Está totalmente disponível
para abraçar um novo projecto…
TREINADOR TEM
UMA VONTADE ENORME DE REGRESSAR
Ricardo
Pardal, de 34 anos, que nas duas últimas épocas e meia realizou um excelente
trabalho como treinador do União Banheirense, está sem clube mas com uma
vontade enorme de regressar.
Em
entrevista concedida ao nosso jornal o técnico respondeu de forma aberta e
franca a todas as questões colocadas explicando desta forma as razões que o levaram
a deixar o clube, das saudades que tem do balneário, do nervoso miudinho dos
jogos, da planificação e do treino em si, dos campeonatos distritais da 1.ª e
2.ª divisão, da sua relação com os árbitros e da sua disponibilidade para
abraçar um novo projecto desde que seja credível.
“Eu só queria
ser treinador mas nestas duas épocas e meia fui patrocinador, roupeiro, massagista,
motorista, director…”
Quando saiu da
União Banheirense muita gente não queria acreditar porque se tratava de uma
pessoa que vivia o clube de uma forma muito especial. Agora que já passou algum
tempo quer especificar melhor por que razão abandonou o cargo de treinador?
É
verdade que criei juntamente com a minha equipa técnica uma ligação muito forte
com o clube, mas essencialmente com os jogadores que por lá foram passando. Quando
chegámos ao clube não existia futebol, reactivámos a modalidade com muito
esforço, muito sacrifício, a bater de porta em porta para angariarmos dinheiro,
a fazer rifas todas as semanas, vendidas pelos jogadores e pela equipa técnica,
para pagarmos as despesas. Só quem viveu esta situação sabe dar o valor devido
a este esforço. Tínhamos um projecto a três anos, em que no primeiro ano
passava por construir uma equipa competitiva com gente humilde e cumpridora,
bem como aproximar os Banheirenses ao clube e trazê-los de volta à nossa Sede
que praticamente não era frequentada. No segundo ano seriamos candidatos à
subida e no terceiro ano queríamos estabilizar o clube na 1.ª Divisão Distrital.
A verdade é que fizemos uma primeira época fantástica, não subimos directamente
por apenas um golo, mas acabámos por ser repescados devido à desistência do Desportivo
Portugal. Redefinimos o plantel para na segunda época, muito mais exigente numa
1.ª Divisão Distrital, onde éramos claramente o patinho feio da competição. Voltámos
a surpreender fazendo um campeonato super- tranquilo e chegámos à final da Taça
AFS. Nesta terceira época construímos um plantel para ficar nos primeiros cinco
classificados e tenho a convicção que é o que vai acontecer. Os jogadores têm
muita qualidade e uma postura muito digna, penso que com outras condições que não
havia na minha altura, os objectivos poderiam ser até mais ambiciosos. A minha saída
aconteceu devido sobretudo à quebra de confiança do Departamento de Futebol. Senti
que estava a ser empurrado para fora do comando técnico da equipa, muitas
questões se levantavam, tudo se questionava, falta de apoio, e eu como nunca
gostei que me empurrassem resolvi sair pelo meu próprio pé. Creio que foi a
melhor opção que devia ter tomado, pois parece que o clube passou a ter outras condições
que comigo não eram possíveis. Saí com a mágoa de nem sequer um telefonema ter
recebido do presidente do clube para que eu reconsiderasse a minha decisão. Na
altura, o clube emitiu um comunicado onde afirmava que tudo tinha feito para
que eu voltasse atrás na minha decisão mas isso não foi verdade. A verdade tem
de ser reposta. No fundo, acabou por pesar uma série de factores na minha
decisão, porque eu só queria ser treinador, e no fundo nestas duas épocas e
meia, fui patrocinador, roupeiro, massagista, motorista, director e mais
algumas funções, tudo tem um limite e eu atingi o meu.
“As saudades do
balneário, o nervoso miudinho dos jogos, a planificação dos treinos e o treino
em si, são enormes”
Depois dos
momentos bons que passou [e provavelmente de outros menos bons], suponho que
não foi fácil tomar a decisão?
Não
foi nada fácil, nada mesmo. Posso adiantar que foi das decisões mais difíceis que
tomei em toda a minha vida, mas não havia outra solução. Ainda reuni com os capitães
e a minha equipa técnica na segunda-feira a seguir à minha demissão, mas já não
houve possibilidade para continuar por parte da Direcção do clube.
Como é que tem
passado este período de inactividade. Ou seja, não tem sentido falta do cheiro
do balneário e da adrenalina própria do jogo?
A
princípio foi complicado. Estava há duas épocas e meia à frente do grupo e a
rotina quebrada com a minha saída deixou um vazio no meu dia-a-dia, para além
de ter uma ligação muito forte com todos os jogadores, o que ainda custou mais.
Mas o ser humano é um animal de hábitos e com maior ou menor dificuldade as
coisas foram normalizando mas de facto as saudades do balneário, o nervoso
miudinho dos jogos, a planificação dos treinos e o treino em si, são enormes.
