Foi jogador profissional no
Benfica, Marítimo, Chaves…
“PARA SER GUARDA-REDES TEM
QUE SE GOSTAR, TER JEITO E ALGUMA CAPACIDADE MENTAL E PSICOLÓGICA”
José Oliveira, foi jogador
profissional de futebol, fez a sua formação no VFB Stuttgart (Alemanha), passou
pelo Benfica no ano em que Toni e Jesualdo Ferreira eram treinadores, foi
treinado por Paulo Autuori no Marítimo, por Carlos Alhinho no Ac. Viseu e por
Raul Águas no Chaves, andou pela Suíça e também jogou em Macau.
Depois, optou pelo mundo dos
negócios mas para não ficar totalmente afastado do futebol enveredou pela
carreira de treinador de guarda-redes funções que tem desempenhado com sucesso
em diversos clubes da nossa região.
Barreirense, Pinhalnovense [onde
trabalhou com Paco Fortes, Paulo Fonseca e Francisco Barão], Olímpico do
Montijo, Pelezinhos, Palmelense foram os clubes por onde passou e deixou a sua
marca. Agora prepara-se para representar o Alcochetense, já a partir de 5 de
Agosto.
O nosso jornal manteve uma
longa conversa com o treinador que faz uma retrospectiva do seu percurso
desportivo e fala daquilo que pretende fazer na qualidade de treinador de
guarda-redes.
Como jogador comecei nas escolinhas do VFB Stuttgart”
Esta
época vai ter a missão de treinar todos os guarda-redes do Alcochetense mas,
antes de falar disso, gostaria que falasse um pouco de si. Quem é José
Oliveira, que tem feito e por onde tem andado?
É verdade, foi-me feito o
convite para ser o treinador de guarda-redes na próxima época do Grupo
Desportivo Alcochetense, quer nos seniores, quer em todos os escalões. Nasci na
Alemanha e aos 4 anos de idade comecei nas escolinhas do VFB Stuttgart. Com 15
anos assinei o meu primeiro contrato profissional com o clube e aos 18 anos
foi-me feito um convite para ingressar no Sporting. Estive algum tempo em
Portugal mas não me ambientei porque o futebol na Alemanha era completamente
diferente e fui então para o Académico de Viseu que na altura estava na 1.ª
Divisão e era treinado pelo mister Carlos Alhinho. Foi aí que comecei a ambientar-me
e iniciei a minha caminhada em Portugal, como jogador profissional. Fiz uma época
muito boa e depois fui para o Desportivo de Chaves com o mister Raul Águas,
seguiu-se o Marítimo com o mister Paulo Autuori e posteriormente o Estrela da
Amadora.
“Representei
o Benfica quando Toni e Jesualdo Ferreira eram os treinadores”
Quer
dizer que andou sempre pela 1.ª Divisão Nacional?
Sim, é verdade. Depois, seguiu-se
uma época na Primeira Liga Suíça, regressei a Portugal para a Ovarense onde só
estive só meia época com o mister Eduardo Luís e depois uma experiência,
espectacular e única, no Médio Oriente em Macau e Hong Kong onde joguei na 1.ª
Divisão no Leng Ngan e na Selecção de Macau. Fiz 37 jogos e disputei uma fase
de apuramento para os EUA, em 1994, no Grupo E Asiático onde defrontei as
Selecções da Arábia Saudita (que foi a esse Mundial), Kuwait e Malásia. Fui
Campeão da 1.ª Divisão e titular em todos os jogos. Foi uma época enorme e
inesquecível a todos os níveis. Regressei a Portugal para o Benfica, que era treinado
por Toni e pelo prof. Jesualdo Ferreira, onde posso dizer que também tenho um
bocadinho de campeão. Depois, já na parte final da minha carreira, ingressei no
Pinhalnovense terminando aí a minha carreira de jogador profissional.
“Como
treinador de guarda-redes comecei no Barreirense”
E
depois optou pelas funções de treinador de guarda-redes?
