Treinador
faz balanço da época desportiva…
“TUDO
O QUE FIZ FOI DE CORAÇÃO, DEI O MEU MELHOR, E DEI TUDO O QUE TINHA SEMPRE EM
PROL DO CLUBE”
O Palmelense
Futebol Clube, um dos históricos do nosso distrito, caiu na segunda divisão
distrital. O 15.º lugar obtido na época que agora terminou foi de facto
insuficiente e a despromoção acabou por ser uma triste realidade para o clube
que recorde-se, esteve na eminência de nem sequer participar no campeonato.
A
equipa de Palmela foi a última a ser inscrita e também a última a ser formada,
facto que levou inclusivamente à desistência da Taça AF Setúbal pelo facto de
começar a treinar precisamente na altura em que aquela competição estava para
arrancar.
Edu
Machado, que teve a coragem de formar e liderar o grupo de trabalho, sabia à
partida que iria ter uma tarefa muito complicada porque se adivinhavam grandes
complicações, mas nem por isso virou a cara à luta.
O
início tardio dos trabalhos de preparação e o facto de a sua casa ser o pelado
do Campo Cornélio Palma foram alguns dos pormenores que contribuíram para uma
prestação menos positiva da equipa na primeira metade da competição. Com o
evoluir do campeonato a equipa foi melhorando e na parte final ainda deu um
arzinho da sua graça como se pode comprovar pela vitória alcançada no Campo da Bela
Vista sobre o C. Indústria (3-0) e pelo empate imposto ao Amora (2-2). Mas de
relevante foi também a vitória alcançada ainda ma primeira volta sobre o
campeão [Barreirense], por 1-0.
Treinador
e jogadores tudo fizeram para evitar a despromoção mas não conseguiram e isso
terá certamente pesado na decisão da direcção recentemente eleita de não contar
com Edu Machado para treinador na próxima temporada. A situação foi bem aceite
por Edu Machado mas este ao mesmo tempo lamenta que não lhe tenha sido dada a oportunidade
de voltar a colocar no clube no lugar onde ele merece estar.
Este
foi apenas um dos vários assuntos abordados por Edu Machado na entrevista que
concedeu ao JORNAL DE DESPORTO, em jeito de balanço sobre aquilo que foi a
época desportiva de 2014/2015.
“Saio com o
sentimento do dever não cumprido”
Edu Machado vai deixar de ser o
treinador da equipa sénior do Palmelense. Quais as razões para a não
continuidade no clube que treinava há três épocas?
Essa é uma
pergunta que terá que fazer aos responsáveis e dirigentes do clube. A decisão
foi tomada em análise feita por eles. Como tal, tenho que aceitar e respeitar
sobretudo após os resultados finais (descida de divisão).
Depois de tudo o
que fez pelo clube, sobretudo nesta última época, a pergunta é inevitável. Sai
com alguma mágoa?
Não sei se mágoa
será a melhor palavra. Nunca fui de desistir e quis sempre fazer parte da
solução e não do problema. Tudo o que fiz foi de coração, dei o meu melhor, e
dei tudo o que tinha sempre em prol do clube, dos jogadores e das suas cores. O
sentimento com que saio é de dever não cumprido. Sinto e desejava corrigir o
que aconteceu no final da época com a despromoção. Fica o sentimento de que
ficou algo por fazer e retribuir, principalmente aos adeptos e à gente de Palmela
que foram incansáveis. São decisões que tenho que respeitar. Quem anda nesta
vida tem que estar preparado e não pode ficar com mágoa ou ressentimento para com
as pessoas que tomaram a decisão porque certamente, tal como eu, também querem
o melhor para o clube.
Gostaria de ter
continuado?
Como disse atrás
sobretudo por esse sentimento de dever não cumprido. A despromoção foi um duro
golpe para mim, para o clube e para os seus adeptos. Nada mais me satisfaria do
que tentar colocar o clube onde ele deve estar. Mas a vida é assim, temos que
estar preparados para estas situações e compreendo, e aceito esta decisão.
Continuarei a ser Palmelense como sempre fui e apoiarei este clube domingo a
domingo, desejando que para o ano seja um ano de festejos e vitórias.
“Ninguém pode apontar o dedo aos jogadores”
Esta época foi
muito complicada para o Palmelense, desde o início tardio, devido à indefinição
da participação ou não do clube na 1.ª Divisão Distrital, até às últimas
jornadas na luta pela manutenção. Qual o balanço que faz do trabalho
desenvolvido ao longo da época?
Foi sem dúvida
uma época muito complicada. O clube viveu um impasse diretivo e a continuidade
e participação da equipa no campeonato esteve em risco. A época não foi de todo
bem planeada. As condições, principalmente do terreno, não foram as melhores e
tivemos que montar uma equipa em cima do joelho e jogar num campo que já não se
utiliza, que está ultrapassado no tempo e que não é motivador para ninguém. Em
termos de campeonato, penso que fizemos o que podíamos com as condições e
jogadores que tivemos, a quem não posso apontar nada, foram uns autênticos heróis.
Fizemos uma primeira volta muito fraca contabilizando apenas 7 pontos em 15
jogos, é muito pouco. Na segunda volta evoluímos bastante e fizemos o dobro dos
pontos porque a equipa já se mostrou mais organizada, mais unida e fomos sempre
um osso duro de roer para qualquer adversário. Fazendo bem as contas se
fizéssemos uma primeira volta como a segunda teríamos por certo assegurado a
manutenção. O resultado final acaba por ser muito negativo mas creio que ninguém
pode apontar o dedo a estes jogadores que tudo fizeram para evitar a
despromoção.