"Na 1.ª Divisão Amora e Barreirense são mesmo os mais fortes e na 2.ª Divisão está tudo muito renhido”
Certamente tem
acompanhado os campeonatos distritais. Qual a sua opinião, estão a decorrer
dentro daquilo que perspectivava ou considera que algo de anormal de passou com
um ou outro clube?
Sim,
tenho acompanhado todas as semanas. Na 1.ª Divisão Distrital em relação à
subida era o que eu perspectivava. Luta a dois, com um Amora muito forte e
muito bem orientado, em que o plantel que está junto há muito tempo faz do
colectivo a sua principal arma e o Barreirense com as contratações a meio da
época a ficar muito mais forte para discutir a subida até final, ombro a ombro
com o Amora. Depois, para mim, a surpresa pela positiva foi o Comercio Indústria,
também muito bem orientado pelo Carlos Ribeiro que tem muitos anos de futebol
distrital e tem feito um excelente campeonato. Pela negativa, o Almada, o
Grandolense e o U. Santiago que começaram bem mas rapidamente quebraram as suas
prestações e ocupam neste momento ocupam posições muito abaixo do que
inicialmente perspectivavam. Na luta pela permanência não há surpresas, o
Arrentela e o Palmelense cedo foram ficando na cauda da tabela e todos sabemos
que quando lá caímos dificilmente se consegue sair. Contudo, quero enaltecer o
trabalho do Edu, não é nada fácil trabalhar com as condições [ou falta delas] que
o Palmelense tem. Sem dúvida que o Edu tem feito das tripas coração para salvar
o Palmelense da descida anunciada. Sei dar o valor, pois passei pelo mesmo. Na
2.ª Distrital está tudo em aberto, tudo bem mais renhido, pois tanto Pescadores
[para mim o mais forte candidato] como a ADQC, o Paio Pires e o Vasco da Gama
podem ainda subir. Apesar da ADQC ter o plantel mais forte dos perseguidores ao
primeiro classificado e o meu amigo Pinéu estar a realizar uma recuperação
excelente com um futebol muito positivo, muito ofensivo, considero que está
tudo em aberto porque no futebol há muitas surpresas.
“Fui aconselhado
a não falar publicamente sobre as arbitragens”
E sobre a
arbitragem? Na qualidade de treinador da U. Banheirense costumava ser bastante
crítico para com os árbitros. Porquê?
Extra-futebol
tenho algumas boas amizades com árbitros do nosso distrito, principalmente com aqueles
que estão no futebol da mesma forma que eu, de forma humilde. Mas a verdade é
que existem alguns árbitros que usam e abusam da autoridade que têm, e eu por
criticar algumas arbitragens (também elogiei outras) tornei-me num alvo. Em
conversa com um árbitro durante o aquecimento de um jogo em casa, acabou por me
confidenciar que eu não me deveria manifestar publicamente em relação às
arbitragens porque no final de cada semana o meu nome e o de outros era falado
entre a classe. Inconscientemente ou não, os árbitros já iam com o pé atrás, e há
mínima situação prejudicavam a minha equipa. Como é público, as queixas sobre
arbitragens são muitas todas as semanas. Não quero acreditar em perseguições
mas que por vezes parece, parece. Tenho o maior respeito pelos árbitros mas
todos estamos sujeitos à crítica, quer sejam jogadores, treinadores, directores
e árbitros.
Está receptivo a
regressar ao activo já na próxima época?
Sim,
estou totalmente disponível. Esta paragem serviu para continuar a evoluir, todas
as semanas observo jogos de várias divisões e isso tem-me permitido construir uma
base de dados de jogadores do nosso distrito que me poderá ser útil num futuro próximo.
A vontade de voltar é enorme.
Que tipo de
projecto gostaria de abraçar?
Essencialmente
uma equipa sénior, quer seja da 1.ª ou 2.ª Divisão Distrital, mas que tenha condições
para trabalhar em termos de infra-estruturas e com os objectivos bem definidos
e claros. Sei que na 1.ª Divisão existem muitas equipas que lutam pela subida, ou
pelo menos assumem-se como tal. É evidente que os projectos de subida são mais
aliciantes, mas existem muito boas equipas que apesar de não lutarem pela
subida têm boas condições e equipas competitivas. Em relação à 2.ª Divisão só
aceitaria um convite onde a subida fosse o objectivo principal porque em minha opinião
quem participa nesta divisão tem que ter esse objectivo.
Já foi sondado
por algum clube?
Sim,
foram feitas algumas abordagens, quer de clubes da 1.ª quer da 2.ª Divisão
Distrital mas não passaram disso mesmo, uns porque no meu entender não existiam
condições para fazer um bom trabalho e outras porque a situação que atravessavam
na tabela classificativa foi normalizando de acordo com os objectivos
propostos.