Treinador revela as
dificuldades que sentiu…
“A NÍVEL DESPORTIVO O
BALANÇO É MUITO POSITIVO MAS A NÍVEL PESSOAL MUITO DESGASTANTE”
Gil Velez, que tinha passado
pelo futebol de formação do Belenenses, Linda-a-Velha e Atlético, chegou na
época passada ao Beira Mar de Almada na qualidade de treinador adjunto
principal de Emanuel Mesquita que saiu para o estrangeiro. Após a saída do seu
chefe de equipa foi chamado para o cargo de treinador principal funções que
desempenhou também esta época até ao momento em que o campeonato foi suspenso.
Agora que o clube suspendeu
a actividade da sua equipa sénior, Gil Velez ficou sem clube para treinar mas
receptivo a convites para continuar a fazer aquilo que gosta.
Na hora da despedida, o
treinador, de 27 anos, falou ao nosso jornal sobre a sua passagem pelo Beira
Mar de Almada revelando situações que eram desconhecidas do grande público.
Éramos nós que fazíamos o almoço e levávamos os tachos com massa para alimentar os miúdos naquela que era a sua melhor refeição da semana
Gil
Velez está de saída do Beira Mar de Almada. Ficou descontente com a situação?
Nos já queríamos ter saído
há algum tempo infelizmente mas tínhamos um compromisso de honra com todos os atletas,
boleias para dar e acima de tudo gostávamos imenso deles e tínhamos uma óptima
relação e isso impediu-nos de ter saído mais cedo. É um acumular de situações,
sendo sincero sentimos um desgaste enorme, como já referi, foi muito
complicado. Só os jogadores e nós é que sabemos. Éramos nós que fazíamos o
almoço e levávamos os tachos com massa porque, se calhar, havia ali miúdos que
essa era a melhor refeição da semana para eles. Foram momentos que guardámos,
dos quais retiramos ilações importantes e ensinamentos. Agora esperemos que
venha aí um desafio com mais condições, para que nos possamos concentrar
naquilo que é a nossa tarefa: o treino, o jogo e os jogadores.
Qual
o balanço que faz da sua passagem pelo clube?
A nível desportivo o balanço
é muito positivo mas a nível pessoal muito desgastante. Chegámos ao clube no
ano passado com muitas dificuldades tanto a nível financeiro como logístico.
Tentámos “modernizar” o clube, para que, mesmo com a falta de recursos,
conseguíssemos ter algo que, para nós era essencial, como uma sala para
trabalho de prevenção, uma sala, mesmo que pequena, para visionamento de
trabalhos audiovisuais mas foi muito difícil porque o material também
escasseava. Lembro-me que, no início, tivemos que arranjar fisioterapeutas. Arranjámos
também um patrocinador que nos deu equipamentos novos para treino e este ano
comprou umas redes para as balizas. Conseguimos a divulgação para os nossos
canais digitais, chamando a “sUPport - Elevamos a tua imagem” para colaborar
connosco, revelando-se uma fantástica equipa de marketing digital e gestão de
redes sociais, entre outras coisas. Foram dois anos de muita aprendizagem.
Foi um milagre termos conseguido ser tão competitivos numa divisão como esta e com as condições que tínhamos. Fizemos de tudo dentro do clube
Portanto,
não nada foi fácil?
Já tínhamos trabalhado em
contextos parecidos, por isso conseguimo-nos adaptar. Mas tal como disse
anteriormente, foram dois anos muito desgastantes. Fizemos de tudo dentro do
clube, desde arranjar jogadores, fichas técnicas, etc. Foi um milagre
conseguirmos ser tão competitivos numa divisão como esta, tendo as condições
que tínhamos e conseguirmos arranjar formas de angariar dinheiro para
inscrições. Foi uma verdadeira aventura! Mas que não se duvide de uma coisa:
fez-nos crescer bastante, quer na capacidade de resistir à adversidade, quer na
capacidade de superar desafios, pois não havia uma semana completa em que não tivéssemos
que resolver um problema por mínimo que fosse.
A
classificação da equipa correspondeu ao que esperava dela?
A classificação actual não
contempla 30 pontos mas de qualquer forma estávamos em posição de cumprir o objectivo.
Relembro que o ano passado na segunda volta fizemos 20 pontos, conquistados com
6 vitórias 2 empates e 7 derrotas e este ano faríamos mais que 20 pontos
seguramente. No último dia de mercado avançámos com contratações e parte do
valor fomos nós que pagámos, verba que ficámos de recuperar com a venda de
rifas. Íamos conseguir o objectivo sem dúvida alguma e adorávamos acabar o
campeonato. Relembro que tínhamos vantagem sobre os nossos adversários directos.
Queremos um projecto desportivo com directrizes claras onde consigamos mostrar o nosso valor
Nos
seus horizontes já tem algo em vista para o futuro?
Neste momento não e não vamos
aceitar qualquer coisa. Queremos um projecto desportivo com directrizes claras onde
consigamos mostrar o nosso valor. Temos algumas situações para analisar mas
queremos um clube com capacidade e organização. Por isso, vamos esperar e
analisar o que mais se adequa ao momento.
Tem
algo mais para dizer?
Quero deixar um abraço ao
presidente Rui Bicho que, dentro das disponibilidades do clube, nunca deixou de
nos ajudar; ao João Luís, que foi uma pessoa muito importante para nós; ao
Fernando Costa, Carlos Alberto e Dona Glória, que é um espectáculo de senhora;
quero deixar um abraço de amizade a todos os jogadores que passaram por estas
dificuldades e que são verdadeiros campeões. Por último, e se calhar o mais
importante, a todos que fizeram parte da nossa equipa técnica durante este
tempo o Ricardo Jesus, Emanuel Mesquita, Filipe Ferreira, Pedro Pitacas, Rita,
Dani, Hugo, Luís e à “sUPport – Elevamos a tua imagem”, na pessoa do Tiago
Sardo. Esperamos que nos possamos voltar a encontrar em breve, num outro
contexto, com melhores condições para podermos fazer muito melhor do que
fizemos. Um agradecimento muito especial a si por tudo o que faz pelo futebol
distrital de Setúbal. Saudações desportivas.