“Houve uma clara campanha para a despromoção do
Palmelense”
Durante a época
foi lamentando o excessivo número de jogadores expulsos e penaltis sofridos. Houve
alguma razão especial para que isto tivesse acontecido?
Não sei se houve
alguma razão especial mas já vi que na vida não se pode falar muito porque
somos castigados por isso. Só quem passou pela equipa esta época sabe aquilo
que passamos. Houve uma clara campanha para a despromoção do Palmelense. Esta é
a minha convicção, basta ver os números. 23 expulsões e 14 penaltis sofridos são
de facto um exagero para uma equipa super humilde e batalhadora, como a nossa.
Não coloco em causa as decisões mas sim a dualidade de critérios. Todas as
equipas deste campeonato batem, todos reclamam, todos ofendem mas neste caso
parece que só os miúdos de Palmela é que o fizeram, nunca houve margem de
manobra nem condescendência para com eles. Percebo e compreendo estas atitudes
embora não concorde com elas. Tínhamos o único pelado do campeonato e ninguém
gosta de pisar lama e areia, por isso penso que o clube e principalmente os jogadores
mereciam mais respeito. Não me estou a justificar ou a atribuir culpas às
arbitragens ou a quem quer que seja pela descida de divisão porque fui eu o
treinador e o principal responsável por tudo isto. Mas é a minha opinião.
“Motivar, treinar e trabalhar num pelado a custo
zero é super desmotivante”
Com um relvado
ali tão próximo o Palmelense foi obrigado a jogar no pelado do Cornélio Palma.
Isso terá pesado de forma negativa no rendimento da equipa ou terá sido uma
vantagem dado que era o único pelado da 1.ª Divisão Distrital?
Jogar
num pelado nunca será uma vantagem para ninguém porque o pelado não está lá só
ao Domingo. Motivar, treinar, trabalhar durante a semana na lama e num pelado a
custo zero é super desmotivador. Acabo a época com uma média de 9/10 jogadores
por treino e um plantel de apenas 16 jogadores. Ninguém quer jogar num pelado, nem
num jogo do campeonato quanto mais em quinze. Foi sem dúvida uma decisão muito
negativa para o planeamento e rendimento desta equipa que de positivo apenas
terá o regresso da massa adepta do clube que se identifica mais com o Cornélio
Palma. É um pouco desumano e triste ver todas as camadas jovens do clube
treinarem e jogarem num relvado e o expoente máximo do clube que são os
seniores terem que estar sujeitos a este tipo de condições.
As condições de
trabalho e o apoio a nível directivo foram satisfatórios?
Em
relação aos últimos dois anos que aqui trabalhei houve um progresso positivo
quer em termos de apoio diretivo quer em termos de organização durante a época
sendo que o campo em si não ajudou em nada o nosso trabalho. Este ano houve
mais apoio humano e mais atenção. A comissão está de parabéns porque tudo fez
para que estes jogadores tivessem o mínimo de condições para trabalhar. Uma
pena que não pudesse estar a falar em apoio diretivo pois neste ano até isso
esteve separado de nós.
Foi difícil
manter o grupo de trabalho até ao fim ou nem por isso?
Não
posso dizer que tenha sido fácil. Foi muito difícil motivar esta gente e fazê-los
acreditar que era possível. Acabámos por ter muitas desistências e finalizámos
o campeonato com 16 jogadores apenas. Este grupo de trabalho irá permanecer na
história do clube, são homens que nunca mais esquecerei. Foram uns heróis,
deram a cara e lutaram onde mais ninguém quis trabalhar. Deram tudo para evitar
a despromoção. Não conseguiram mas saíram de cabeça bem erguida porque nunca aceitaram
o fim como solução para as dificuldades e problemas do clube.
“Nunca irei virar as
costas ao clube do meu coração”
Queria só agradecer a todas as pessoas
que me enviaram palavras de conforto nos últimos dias e dizer que o Palmelense
não acabou, nem nunca irá acabar. Esta é apenas mais uma página que se vira. Tenho
que desejar as melhores felicidades ao novo comandante do clube. Assim,
quero deixar o meu grande agradecimento
principalmente aos jogadores que tive a honra de liderar durante estes 3 anos;
deixar uma palavra de apreço principalmente neste ano ao Abel, à Mena e à sua
família pela forma como nos receberam e apoiaram; à Teresa Monteiro e à
Julinha que sempre nos acompanharam e sofreram connosco jogo após jogo e a
todos aqueles que neste momento poderei estar esquecido mas que sempre estiveram
connosco desde o início do campeonato. Uma palavra forte aos RED FOX, que
mostraram aos jogadores e à vila o que é este clube e nos deram sempre uma
grande força nos momentos decisivos; ao Ismael Silvério, André
Silva, Bruno Malveiro e ao Calhitas por terem feito parte da minha equipa
técnica e que me ajudaram imenso nestes últimos anos. E, sobretudo à minha
família que foi a que mais sofreu com tudo isto; Ana Gonçalves e o meu
filhote que são a minha vida e a minha querida Mãe que amo muito. Quero que
todos saibam que fiz tudo o que estava ao meu alcance para ajudar o clube, que
dei tudo de mim em prol de todos e que nunca irei esquecer aquilo que passei
nestes três anos. Continuarei a ser do
Palmelense Futebol Clube como
sempre fui e domingo a domingo lá estarei sempre a torcer para que ele esteja no
lugar onde merece estar. Nunca irei virar as costas ao clube do meu coração.