Histórias desconhecidas do grande público…
QUANDO VITOR BAPTISTA RECEBEU ORDEM DE EXPULSÃO E NÃO
FOI EXPULSO NUM JOGO EM PAIO PIRES
Esta é uma história desconhecida do grande público que
eu não resisto em contar porque também fiz parte dela, já lá vão 45 anos…
Confesso que nunca fui um grande futebolista mas como
gostava de dar uns pontapés na bola representei o Paio Pires [clube da minha
terra] nos juvenis, juniores e posteriormente nos seniores.
Na minha primeira época de sénior, tinha eu 18 anos,
estávamos na época de 1970/71,fazia parte da equipa de reservas [campeonato que
se disputava ao sábado à tarde] quando em determinada altura recebemos, em
casa, o V. Setúbal, num jogo que ficou marcado, no meu caso pessoal, por duas
situações.
Numa delas foi a expulsão de Vítor Baptista [que
acabou por ficar em campo] e a outra pelos parabéns que recebi de José Maria
Pedroto [que na altura treinava a equipa sadina] pelo jogo que tinha feito. Mas
vamos por partes…
Apesar do jogo ser de reservas o V. Setúbal apresentou
a sua equipa principal, à excepção de dois jogadores que estavam convocados
para a selecção nacional. O Campeonato Nacional da 1.ª Divisão estava parado
para os trabalhos da selecção e o V. Setúbal aproveitou para adaptar a equipa
ao pelado porque na semana seguinte ia jogar à Póvoa de Varzim que também
jogava em piso de terra batida.
Já não me lembro da equipa apresentada pelo V. Setúbal
mas recordo-me perfeitamente do Torres (guarda-redes), Rebelo, Carlos Cardoso,
José Mendes, Sabú, Carriço, Octávio Machado, Guerreiro, Arcanjo, Jacinto João e
Vítor Baptista.
Nesse jogo não tivemos qualquer hipótese, perdemos por
8-0, mas o facto mais saliente foi a ordem de expulsão dada a Vítor Baptista
por uma entrada violenta sobre o nosso capitão de equipa [Ataíde].
Gerou-se uma grande confusão junto do árbitro da
partida com os jogadores do V. Setúbal a pressionarem para Vítor Baptista não
ser expulso porque na altura era o melhor marcador do campeonato nacional e o
clube iria ser prejudicado nesse sentido. Perante esta situação, o árbitro
disse que só não expulsaria o jogador se este pedisse desculpa ao adversário e
se este aceitasse o pedido. E foi exactamente o que aconteceu. Convém dizer que
naquela altura ainda não se usava cartões para mostrar aos atletas, tudo era
feito através de palavras.
O melhor
jogo da minha vida e os parabéns de Pedroto
Mas em termos pessoais este jogo ficou também gravado
na minha memória por outras razões. Eu, jogava a defesa direito e por essa
razão apanhei pela frente o saudoso Jota Jota [Jacinto João], extremo-esquerdo
de grande categoria que criava grandes dores de cabeça aos seus adversários.
Como disse atrás, eu tinha apenas 18 anos e estava a
fazer a minha primeira época de sénior enquanto o JJ já tinha 27 e jogava ao
mais alto nível. Comecei a marcá-lo à zona e fui papado algumas vezes mas a
determinada altura ouvi uma boca vinda do público que me ficou no ouvido. “Olha
que ele finta sempre para o mesmo lado”… resolvi então marcá-lo em cima e
sempre que ele ia fazer a finta [para o lado de fora do campo] eu metia o pé e
desarmava-o. Resultado, ele foi substituído ao intervalo e eu fiz o melhor jogo
da minha vida.
No final do jogo, quando estávamos já no balneário,
José Maria Pedroto [um dos mais conceituados treinadores nacionais] bate à
porta e pergunta por mim. Fui então ao seu encontro e ouvi da sua boca estas
palavras: “quero dar-te os parabéns pelo jogo que fizeste, continua sempre
assim que tens um grande futuro à tua frente”.
É evidente que fiquei todo inchado com o elogio só que
a previsão do mestre não se concretizou porque no ano seguinte fui para a tropa
e depois casei…
Seja como for são dois episódios curiosos que me
trazem boas recordações e dos quais hoje me lembrei a propósito do aniversário
da morte de Vítor Baptista [o maior].