Colocou
de forma inesperada um ponto final na sua carreira…
“EM
25 ANOS DE FUTEBOL NUNCA ME OFERECI, FUI SEMPRE PROCURADO”
José
Teixeira colocou um ponto final na sua carreira de treinador de futebol,
funções que exerceu durante 25 anos.
A
notícia foi de todo inesperada porque nada fazia prever este desfecho dado que
se trata de uma pessoa verdadeiramente apaixonada pelo futebol e de um treinador
de sucesso com alguns títulos conquistados e algumas subidas de divisão, a
última das quais na época passada ao serviço da equipa de juniores do Paio
Pires que regressou à 1.ª divisão, 23 anos depois.
A
nova temporada estava a ser planeada e preparada por si porque era um dado
adquirido que iria continuar como treinador principal da equipa. Daí a grande
surpresa do anúncio do seu abandono.
José
Teixeira, que se dedicou sempre ao futebol de formação, começou a sua actividade
no Amora onde conquistou um título de campeão distrital, seguiu-se o Seixal
onde também foi campeão distrital [juniores], Quinta do Conde, União Clube Eirense (Coimbra), Charneca de
Caparica, Inter (Fernão Ferro) e Paio Pires, com subida de divisão, na
categoria de juniores.
Em
declarações ao nosso jornal, José Teixeira explicou as razões que o levaram a
tomar esta decisão e abordou também algumas questões pertinentes que infelizmente vão existindo no futebol, até mesmo ao nível da formação.
“Tudo na vida
tem um princípio e um fim”
Anunciaste
recentemente a tua retirada do futebol. Qual a razão que te levou a fazer isso?
Razões
de ordem particular. Tudo na vida tem um princípio e um fim. A vida só faz
sentido quando algo nos motiva, sendo uma prioridade da mesma. Quando saí do
Charneca já tinha confidenciado a pessoas próximas que iria abandonar porque
não me revia em muitas coisas que aconteciam no futebol e principalmente na
formação, onde treinadores apunhalam colegas sem olhar aos meios. A formação
está cheia de casos desses onde se tenta atingir fins sem olhar aos meios e na
maioria dos casos essa situação é provocada pelos mais incompetentes e que
saltam de clube em clube até ao dia em que se tornam conhecidos. Apareceu o
convite do Paio Pires e não resisti. Era um clube com enorme valor sentimental
para mim. Quando entrei vi um clube desorganizado na formação e propus à
Direcção a fusão com a Escola do Fusco. Seis meses de reuniões originaram aquela
que é hoje uma das melhores Academias de Formação do Distrito de Setúbal. Como
treinador da equipa de juniores tinha como objectivo subir à 1.ª divisão em
três anos. Foi conseguida essa subida no segundo ano e cumprida a segunda
promessa. Portanto, missão cumprida. Hora de sair. Em 25 anos de futebol nunca
me ofereci, fui sempre procurado.
“Já sinto
saudades e ainda a época não começou”
Tendo em conta o
teu perfil e o teu carácter, e porque sei que gostas muito de futebol, imagino
que não tenha sido nada fácil tomar esta decisão…
Nada
fácil, foi uma decisão solitária. Foi uma noite de 31 de Julho onde me passaram
pela cabeça muitas imagens de uma vida rica dedicada ao futebol. Dezenas de
histórias. Umas felizes e outras menos boas, mas acima de tudo muito orgulho em
mim. Sabia que não podia tomar esta decisão com as pessoas mais próximas no clube
porque me iriam tentar demover. Foi algo muito difícil... muito mesmo. Já sinto
saudades e ainda a época não começou.
“Até relva comi
para cumprir uma promessa”
Ao longo do teu
percurso como treinador conseguiste algumas subidas de divisão e alguns títulos
de campeão. Quais foram os momentos mais marcantes da tua carreira?
Foram
muitos. Os mais marcantes eram aqueles em que punha a mão no bolso para pagar o
pequeno-almoço a miúdos que saíam de casa para os jogos sem terem comido em
casa. Esta, e muitas outras, são a parte invisível do trabalho de um treinador
de formação. Ires na rua e ex-atletas virem cumprimentar-te com os filhos pela
mão. No campo desportivo são muitas, mas não só os títulos e subidas. Até relva
do Campo da Quimigal comi, para cumprir a promessa que tinha feito à equipa se vencêssemos.
Para além de uma
breve incursão pelo futebol sénior como secretário técnico no Amora, como
treinador andaste sempre pelo futebol juvenil. Por que razão? Nunca surgiu a
oportunidade de treinares equipas seniores?
Surgiu
por duas vezes. Entendi não aceitar porque na altura os técnicos com quem
queria trabalhar estavam ocupados e também porque os clubes querem treinadores
e pagam algumas vezes só a gasolina e na maioria das vezes nem para isso estão
estruturados. Assisti a colegas meus após uma derrota serem cuspidos e
ofendidos e nem um euro ganhavam.
“Vou viver
intensamente os jogos dos
miúdos que foram meus jogadores”
Que recordações
guardas do futebol que toda a gente diz ser uma paixão?
Algumas
que já referi, mas são muitas. As mais importantes são os laços de amizade que
muitas vezes são para a vida. Depois é o dia do jogo... a adrenalina ... a
mensagem ... a leitura ... o tentar enganar o adversário. É um jogo de xadrez
em que nem sempre ganha o melhor.
Não tens receio
de que venhas a sentir falta dele?
Não
tenho receio. Já sinto a falta. Nesta altura já tinha tudo programado para a
pré - época. Já tinha horas de sono perdidas com a preocupação de estruturar a
equipa. Claro que vou sentir falta. Falta de sair de casa e ir para os treinos,
de estar com os atletas, brincar com toda a malta que faz parte de uma equipa
desde director, massagista, adjuntos, técnico de equipamentos, alguns amigos,
mas principalmente da véspera de jogo onde não dormia com ansiedade. O baixinho
vai cá estar sempre a roer, irei ver jogos sempre que possível, mas há algo que
nunca farei que é criticar um colega meu porque sei que ele tem sempre razão,
mesmo quando pensamos que errou. Só quem vive o dia-a-dia de uma equipa conhece
as razões de muitas coisas. Vou viver intensamente os jogos dos miúdos que
foram meus jogadores, porque estará sempre lá um pouco de mim.
“Obrigado a
todos por terem feito parte da minha vida”
Queres deixar
alguma mensagem aos muitos amigos que deixaste nos clubes por onde passaste
como treinador?
Que
sejam felizes. Que lhes ficarei eternamente grato por tudo o que me deram e
pelo que me ajudaram a crescer como homem. Todos foram e são importantes. Desde
as 6 ou 7 centenas de atletas que passaram pelas minhas mãos, assim como pais, sócios,
adeptos, treinadores, directores, massagistas, técnicos de equipamentos,
polícias, árbitros e muitos outros. Um obrigado a todos por em algum momento
terem feito parte da minha vida. Uma palavra especial para o Jorge Fernandez
com quem partilhei vários anos equipas técnicas com grande amizade e
solidariedade. Um irmão para a vida. Bem hajam.
Que terá ficado ainda por dizer nesta
entrevista?
Um
agradecimento especial a ti José Pina. Muitas vezes me entrevistaste para a rádio
e jornais, ajudando e muito no meu percurso como treinador e por seres meu
amigo, pois já o provaste ser em momentos muito complicados da minha vida. Além
de um excelente jornalista com quem privei inúmeras vezes tenho também o
privilégio de ser teu amigo.