André
Branco viveu situações muito complicadas…
“FUI
MASSAGISTA, CONDUTOR DA CARRINHA E ATÉ FIZ ALGUMAS FICHAS DE JOGO”
Esta
foi uma época verdadeiramente atípica para o Atlético Clube de Arrentela que
acabou por descer à 2.ª Divisão Distrital classificando-se em último lugar com
apenas oito pontos conquistados nos trinta jogos realizados, produto de duas vitórias
e outros tantos empates.
As
coisas não começaram nada bem e nas primeiras jornadas registou-se a primeira mudança
no comando técnico da equipa com a troca de Vítor Oliveira por Nuno Pinto que
também não resistiu muito tempo e cedeu o seu lugar a David Pequeno que
posteriormente deixou a equipa nas mãos do seu adjunto, André Branco.
Os
problemas eram muitos, a diferença pontual para os seus principais adversários
foi sendo cada vez maior e o destino começou a ser traçado muito cedo porque a
equipa não tinha argumentos para dar a volta à situação. A desmotivação era de
tal ordem que alguns jogadores começaram a abandonar tal como aconteceu mais
tarde com a própria direcção que também se demitiu.
A
crise estava instalada e aqui há que dar uma palavra de apreço a André Banco,
jovem estagiário, de 34 anos, que se viu obrigado a recorrer à equipa de juniores
para manter a equipa sénior em actividade até ao fim do campeonato. André
Branco, como disse nesta entrevista, fez de tudo um pouco, desde massagista, a
condutor da carrinha e a ser obrigado a preencher a ficha de jogo por não haver
directores para o fazer.
O
clube desceu de divisão é um facto mas pode dizer-se que caiu de pé e com muita
dignidade graças ao empenho e dedicação do seu jovem treinador que mostrou ser
um homem de carácter ao assumir riscos demasiado elevados na prova mais
importante do futebol setubalense.
“As condições não
foram as normais para um clube da 1.ª Divisão Distrital”
André, os
últimos momentos do campeonato foram vividos de forma quase dramática…
Foi
de facto, bastante penoso. As condições não foram as normais para um clube que
militava na 1.ª Divisão Distrital. E, assim, partíamos logo em desvantagem para
os jogos porque a situação não era favorável para os jogadores poderem treinar
de forma mais conveniente e ambiciosa.
Quer especificar
um pouco melhor?
Quando
viemos para o Arrentela não nos foi prometido mundos e fundos mas foi prometido
qualquer coisa. Depois, com o decorrer do tempo começámos a ver que as coisas
não estavam a ser como havíamos combinado de início. A inscrição de novos
jogadores foi recusada e logo aí o nosso trabalho ficou comprometido porque tínhamos
muitas lacunas no plantel e precisávamos de as colmatar com jogadores da nossa
confiança.
Daí o recurso a
alguns juniores?
Isso
aconteceu já na fase terminal porque o desespero de perder começou a
apoderar-se do balneário. As condições não eram as normais para uma equipa de
seniores, a todos os níveis, e os jogadores começaram a sentir-se desapoiados
por toda a gente. A direcção não nos acompanhou, os directores não estavam
presentes nos jogos e eu comecei a fazer um pouco de tudo, desde massagista, condutor
da carrinha e até fazer as fichas dos jogos. Quando as coisas são assim ainda
mais complicado se torna porque não nos conseguimos concentrar no papel de
treinador.
Ficou desiludido
com a situação?
Não
diria isso porque o Arrentela é um clube que me diz muito. Esta é a minha
segunda passagem pelo clube e guardo a melhor recordação de pessoas que tenho
no coração. Não fiquei desiludido mas fiquei triste, como é óbvio, porque para
além dos resultados desportivos há que ter também em conta a nossa forma de ser
e o nosso dia-a-dia. Ou seja, valores humanos que para mim contam muito.
“Sou um homem
livre para abraçar qualquer projecto”
E o seu futuro
como vai ser. Já tem alguma coisa em perspectiva?
Neste
momento, sou um homem livre para abraçar qualquer projecto. Estou a acabar o
curso de Nível I e vou ficar à espera que surjam convites. Sou um treinador
ambicioso e tenho sempre vontade de aprender mais. Tenho a noção que esta época
dei um pulo muito grande na minha carreira de treinador. Comecei no Fabril, no
Campeonato Nacional de Seniores onde estava a estagiar com o Manuel Correia,
depois vim para o Arrentela como adjunto do David Pequeno e com a saída deste
acabei por assumir as funções de treinador principal. Foi uma subida abrupta na
minha carreira porque não foi calculada desta forma mas ao mesmo tempo
enriquecedora. Espero que isto me tenha servido de exemplo.
A sua ideia
passa por treinar uma equipa de seniores ou também de outros escalões?
Este
foi o meu primeiro ano como estagiário e por isso não acredito que possa vir a treinar
já esta época uma equipa de seniores. Neste escalão provavelmente só como adjunto.
Assim sendo, é evidente que estou receptivo a treinar qualquer escalão porque
quero evoluir e dar continuidade à minha carreira de treinador.
Quer acrescentar
mais alguma coisa sobre esta sua experiência no Arrentela?
Queria
apenas agradecer às pessoas que me acompanharam nomeadamente aos directores António
e Cajica que nunca abandonaram o clube, ao senhor Décio Sousa [pai de um atleta]
e a todos os jogadores que fizeram parte deste grupo de resistentes porque
foram verdadeiros guerreiros. Para mim, os grandes homens vêem-se nestes
momentos difíceis. Para eles aqui fica o meu agradecimento especial, todos eles
me ficam no coração, tal como fica o clube”.