Carlos André, director desportivo…
“PENSAR QUE O CAMPEONATO JÁ ESTÁ GANHO NUNCA
FOI APANÁGIO DA NOSSA EQUIPA”
Depois de uma vasta carreira como jogador, o Carlos André surge como
director desportivo no Oriental Dragon. O que o levou a optar por estas
funções?
Como jogador tive a bênção de jogar em 3 países diferentes e em várias
divisões, Portugal (I Liga, II Liga, CP onde me tornei campeão nacional),
Chipre (5 anos na I Liga) e Grécia (um ano na II Liga) e, isso, fez com que
adquirisse competências pelo contacto que tive com vários jogadores,
treinadores (Jorge Jesus e Vítor Pereira, entre outros), directores e
empresários. Na época 2013/2014, com 31 anos, tomei a decisão de abdicar da
aventura no estrangeiro e da parte monetária para voltar a Portugal e começar a
pensar no meu futuro. Comecei a tirar a licenciatura em Ciências do Desporto
mas nessa altura lesionei-me gravemente e tive que deixar o futebol. Terminada
a licenciatura continuei a minha formação académica e iniciei o mestrado em
Direcção e Gestão Desportiva, que estará concluído nos próximos meses. A
possibilidade de optar pela carreira de treinador, por gostar do treino e do
jogo, foi tomada em consideração mas nunca foi a primeira opção porque o mundo
do dirigismo e empresarial foi sempre o que mais me fascinou. O Oriental Dragon,
depois da saída do meu ex-colega e amigo Paulo Filipe para um novo projecto,
viu na minha experiência e competência a pessoa certa para o lugar de director
desportivo. A administração apresentou-me o projecto que aceitei por se tratar
de um projecto de qualidade e com objectivos bem definidos.
Como o Oriental Dragon está a viver a actual situação causada pelo Covid-19?
De uma maneira apreensiva sem que isso nos leve a uma situação de pânico. Temos
noção, desde os primeiros dias, que a saúde e a segurança estão em primeiro
lugar e aquando da informação passada pela AF Setúbal que não se iriam realizar
jogos, fizemos questão de parar toda a actividade desportiva para proteger
todas as pessoas.
Esta paragem forçada que efeitos pode causar a nível desportivo?
Uma paragem forçada raramente tem aspectos positivos. Na última jornada obtivemos
uma vitória muito importante num campo sempre difícil contra um adversário de
qualidade e ficámos com uma vantagem de 11 pontos sobre o segundo classificado.
Mas, tendo em conta a situação, é muito provável que haja perdas a nível físico
e psicológico por parte dos jogadores.
O Oriental Dragon sempre foi considerado o principal favorito. Tem sido
fácil lidar com essa pressão?
A administração do Oriental Dragon assumiu desde o início que iria lutar
pelo título para subir ao Campeonato de Portugal. E, nesse sentido, procurou
recrutar para o plantel jogadores de qualidade e com percurso de sucesso nesta
divisão. Foram esses indicadores que passaram a quem está neste projecto. A
responsabilidade traz sempre pressão, mas a pressão é algo que está sempre
presente no futebol, que sem ela não teria a mesma paixão. Jogar para subir de
divisão tem uma responsabilidade acrescida porque temos obrigatoriamente de
ganhar a cada jornada mas o nosso staff técnico tem conseguido controlar a ansiedade
que por vezes está presente nos jogadores e estes têm dado uma resposta de
excelência em todos os jogos. Somos um grupo muito forte que olha para o colega
do lado com muito respeito e isso tem levado os jogadores a trabalharem nos
seus limites para atingirem o objectivo.
O dinamismo da administração
A dada altura chegaram alguns reforços vindos do Desp. Fabril, foi
importante a integração destes elementos?
Esse momento mexeu com o campeonato porque saíram alguns jogadores não só
para o nosso clube mas também para outros. A administração mostrou-se dinâmica
no mercado e fez o esforço para recrutar os jogadores que achámos importantes
para nos tornarmos mais fortes. Os jogadores que vieram têm muita experiência
desta divisão onde já ganharam tudo o que havia para ganhar. O grupo de
trabalho recebeu-os da melhor maneira para que eles se sentissem em casa e o
resultado está à vista.
O Oriental Dragon tem 11 pontos de vantagem sobre o segundo classificado. Sente
que o título já não lhe vai fugir?
Neste momento, não sabemos como vai terminar o campeonato devido ao momento
delicado que o mundo atravessa. Esperamos pelas decisões de quem se encontra
responsável para o fazer. Mas, na altura de decidir a prestação das equipas, terá
que ser levada em consideração a vantagem que temos. Se voltarmos a competir
ainda esta época, esperamos a mesma atitude, responsabilidade e competência por
parte dos jogadores. Pensar que o campeonato está ganho, sem estar confirmado
matematicamente, nunca foi apanágio da nossa equipa.
Há algo mais que queira acrescentar?
Dizer apenas que todos nós ligados ao desporto, ocupamos um lugar muito
importante de carácter social e que devemos ajudar através das nossas acções
que este momento seja ultrapassado rapidamente porque a nossa saúde e a dos
outros tem que ser preservada. Peço a todos que se protejam para que os outros
também possam estar protegidos.