Sim. Como treinador de
guarda-redes estive 4 épocas no Barreirense e depois sete épocas no
Pinhalnovense com treinadores como Paco Fortes, Paulo Fonseca, Luís Almeida e
Francisco Barão, seguiu-se o Olímpico do Montijo, durante duas épocas, tendo
numa delas subido de divisão com a equipa sénior, “Os Pelezinhos”, Palmelense
(com subida nos juniores e iniciados). Ao longo deste percurso têm
andado comigo alguns guarda-redes dos quais sinto grande orgulho, quer seja
sénior ou escolinhas. É gratificante ir num local e ouvir chamar “mister” para
depois ter de puxar pelos neurónios para ver quem é. Sou muito exigente nos
treinos e com muita disciplina e rigor em todos os aspectos. Tento ensinar o
que aprendi ao longo da minha carreira. Tenho métodos próprios e os métodos
normais dos guarda-redes. Falo muito com o treinador do Bayern München que
conheço bem, assim como o Oliver Köpke, que conheço há muitos anos, assim como com
outros treinadores de guarda-redes de outros clubes.
A
opção pelo mundo dos negócios
Porque
não seguiu o profissionalismo?
Não segui o profissionalismo
porque na altura optei e segui o mundo dos negócios imobiliários, projectos imobiliários,
gabinete de arquitectura e construção, que ainda hoje mantenho. Como o bichinho
está dentro de mim, gosto de ir treinar ao fim do dia e ensinar o que aprendi, dá-me
um gozo tremendo ver a evolução dos guarda-redes que treino, alguns deles a actuarem
na 1.ª e 2.ª Liga. Deixa-me também orgulhoso ter convites todas as épocas,
incluindo alguns do estrangeiro como o Bolton e o Leeds United (Inglaterra) que
me convidaram há 3 anos atrás. Mas, não pretendo mais do que isto; ou seja, treinar
na zona onde estou porque mesmo assim já tenho de me organizar bem em termos de
tempo.
Como
é que surgiu esta hipótese de vir para o Alcochetense e de quem foi a ideia de
desenvolver este projecto?
Já tinha sido falado no Alcochetense,
depois houve eleições e surgiram também outros convites. Mas, neste caso foi o
Ricardo Balegas, coordenador do futebol de 11 do Alcochetense, que já me
conhece desde a altura em que estive no Olímpico do Montijo. Ele era o treinador
dos seniores e estivemos juntos dois anos, onde conseguimos a tal subida de
divisão. Mas também é um facto que tudo tem a ver com o trabalho que tenho
feito nos clubes por onde tenho passado. As pessoas falam, vêem e comentam a
evolução dos guarda-redes que treino. A humildade que tenho, e o saber estar no
futebol, também têm sido factores fundamentais, assim como saber o que estamos
a fazer. Ser um homem do futebol torna as coisas mais fáceis, mas acima de tudo
o gosto pelo que faço e a amizade que deixo por onde tenho passado. Deixa-me
orgulhoso que as pessoas falem e me convidem, é sinal que o trabalho que faço é
de qualidade.
“Gosto
de desafios e missões exigentes, não gosto de coisas fáceis”
Vai
ser certamente uma missão bastante exigente e de grande responsabilidade?
Gosto de desafios e missões
exigentes, não gosto de coisas fáceis. Como costumo dizer, se soubermos estar,
tudo se torna muito mais fácil, se soubermos o que estamos a fazer, as coisas
correm naturalmente. Como disse fui profissional de futebol e já passei por
vários clubes como treinador de guarda-redes. Na época passada voltei a subir
de divisão nos seniores do Palmelense.
Ser
guarda-redes não é fácil porque se trata de um lugar específico daí a
necessidade de haver um treino especial para os jogadores que ocupam esta
posição. Em que consiste o seu trabalho?
