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terça-feira, 9 de junho de 2015

PALMELENSE»»» Edu Machado não fica

Treinador faz balanço da época desportiva…

“TUDO O QUE FIZ FOI DE CORAÇÃO, DEI O MEU MELHOR, E DEI TUDO O QUE TINHA SEMPRE EM PROL DO CLUBE”


O Palmelense Futebol Clube, um dos históricos do nosso distrito, caiu na segunda divisão distrital. O 15.º lugar obtido na época que agora terminou foi de facto insuficiente e a despromoção acabou por ser uma triste realidade para o clube que recorde-se, esteve na eminência de nem sequer participar no campeonato.

A equipa de Palmela foi a última a ser inscrita e também a última a ser formada, facto que levou inclusivamente à desistência da Taça AF Setúbal pelo facto de começar a treinar precisamente na altura em que aquela competição estava para arrancar.

Edu Machado, que teve a coragem de formar e liderar o grupo de trabalho, sabia à partida que iria ter uma tarefa muito complicada porque se adivinhavam grandes complicações, mas nem por isso virou a cara à luta.

O início tardio dos trabalhos de preparação e o facto de a sua casa ser o pelado do Campo Cornélio Palma foram alguns dos pormenores que contribuíram para uma prestação menos positiva da equipa na primeira metade da competição. Com o evoluir do campeonato a equipa foi melhorando e na parte final ainda deu um arzinho da sua graça como se pode comprovar pela vitória alcançada no Campo da Bela Vista sobre o C. Indústria (3-0) e pelo empate imposto ao Amora (2-2). Mas de relevante foi também a vitória alcançada ainda ma primeira volta sobre o campeão [Barreirense], por 1-0.

Treinador e jogadores tudo fizeram para evitar a despromoção mas não conseguiram e isso terá certamente pesado na decisão da direcção recentemente eleita de não contar com Edu Machado para treinador na próxima temporada. A situação foi bem aceite por Edu Machado mas este ao mesmo tempo lamenta que não lhe tenha sido dada a oportunidade de voltar a colocar no clube no lugar onde ele merece estar.

Este foi apenas um dos vários assuntos abordados por Edu Machado na entrevista que concedeu ao JORNAL DE DESPORTO, em jeito de balanço sobre aquilo que foi a época desportiva de 2014/2015.

  
“Saio com o sentimento do dever não cumprido”

Edu Machado vai deixar de ser o treinador da equipa sénior do Palmelense. Quais as razões para a não continuidade no clube que treinava há três épocas?
Essa é uma pergunta que terá que fazer aos responsáveis e dirigentes do clube. A decisão foi tomada em análise feita por eles. Como tal, tenho que aceitar e respeitar sobretudo após os resultados finais (descida de divisão).

Depois de tudo o que fez pelo clube, sobretudo nesta última época, a pergunta é inevitável. Sai com alguma mágoa?
Não sei se mágoa será a melhor palavra. Nunca fui de desistir e quis sempre fazer parte da solução e não do problema. Tudo o que fiz foi de coração, dei o meu melhor, e dei tudo o que tinha sempre em prol do clube, dos jogadores e das suas cores. O sentimento com que saio é de dever não cumprido. Sinto e desejava corrigir o que aconteceu no final da época com a despromoção. Fica o sentimento de que ficou algo por fazer e retribuir, principalmente aos adeptos e à gente de Palmela que foram incansáveis. São decisões que tenho que respeitar. Quem anda nesta vida tem que estar preparado e não pode ficar com mágoa ou ressentimento para com as pessoas que tomaram a decisão porque certamente, tal como eu, também querem o melhor para o clube.

Gostaria de ter continuado?
Como disse atrás sobretudo por esse sentimento de dever não cumprido. A despromoção foi um duro golpe para mim, para o clube e para os seus adeptos. Nada mais me satisfaria do que tentar colocar o clube onde ele deve estar. Mas a vida é assim, temos que estar preparados para estas situações e compreendo, e aceito esta decisão. Continuarei a ser Palmelense como sempre fui e apoiarei este clube domingo a domingo, desejando que para o ano seja um ano de festejos e vitórias.

“Ninguém pode apontar o dedo aos jogadores”

Esta época foi muito complicada para o Palmelense, desde o início tardio, devido à indefinição da participação ou não do clube na 1.ª Divisão Distrital, até às últimas jornadas na luta pela manutenção. Qual o balanço que faz do trabalho desenvolvido ao longo da época?  
Foi sem dúvida uma época muito complicada. O clube viveu um impasse diretivo e a continuidade e participação da equipa no campeonato esteve em risco. A época não foi de todo bem planeada. As condições, principalmente do terreno, não foram as melhores e tivemos que montar uma equipa em cima do joelho e jogar num campo que já não se utiliza, que está ultrapassado no tempo e que não é motivador para ninguém. Em termos de campeonato, penso que fizemos o que podíamos com as condições e jogadores que tivemos, a quem não posso apontar nada, foram uns autênticos heróis. Fizemos uma primeira volta muito fraca contabilizando apenas 7 pontos em 15 jogos, é muito pouco. Na segunda volta evoluímos bastante e fizemos o dobro dos pontos porque a equipa já se mostrou mais organizada, mais unida e fomos sempre um osso duro de roer para qualquer adversário. Fazendo bem as contas se fizéssemos uma primeira volta como a segunda teríamos por certo assegurado a manutenção. O resultado final acaba por ser muito negativo mas creio que ninguém pode apontar o dedo a estes jogadores que tudo fizeram para evitar a despromoção.


