Acima de tudo devemos ter em conta a vida humana...
“ESTÁVAMOS NUMA BOA FASE MAS O MAIS IMPORTANTE É
QUE DEUS NOS LIVRE DESTA DOENÇA”
Mário Leandro, presidente e treinador do FC Setúbal, último classificado da 1.ª Divisão Distrital, está muito preocupado com a pandemia que se instalou no mundo inteiro e coloca isso acima de tudo porque o mais importante é a vida humana. O aspecto desportivo foi relegado para segundo plano mas ainda assim não deixou de emitir a sua opinião sobre o que pensa do actual momento do futebol setubalense.
Como está o FC Setúbal a viver o actual momento que se vive no futebol
português causado por esta pandemia?
Quantos os campeonatos foram suspensos toda a
gente já recolheu às suas casas. Nós temos jogadores estrangeiros a viverem num
apartamento onde permanecem e onde vão treinando de acordo com um programa de
treino individual. Agora, estamos à espera que as competições possam ser
retomadas, quando houver condições para isso.
O clube sente-se de alguma forma prejudicado com estes acontecimentos?
Nós estávamos a atravessar uma boa fase porque
trabalhámos muito para isso. Aumentámos o número semanal de treinos, fizemos 4
jogos amigáveis em 8 dias contra equipas do nacional e a equipa ganhou mais
confiança. Fomos ganhar a Alfarim, um campo sempre difícil e estávamos bem
preparados para receber o U. Santiago, mas, neste caso, o mais importante é que
Deus nos livre desta doença para que possamos continuar vivos. Não somos
super-homens e como estamos perante um problema grave que atinge o mundo
inteiro entendo que não se deve ligar muito ao facto de termos sido ou não
prejudicados.
Em mês e meio ou no máximo em dois meses se pode concluir o campeonato e decidir quem desce e quem sobe.
O que vai acontecer em termos de campeonato é uma
incógnita. Em sua opinião, o que deve ser feito?
Como faltou apenas 12 jornadas, desde que haja
condições para poder recomeçar acho que se pode terminar o campeonato. Podemos
fazer jogos ao fim de semana e a meio da semana. Como a
formação já está impedida de competir há mais campos disponíveis e alguns com condições
para se jogar à noite. Penso que em mês e meio ou no máximo em dois meses se
pode concluir o campeonato e decidir quem desce e quem sobe. Esta fase poderia
até funcionar com pré-época para o próximo campeonato.
O ideal seria então concluir o campeonato?
Se faltassem mais jornadas o caso seria diferente.
Neste caso, acho que tudo deve ser decidido dentro de campo com fair-play e
respeito. Toda a gente se podia organizar para dar o seu melhor nesses jogos.
Mas, para além disto, acho que nos devíamos unir para criar condições para que
esta peste possa desaparecer o mais rapidamente possível.
Tentei criar um grupo no Whatsap com os responsáveis pelos clubes do nosso campeonato com o objectivo de se encontrar uma solução para o problema mas não houve feedback
Nesta paragem os clubes não falaram entre si no sentido chegarem em um
consenso?
Nestas situações há sempre quem tenha mais
interesse nos jogos do que outros. Eu tentei criar um grupo no Whatsap com os responsáveis
pelos clubes do nosso campeonato com o objectivo de se encontrar uma solução para
o problema mas não houve feedback, parece que toda a gente está tranquila. Se calhar
pensam que estamos aflitos por ocuparmos o último lugar, mas não é o caso.
Assumimos perfeitamente a nossa posição mas acho que era importante os
presidentes se reunirem, pelo Whatsap ou por videoconferência, para discutirmos
os problemas de cada um para se chegar a um consenso, mas as pessoas não
reagiram.
E agora o que há a fazer, aguardar por uma solução?
A Associação está dependente daquilo que a
federação resolver porque estamos todos no mesmo barco, está tudo interligado.
Só peço a Deus que nos proteja e que as pessoas tenham consciência do que na
realidade se está a passar. Isto é muito difícil de controlar, o caso é
gravíssimo. Se eu fosse governador de um país, as únicas pessoas que podiam
andar na rua eram os militares. De resto, deviam ficar todos em casa o tempo
necessário até o problema ficar resolvido. A alimentação deveria ser feita à
base de rações e em casa todos deveriam ter internet, água, luz e gás
completamente grátis. Não devia ser permitido andar na rua. As restrições
deveriam ser radicais.
Quer deixar alguma mensagem neste momento difícil?
Que as pessoas respeitam as indicações dadas
pelas autoridades e pela Direcção Geral de Saúde. Eu vivi no estrangeiro e
tenho amigos na França, Alemanha e Itália e sei muito bem o que se passa por
lá. Nos países latinos, como o nosso, o que se verifica é uma grande falta de
disciplina como ficou demonstrado recentemente no acesso à Ponte 25 de Abril e
como se tem verificado em Espanha e Itália. Lembrem-se que em situações normais
não é fácil ir a um hospital, quanto mais agora. Por favor, fiquem em casa.