Para se ser guarda-redes,
acima de tudo tem de se gostar, para além de também ter jeito, depois com os
treinos vai-se lá. Mas digo que é a posição que mais gozo dá no futebol. O guarda-redes
tem de ter capacidade mental, psicológica e acima de tudo um poder de encaixe
muito forte. Um guarda-redes, hoje em dia, é quase como se fosse um jogador de
campo, é fundamental saber jogar muito bem com os pés. Os meus treinos têm, o
jogo de pés durante 15 a 20 minutos, com todos os guarda-redes. Os meus treinos
são programados, nada é feito ao acaso. Por exemplo, esta época já está a ser
preparada à cerca de dois meses e todos os treinos estão programados até ao mês
de Novembro. Começo a dia 5 de Agosto e farei treinos diários até ao dia 31,
com a duração de 1h30m. Tenho os meus próprios métodos, que são uma mistura dos
treinos alemães, ingleses e brasileiros. Claro que sempre vou introduzindo
coisas novas, nenhum dos meus treinos é igual, são sempre diferentes para que
não se cair na monotonia e para os guarda-redes não ficarem desmotivados. Ao
longo destes anos todos os treinos que fiz e faço são pensados no melhoramento
de cada guarda-redes, na qualidade que podem ter e claro depois na motivação
que é fundamental para o sucesso de cada um. Vou dizer isto, porque me deixa
extremamente orgulhoso e é sinal que os treinos são bons. Todas as épocas,
alguns directores que estão atentos, chegam ao pé de mim e dizem-me "mister
Oliveira tem admiradores a ver os seus treinos" eu digo "Aí é, então
quem são". Os directores e também algumas pessoas dizem-me "Sim estão
treinadores de outros clubes a verem e apontarem os exercícios do seu treino
". A minha reacção é rir, porque uma coisa é nós programarmos os treinos e
sabermos o que estamos a fazer, outra coisa é ir à Internet e ver como se faz.
É por isso que digo que treinar guarda-redes não é para todos, muito poucos o
sabem fazer.
“Os
meus treinos são sempre muito intensos, exigem elevada concentração”
Considera
importante que um clube tenha apenas um treinador nesta área para todos os escalões?
É fundamental ter um treinador
de guarda-redes, sempre o disse e irei continuar a dizer. A maior parte dos clubes
tem essa lacuna enorme porque não é fácil treinar guarda-redes. Não tenho
qualquer problema em dizer que existem por aí muitos treinadores de guarda-redes,
mas treinar guarda-redes mesmo a sério há muito poucos. Posso dizer que no início
de cada época por onde tenho passado, a dificuldade é tanta que por vezes tenho
de encostar alguns guarda-redes porque não estão habituados a treinar desta
forma, nem conseguem aguentar. Porque, lá está, não estão preparados para
treinos com intensidade. Os meus treinos são sempre muito intensos, exigem
elevada concentração e são sempre realizados em movimento. Como já disse,
treino todos os escalões, tem sido sempre assim pelos clubes por onde tenho
passado, temos de ter a capacidade de organização e liderança. Os seniores e os
juniores treinam juntos e o mesmo acontece dos juvenis até aos petizes e
traquinas. Tem um porquê ser assim. Faço três treinos específicos por semana ao
longo da época e treinos diários no início da época.
Está
preparado para começar?
Quem anda nestas andanças há bastante tempo está sempre
preparado. Quem me conhece, sabe que estou sempre preparado para iniciar os
treinos e ensinar, é o que tenho feito ao longo de todas estas épocas, pelos
vários clubes por onde tenho passado. Este é mais um desafio interessante, espero não defraudar
as expectativas das pessoas que acreditaram em mim e me endossaram o convite de
ingressar no Grupo Desportivo Alcochetense. Desde já agradeço, o meu obrigado
pela confiança depositada por todos os "GDA".
Gostaria
de acrescentar algo mais ao que já foi dito?
Sim. A todas as equipas que irão ser nossos adversários,
os votos de felicidades e boa sorte para esta época. Desejo tudo de bom a Aqueles
que me conhecem sabem como irei trabalhar e estar dentro e fora das quatro linhas.
Um abraço a todos.