Já tinham as
inspecções médicas feitas e mensalidades pagas…
JOGADORES E
EQUIPA TÉCNICA FORAM APANHADOS DE SURPRESA
A notícia de
que o Moitense havia extinguido a sua equipa de juniores caiu com grande
surpresa na nossa mesa de trabalho, por ser totalmente inesperada.
Com um plantel
constituído por 23 jogadores, com as inspecções médicas já efectuadas e
mensalidades pagas, nada fazia prever de facto que isto pudesse vir a
acontecer.
A equipa técnica
liderada por Ricardo Pardal, que nos últimos tempos tem trabalhado a nível de
seniores em vários clubes, rejeitou algumas propostas para se dedicar com todo
o empenho neste projecto, que acabou por não se concretizar.
A decisão
tomada pelo colectivo tem a ver com questões de ordem financeira e no fundo
acaba por surgir devido a pontos de vista diferentes entre vários elementos da
direcção, conforme referiu ao nosso jornal o presidente, João Soeiro, que nunca
deu o seu aval à formação de uma equipa de juniores, por razões que mais à
frente adianta.
Com o
objectivo de clarificar a situação o JORNAL DE DESPORTO falou com o técnico
principal da equipa, Ricardo Pardal, que vinha desenvolvendo o seu trabalho há mais
de dois meses e com o presidente da direcção, João Soeiro.
“Fiquei incrédulo, revoltado,
arrasado e surpreso”
De uma forma inesperada a equipa
técnica do Moitense foi informada que o clube não tinha condições para
participar no Campeonato Distrital de Juniores. Como líder do grupo qual foi a
sua primeira reacção?
Fiquei
incrédulo, revoltado, arrasado e surpreso.
E os jogadores como ficaram depois
de terem recebido a notícia?
Os jogadores estão também arrasados,
nem sabem o que fazer. Cumpriram com tudo o que lhes foi pedido pelo clube e
agora são apanhados neste imbróglio. Estão à deriva. Não estão abandonados
porque esta equipa técnica tem muito carácter e é muito responsável.
Tanto quanto sabemos a equipa já
estava completamente formada. E agora o que vai acontecer. Ficará totalmente
desmembrada?
A decisão está tomada e não sabemos
o nosso futuro. O que sei é que tanto a equipa técnica como os jogadores
recusaram outros convites para abraçarem este projecto e agora estamos todos sem
clube.
Grupo de trabalho disponível para abraçar outro projecto
Se entretanto surgir algum clube
interessado em aproveitar o trabalho já realizado. Há disponibilidade da vossa
parte?
O grupo está
pronto a iniciar os treinos. O plantel está construído, toda a pré-época estava
planeada, todos os jogos-treino estavam agendados. É evidente que nos queríamos
manter juntos enquanto grupo e lutar contra esta injustiça. Enquanto equipa técnica,
lutaremos pelos atletas, mas sabemos que não dependemos só de nós.
Quer acrescentar mais alguma coisa
sobre o assunto?
Estes
miúdos não mereciam isto, pela humildade, pelo empenho e entrega que têm tido.
Mereciam ser tratados com respeito. É verdade que as más acções ficam para quem
as pratica, mas quem acaba por sofrer com estas irresponsabilidades
são os miúdos que neste caso até têm muita qualidade junta. Por último, quero
apenas acrescentar uma coisa. Até um apoio para o transporte eu tinha conseguido
da Junta Freguesia da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, numa reunião que
tive com o Presidente da Junta que curiosamente também se chama Nuno Cavaco, a
quem desde já agradeço a disponibilidade em me receber, a mim e ao vice- presidente
do UFC Moitense.
As explicações dadas pela direcção
Sobre este
assunto falámos com o presidente da direcção, João Soeiro, que adiantou nunca
ter estado de acordo com a criação de uma equipa de juniores porque sabia de
antemão que iria causar prejuízo financeiro numa altura em que o clube tem
outros compromissos a satisfazer como é o caso do pagamento mensal de uma
prestação bastante elevada relativo ao empréstimo para a construção do
sintético.
Quais as razões que levaram o
Moitense a extinguir a sua equipa de juniores?
Foram
problemas de ordem financeira. O Moitense, que tem agora uma realidade diferente
porque está a pagar uma prestação relativa ao sintético [mais de 800€ mensais],
não está em condições de gastar dinheiro com a equipa de juniores. Mesmo
havendo uma quota de atleta, esta equipa iria ser claramente deficitária e iria
dar prejuízo financeiro ao clube e nós não podemos correr esse risco. Foi
sempre contra a minha vontade entrar com uma equipa de juniores mas houve
alguns elementos da estrutura directiva disseram que não iria haver problemas e
foram avançando. Agora chegou a altura de colocar os pés contra a parede e
dizer que não.
Mas se calhar este não foi o momento
ideal para tomar a decisão…
Concordo
plenamente com isso mas a minha opinião foi manifestada numa reunião que
tivemos há mais de dois meses. Eles forçaram e foram prosseguindo mas como tem
que haver quem mande, agora forcei eu. Isto não é uma ditadura, é uma
democracia, simplesmente quando é preciso colocar o pão na mesa nunca ninguém
me perguntou como é que o Moitense paga as contas.
Tem noção das consequências que a
decisão pode causar tanto para os jogadores como para os treinadores?
Claro que
sim. Tenho pena que isto tenha acontecido. O Ricardo Pardal não é perdido nem
achado nisto. Tanto ele como os jogadores merecem-me todo o respeito e
reconheço que isto não se faz, mas mais vale fazer agora que mais tarde com o
campeonato a decorrer.