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domingo, 1 de janeiro de 2017

RECORDAÇÕES DO PASSADO»» Faz hoje 18 anos que morreu Vítor Baptista

Foram muitas as peripécias vividas pelo maior…

O HOMEM QUE PERDEU UM BRINCO AO COMEMORAR UM GOLO EM PLENO ESTÁDIO DA LUZ

Faz hoje, 1 de Janeiro de 2017, precisamente 18 anos que faleceu Vítor Baptista, um dos futebolistas mais controversos do futebol português que ficou conhecido pela história do brinco perdido no Estádio da Luz [após a marcação de um golo] e pela sua genialidade, excentricidade, irreverência e imprevisibilidade porque não tinha muita disciplina táctica.
Natural de Setúbal, filho de um electricista e de uma operária de conservas, aos 13 anos começou a trabalhar como empregado numa mercearia. Aos 15, depois de participar num torneio de futebol de salão, em que foi o segundo melhor marcador (atrás de Quinito, mais tarde treinador), Vítor Baptista terá tomado a decisão de se tornar jogador profissional de futebol.
Iniciou a sua carreira no Vitória de Setúbal, onde em 1967, com apenas 18 anos, venceu uma Taça de Portugal (uma das três que o clube sadino alcançou até hoje). Na sua última época pelo Vitória marcou 22 golos, despertando o interesse do Sporting e do Benfica.



Representou também o Amora, Montijo, Monte de Caparica e Faralhão

Transferiu-se para o Benfica a 19 de Julho de 1971 por três mil contos mais o passe de José Torres, Matine e Praia, na transferência mais cara do futebol português até à altura. Estreou-se na equipa principal com um golo ao Vitória de Setúbal, a sua anterior equipa. Ao longo das sete épocas em que representou o Benfica, participou em 150 jogos oficiais, tendo marcado por 62 vezes. O seu último golo pelo Benfica, obtido através de um remate potente, foi frente ao rival Sporting num jogo realizado no Estádio da Luz a 12 de Fevereiro de 1978.
A sua classe foi determinante ao revelar uma técnica apurada, uma boa visão de jogo e uma grande capacidade de finalização. Ganhou cinco campeonatos e uma Taça de Portugal pelos encarnados. No Benfica manteve uma relação difícil com os treinadores Mário Wilson e John Mortimore. O seu último jogo de águia ao peito foi em Fevereiro de 1978, num jogo com o Vitória de Guimarães. Nesse tempo, já tinha problemas com drogas pesadas.

Regressou ao Vitória de Setúbal na época 1978/79 devido a divergências com a direcção do Benfica quanto ao seu salário. No Boavista, equipa que representou na época de 1979/80, chateou-se com José Maria Pedroto, voltando a sair devido a desacordos contratuais com o presidente Valentim Loureiro. Mais tarde viria a rumar aos EUA para representar o San José Earthquakes, da Califórnia, a convite de António Simões, jogando com Guus Hiddink. Na época de 1980/81 representou o Amora, depois foi jogador e treinador no Montijo, tendo passado ainda pelo U. Tomar e Monte de Caparica. Retirou-se com 37 anos na equipa regional dos Estrelas do Faralhão.

Afastado da Selecção Nacional

Vestiu a camisola das quinas apenas por onze vezes, devido a um desentendimento com o seleccionador Juca em 1976, sendo afastado definitivamente da selecção.
Foi convocado por Juca para o jogo Chipre-Portugal, de qualificação para o Mundial-78. Em 4 de Dezembro de 1976, de Lisboa a Limassol, a selecção faz escala em Atenas num avião da TWA. Chegados ao hotel, Juca avisa que terá lugar um treino ligeiro antes do jantar. À hora marcada, todos aparecem menos Vítor Baptista, que só chega no final dos exercícios com ar de turista. Repreendido por Juca, justifica-se com o facto de nada ter ouvido e chama todos de malucos. É recambiado para Lisboa, na véspera do jogo, ganho por Portugal (2-1).

A história do brinco

Um dos momentos mais marcantes da sua carreira foi quando perdeu um brinco de ouro, que lhe custara mais de 10 contos (quantia significativa para a época), após marcar o último golo pelo Benfica. Com o público em êxtase e o jogo interrompido por alguns minutos, os jogadores das duas equipas e até o árbitro Rosa Santos ajudaram-no a procurar o brinco perdido.

Tempos depois, na época em que visitou a Luz com o Boavista tendo marcado o golo da vitória axadrezada, no final do jogo, enquanto os companheiros festejavam, Vítor Baptista foi ao local onde pensava ter perdido o tal brinco e de gatas voltou a procurá-lo, tendo sido ajudado sem sucesso por alguns dos seus companheiros do Boavista, perante o espanto do público presente, até que os mandaram recolher aos balneários.

Morreu na miséria
Vítor Baptista viria a falecer, após um final de vida de pobreza (resultado de alguns excessos cometidos durante a vida), a 1 de Janeiro de 1999, aos 50 anos de idade. Os seus últimos anos de vida foram passados a trabalhar em cemitérios e como funcionário da Câmara de Setúbal para limpar as ruas. Acaba, talvez, por ficar na sombra de Eusébio, pois não foi reconhecido e homenageado de acordo com a qualidade que emprestou ao futebol em particular e ao desporto português no geral.