruções. Não nos podemos esquecer que temos 14 atletas estrangeiras e
profissionais, com contrato de trabalho até 30 de Junho do corrente ano, e que
neste momento o Paio Pires Futebol Clube aderiu ao lay-off, e que durante este
período nem pode rescindir, nem despedir atletas, e como é óbvio, com a
limitação de voos, não podemos fazer seguir as atletas para o seu país. Vamos
ter mais despesa, porque com a alteração que temos de fazer das passagens que
estão asseguradas para o fim da época, mais taxas nos vão cobrar. As atletas
portuguesas regressam à sua vida normal, ficando resguardadas como têm
feito.
O orçamento da equipa sénior foi meio milhão de euros e desse orçamento utilizámos até ao dia em que as competições foram suspensas 270 mil euros. Foi um grande investimento.
“Aposta em jogadoras portuguesas de
qualidade”
O projecto mantém-se na próxima época ou
poderão surgir algumas novidades?
Posso
dizer que o orçamento da equipa sénior foi meio milhão de euros e que desse
orçamento utilizámos até ao dia em que as competições foram suspensas 270 mil
euros. Foi um grande investimento. Mas, atenção, orçamento este vindo de
parceiros e investidores. O projecto do futebol feminino no Paio Pires Futebol
Clube não é uma promessa, é uma realidade. Como sabe durante algum tempo,
mataram o futebol feminino no Paio Pires Futebol Clube, pessoas que não deviam
andar no futebol, quanto mais no feminino. O nosso presidente reactivou
novamente o futebol feminino, esta é a sua segunda época a comandar este navio.
Com mais tempo para preparar a próxima época, não só no futebol sénior, mas
principalmente na formação. Vamos querer ter técnicos qualificados em todos os
escalões, onde o coordenador de todo o futebol feminino será o treinador da
equipa sénior que for contratado para a próxima época. Ao nível da equipa
sénior, iremos apostar numa base de jogadoras portuguesas de grande qualidade e
se conseguirmos internacionais, tendo também no nosso plantel 5 ou 6 atletas
estrangeiras que possam fazer a diferença. Queremos ter uma equipa mais
equilibrada, tínhamos as melhores jogadoras, mas não tínhamos o melhor plantel,
e cabe-nos a nós analisar o que não esteve bem, o que já estamos a fazer. A
segunda divisão vai ser composta pelas equipas que estavam a disputar a subida
à Liga BPI, irá ser muito forte e competitiva, pelo menos a Zona Sul.