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sexta-feira, 10 de abril de 2015

RICARDO PARDAL»» As saudades do balneário são muitas

Está totalmente disponível para abraçar um novo projecto…

TREINADOR TEM UMA VONTADE ENORME DE REGRESSAR

Ricardo Pardal, de 34 anos, que nas duas últimas épocas e meia realizou um excelente trabalho como treinador do União Banheirense, está sem clube mas com uma vontade enorme de regressar.

Em entrevista concedida ao nosso jornal o técnico respondeu de forma aberta e franca a todas as questões colocadas explicando desta forma as razões que o levaram a deixar o clube, das saudades que tem do balneário, do nervoso miudinho dos jogos, da planificação e do treino em si, dos campeonatos distritais da 1.ª e 2.ª divisão, da sua relação com os árbitros e da sua disponibilidade para abraçar um novo projecto desde que seja credível.


“Eu só queria ser treinador mas nestas duas épocas e meia fui patrocinador, roupeiro, massagista, motorista, director…”


Quando saiu da União Banheirense muita gente não queria acreditar porque se tratava de uma pessoa que vivia o clube de uma forma muito especial. Agora que já passou algum tempo quer especificar melhor por que razão abandonou o cargo de treinador?
É verdade que criei juntamente com a minha equipa técnica uma ligação muito forte com o clube, mas essencialmente com os jogadores que por lá foram passando. Quando chegámos ao clube não existia futebol, reactivámos a modalidade com muito esforço, muito sacrifício, a bater de porta em porta para angariarmos dinheiro, a fazer rifas todas as semanas, vendidas pelos jogadores e pela equipa técnica, para pagarmos as despesas. Só quem viveu esta situação sabe dar o valor devido a este esforço. Tínhamos um projecto a três anos, em que no primeiro ano passava por construir uma equipa competitiva com gente humilde e cumpridora, bem como aproximar os Banheirenses ao clube e trazê-los de volta à nossa Sede que praticamente não era frequentada. No segundo ano seriamos candidatos à subida e no terceiro ano queríamos estabilizar o clube na 1.ª Divisão Distrital. A verdade é que fizemos uma primeira época fantástica, não subimos directamente por apenas um golo, mas acabámos por ser repescados devido à desistência do Desportivo Portugal. Redefinimos o plantel para na segunda época, muito mais exigente numa 1.ª Divisão Distrital, onde éramos claramente o patinho feio da competição. Voltámos a surpreender fazendo um campeonato super- tranquilo e chegámos à final da Taça AFS. Nesta terceira época construímos um plantel para ficar nos primeiros cinco classificados e tenho a convicção que é o que vai acontecer. Os jogadores têm muita qualidade e uma postura muito digna, penso que com outras condições que não havia na minha altura, os objectivos poderiam ser até mais ambiciosos. A minha saída aconteceu devido sobretudo à quebra de confiança do Departamento de Futebol. Senti que estava a ser empurrado para fora do comando técnico da equipa, muitas questões se levantavam, tudo se questionava, falta de apoio, e eu como nunca gostei que me empurrassem resolvi sair pelo meu próprio pé. Creio que foi a melhor opção que devia ter tomado, pois parece que o clube passou a ter outras condições que comigo não eram possíveis. Saí com a mágoa de nem sequer um telefonema ter recebido do presidente do clube para que eu reconsiderasse a minha decisão. Na altura, o clube emitiu um comunicado onde afirmava que tudo tinha feito para que eu voltasse atrás na minha decisão mas isso não foi verdade. A verdade tem de ser reposta. No fundo, acabou por pesar uma série de factores na minha decisão, porque eu só queria ser treinador, e no fundo nestas duas épocas e meia, fui patrocinador, roupeiro, massagista, motorista, director e mais algumas funções, tudo tem um limite e eu atingi o meu.

“As saudades do balneário, o nervoso miudinho dos jogos, a planificação dos treinos e o treino em si, são enormes”


Depois dos momentos bons que passou [e provavelmente de outros menos bons], suponho que não foi fácil tomar a decisão?
Não foi nada fácil, nada mesmo. Posso adiantar que foi das decisões mais difíceis que tomei em toda a minha vida, mas não havia outra solução. Ainda reuni com os capitães e a minha equipa técnica na segunda-feira a seguir à minha demissão, mas já não houve possibilidade para continuar por parte da Direcção do clube.


Como é que tem passado este período de inactividade. Ou seja, não tem sentido falta do cheiro do balneário e da adrenalina própria do jogo?
A princípio foi complicado. Estava há duas épocas e meia à frente do grupo e a rotina quebrada com a minha saída deixou um vazio no meu dia-a-dia, para além de ter uma ligação muito forte com todos os jogadores, o que ainda custou mais. Mas o ser humano é um animal de hábitos e com maior ou menor dificuldade as coisas foram normalizando mas de facto as saudades do balneário, o nervoso miudinho dos jogos, a planificação dos treinos e o treino em si, são enormes.