“Houve uma clara campanha para a despromoção do Palmelense”

Durante a época foi lamentando o excessivo número de jogadores expulsos e penaltis sofridos. Houve alguma razão especial para que isto tivesse acontecido?

Não sei se houve alguma razão especial mas já vi que na vida não se pode falar muito porque somos castigados por isso. Só quem passou pela equipa esta época sabe aquilo que passamos. Houve uma clara campanha para a despromoção do Palmelense. Esta é a minha convicção, basta ver os números. 23 expulsões e 14 penaltis sofridos são de facto um exagero para uma equipa super humilde e batalhadora, como a nossa. Não coloco em causa as decisões mas sim a dualidade de critérios. Todas as equipas deste campeonato batem, todos reclamam, todos ofendem mas neste caso parece que só os miúdos de Palmela é que o fizeram, nunca houve margem de manobra nem condescendência para com eles. Percebo e compreendo estas atitudes embora não concorde com elas. Tínhamos o único pelado do campeonato e ninguém gosta de pisar lama e areia, por isso penso que o clube e principalmente os jogadores mereciam mais respeito. Não me estou a justificar ou a atribuir culpas às arbitragens ou a quem quer que seja pela descida de divisão porque fui eu o treinador e o principal responsável por tudo isto. Mas é a minha opinião.

“Motivar, treinar e trabalhar num pelado a custo zero é super desmotivante”

Com um relvado ali tão próximo o Palmelense foi obrigado a jogar no pelado do Cornélio Palma. Isso terá pesado de forma negativa no rendimento da equipa ou terá sido uma vantagem dado que era o único pelado da 1.ª Divisão Distrital?
Jogar num pelado nunca será uma vantagem para ninguém porque o pelado não está lá só ao Domingo. Motivar, treinar, trabalhar durante a semana na lama e num pelado a custo zero é super desmotivador. Acabo a época com uma média de 9/10 jogadores por treino e um plantel de apenas 16 jogadores. Ninguém quer jogar num pelado, nem num jogo do campeonato quanto mais em quinze. Foi sem dúvida uma decisão muito negativa para o planeamento e rendimento desta equipa que de positivo apenas terá o regresso da massa adepta do clube que se identifica mais com o Cornélio Palma. É um pouco desumano e triste ver todas as camadas jovens do clube treinarem e jogarem num relvado e o expoente máximo do clube que são os seniores terem que estar sujeitos a este tipo de condições.

As condições de trabalho e o apoio a nível directivo foram satisfatórios?
Em relação aos últimos dois anos que aqui trabalhei houve um progresso positivo quer em termos de apoio diretivo quer em termos de organização durante a época sendo que o campo em si não ajudou em nada o nosso trabalho. Este ano houve mais apoio humano e mais atenção. A comissão está de parabéns porque tudo fez para que estes jogadores tivessem o mínimo de condições para trabalhar. Uma pena que não pudesse estar a falar em apoio diretivo pois neste ano até isso esteve separado de nós.

Foi difícil manter o grupo de trabalho até ao fim ou nem por isso?
Não posso dizer que tenha sido fácil. Foi muito difícil motivar esta gente e fazê-los acreditar que era possível. Acabámos por ter muitas desistências e finalizámos o campeonato com 16 jogadores apenas. Este grupo de trabalho irá permanecer na história do clube, são homens que nunca mais esquecerei. Foram uns heróis, deram a cara e lutaram onde mais ninguém quis trabalhar. Deram tudo para evitar a despromoção. Não conseguiram mas saíram de cabeça bem erguida porque nunca aceitaram o fim como solução para as dificuldades e problemas do clube.

“Nunca irei virar as costas ao clube do meu coração”

Que terá ficado ainda por dizer, nesta nossa conversa?
Queria só agradecer a todas as pessoas que me enviaram palavras de conforto nos últimos dias e dizer que o Palmelense não acabou, nem nunca irá acabar. Esta é apenas mais uma página que se vira. Tenho que desejar as melhores felicidades ao novo comandante do clube.  Assim, quero deixar o meu grande agradecimento principalmente aos jogadores que tive a honra de liderar durante estes 3 anos; deixar uma palavra de apreço principalmente neste ano ao Abel, à Mena e à sua família pela forma como nos receberam e apoiaram; à Teresa Monteiro e à Julinha que sempre nos acompanharam e sofreram connosco jogo após jogo e a todos aqueles que neste momento poderei estar esquecido mas que sempre estiveram connosco desde o início do campeonato. Uma palavra forte aos RED FOX, que mostraram aos jogadores e à vila o que é este clube e nos deram sempre uma grande força nos momentos decisivos; ao Ismael Silvério, André Silva, Bruno Malveiro e ao Calhitas por terem feito parte da minha equipa técnica e que me ajudaram imenso nestes últimos anos. E, sobretudo à minha família que foi a que mais sofreu com tudo isto; Ana Gonçalves e o meu filhote que são a minha vida e a minha querida Mãe que amo muito. Quero que todos saibam que fiz tudo o que estava ao meu alcance para ajudar o clube, que dei tudo de mim em prol de todos e que nunca irei esquecer aquilo que passei nestes três anos. Continuarei a ser do Palmelense Futebol Clube como sempre fui e domingo a domingo lá estarei sempre a torcer para que ele esteja no lugar onde merece estar. Nunca irei virar as costas ao clube do meu coração.