"Na 1.ª Divisão Amora e Barreirense são mesmo os mais fortes e na 2.ª Divisão está tudo muito renhido”

Certamente tem acompanhado os campeonatos distritais. Qual a sua opinião, estão a decorrer dentro daquilo que perspectivava ou considera que algo de anormal de passou com um ou outro clube?
Sim, tenho acompanhado todas as semanas. Na 1.ª Divisão Distrital em relação à subida era o que eu perspectivava. Luta a dois, com um Amora muito forte e muito bem orientado, em que o plantel que está junto há muito tempo faz do colectivo a sua principal arma e o Barreirense com as contratações a meio da época a ficar muito mais forte para discutir a subida até final, ombro a ombro com o Amora. Depois, para mim, a surpresa pela positiva foi o Comercio Indústria, também muito bem orientado pelo Carlos Ribeiro que tem muitos anos de futebol distrital e tem feito um excelente campeonato. Pela negativa, o Almada, o Grandolense e o U. Santiago que começaram bem mas rapidamente quebraram as suas prestações e ocupam neste momento ocupam posições muito abaixo do que inicialmente perspectivavam. Na luta pela permanência não há surpresas, o Arrentela e o Palmelense cedo foram ficando na cauda da tabela e todos sabemos que quando lá caímos dificilmente se consegue sair. Contudo, quero enaltecer o trabalho do Edu, não é nada fácil trabalhar com as condições [ou falta delas] que o Palmelense tem. Sem dúvida que o Edu tem feito das tripas coração para salvar o Palmelense da descida anunciada. Sei dar o valor, pois passei pelo mesmo. Na 2.ª Distrital está tudo em aberto, tudo bem mais renhido, pois tanto Pescadores [para mim o mais forte candidato] como a ADQC, o Paio Pires e o Vasco da Gama podem ainda subir. Apesar da ADQC ter o plantel mais forte dos perseguidores ao primeiro classificado e o meu amigo Pinéu estar a realizar uma recuperação excelente com um futebol muito positivo, muito ofensivo, considero que está tudo em aberto porque no futebol há muitas surpresas.

“Fui aconselhado a não falar publicamente sobre as arbitragens”

E sobre a arbitragem? Na qualidade de treinador da U. Banheirense costumava ser bastante crítico para com os árbitros. Porquê?
Extra-futebol tenho algumas boas amizades com árbitros do nosso distrito, principalmente com aqueles que estão no futebol da mesma forma que eu, de forma humilde. Mas a verdade é que existem alguns árbitros que usam e abusam da autoridade que têm, e eu por criticar algumas arbitragens (também elogiei outras) tornei-me num alvo. Em conversa com um árbitro durante o aquecimento de um jogo em casa, acabou por me confidenciar que eu não me deveria manifestar publicamente em relação às arbitragens porque no final de cada semana o meu nome e o de outros era falado entre a classe. Inconscientemente ou não, os árbitros já iam com o pé atrás, e há mínima situação prejudicavam a minha equipa. Como é público, as queixas sobre arbitragens são muitas todas as semanas. Não quero acreditar em perseguições mas que por vezes parece, parece. Tenho o maior respeito pelos árbitros mas todos estamos sujeitos à crítica, quer sejam jogadores, treinadores, directores e árbitros.


Está receptivo a regressar ao activo já na próxima época?
Sim, estou totalmente disponível. Esta paragem serviu para continuar a evoluir, todas as semanas observo jogos de várias divisões e isso tem-me permitido construir uma base de dados de jogadores do nosso distrito que me poderá ser útil num futuro próximo. A vontade de voltar é enorme.


Que tipo de projecto gostaria de abraçar?
Essencialmente uma equipa sénior, quer seja da 1.ª ou 2.ª Divisão Distrital, mas que tenha condições para trabalhar em termos de infra-estruturas e com os objectivos bem definidos e claros. Sei que na 1.ª Divisão existem muitas equipas que lutam pela subida, ou pelo menos assumem-se como tal. É evidente que os projectos de subida são mais aliciantes, mas existem muito boas equipas que apesar de não lutarem pela subida têm boas condições e equipas competitivas. Em relação à 2.ª Divisão só aceitaria um convite onde a subida fosse o objectivo principal porque em minha opinião quem participa nesta divisão tem que ter esse objectivo.


Já foi sondado por algum clube?
Sim, foram feitas algumas abordagens, quer de clubes da 1.ª quer da 2.ª Divisão Distrital mas não passaram disso mesmo, uns porque no meu entender não existiam condições para fazer um bom trabalho e outras porque a situação que atravessavam na tabela classificativa foi normalizando de acordo com os objectivos propostos.