PORTUGUESES LÁ POR FORA…

Jovem técnico da Margem Sul dá que falar na Finlândia…

Diogo Nobre mais um treinador português a fazer sucesso no estrangeiro

Diogo Nobre (de branco), Hugo Henriques (agachado) e André Miranda (de pé)

Diogo Nobre, de 28 anos, está a fazer sucesso na Finlândia, onde se encontra ao serviço do Peimari United que nos dois últimos anos conquistou outros tantos títulos e naturalmente duas subidas de divisão na categoria de seniores.

Natural de Corroios, Diogo Nobre começou a sua ligação ao futebol como praticante no Vale de Milhaços, passando depois pelo Estrela da Amadora e Oriental. No regresso à margem sul, na sua primeira época de sénior, tentou a sua sorte no Seixal mas acabou por não ser inscrito, por falta de dinheiro e, como não havia tempo para procurar outro clube, aceitou ser treinador adjunto nos juvenis do Almada, aos 19 anos. Depois passou pelo Olivais e Moscavide, CAC e nas suas três últimas épocas em Portugal esteve no C. Piedade e no Desp. Fabril como adjunto na 3.ª Divisão Nacional. A sua ida para a Finlândia surgiu na sequência de uma viagem que o clube fez a Portugal e ao interesse demonstrado pelo presidente em desenvolver a prática do futebol na sua região.

Diogo Nobre, que é o responsável por todo o futebol do clube, começou no escalão sénior pela 6.ª divisão daquele país e nesta altura acaba de se sagrar campeão da 5.ª divisão, apesar de faltarem disputar ainda algumas jornadas. Quer isto dizer que no seu percurso pelo clube conta já com dois títulos de campeão na categoria sénior, para além de outros noutros escalões. Com Diogo Nobre, estão também naquele país outros atletas portugueses da nossa região que têm igualmente encantado os finlandeses com a magia do seu futebol.

“É para mim um orgulho trazer tanta felicidade a esta gente”

Vamos então falar um pouco com Diogo Nobre para ficarmos a saber como se sente com o sucesso que está a alcançarr naquele país:

Ainda faltam algumas jornadas para o fim do campeonato mas o Peimari United já festejou o título de campeão. Como é que se sente nesta altura como líder do grupo?
Sinto-me radiante! Não só com o título dos seniores, mas também com o título de campeões regionais que conseguimos no escalão de juvenis onde também sou treinador principal. Talvez tenha sido o título mais difícil da minha carreira, pela falta de motivação/disciplina e alguma qualidade dos rapazes, no início. Mas penso que neste momento o “vírus Peimari United” está a infectar toda a comunidade, e tal como o meu capitão sénior Samuli diz: “parece que o nosso clube faz descobrir nas pessoas coisas que nem eles sonhavam ter. E, como toda a gente treina tão forte, é normal isto espalhar-se também aos dos outros escalões e aos atletas novos que entram”. Esta frase para mim, representa o espírito que se vive neste clube “da aldeia” que compete diariamente em vários escalões contra equipas de cidades grandes como Turku e Salo, de igual para igual. Mais do que os títulos e objetivos pessoais, é para mim um orgulho trazer tanta felicidade a esta gente que simplesmente nunca esteve habituada a ganhar nada.

Equipa que jogou a 18.ª jornada, e que se tornou campeã 

Foi mais fácil do que esperava ou nem por isso?
Para dizer a verdade, sabia que tínhamos valor para fazer uma grande primeira volta durante a primavera porque já tinha observado jogos desta divisão o ano passado, e com o plantel todo disponível, sabia que poderia ir para férias na liderança. O nosso problema era tentar prever o que aconteceria depois da pausa de Julho, pois como já disse, cinco jogadores nossos, entre os quais 4 habituais titulares e um suplente bastante utilizado, foram obrigados a deixar a equipa devido ao serviço militar que é obrigatório na Finlândia. Assim, tivemos de refazer a ala direita toda, mexer no meio campo, trocar de ponta de lança e contratar um novo guarda-redes após o Pedro Cardoso ter informado que iria sair. O mais incrível de tudo isto, é que estamos a fazer uma 2ª volta ainda melhor que a primeira. Temos 7 vitórias em 7 jogos, e nas primeiras 4 jornadas sofremos 3 golos, mas depois de os novos jogadores adquirirem os nossos princípios no processo defensivo, já estamos há 3 jornadas sem sofrer golos o que é excelente. Posso-lhe dizer que neste momento temos um jogador nascido em 97 e 4 nascidos em 96 no onze base inicia. Também estreamos os 2 jogadores mais promissores de 98 nalguns momentos menos difíceis das partidas, e toda a equipa continua a evoluir, esperando que a próxima época traga de volta os rapazes do exército que são sem dúvida a geração mais talentosa deste clube (1995) para atacarmos a subida de novo, desta vez à 3ª divisão.

“Toda a gente confia no nosso trabalho e os resultados estão à vista”

Em dois anos, dois títulos e duas subidas de divisão. Qual tem sido o segredo para tão forte desempenho?
Penso que é o trabalho sério que eu, o Hugo e o André estamos a realizar com toda a estrutura do clube. Sabe, todos nós abdicámos de muito para estar aqui longe de tudo e todos os que amamos, portanto simplesmente não podemos falhar. Vivemos juntos na mesma casa, e “pensamos o projecto Peimari United” 24 horas por dia e formas de melhorar a equipa sénior, mas também de formar mais jogadores com qualidade nos escalões de base, porque esta tornou-se a nossa própria casa. Portanto, assumimos com muita responsabilidade o sucesso de todo o projecto. Fomos contratados como “especialistas” para vir fazer a diferença, a 5000km de casa, e é para isso que trabalhamos muito todos os dias, não podemos desapontar ninguém. O clube fala todo a uma só voz, temos um caminho delineado, que toda a gente segue com grande disciplina, temos reuniões mensais, invés de “conversas de corredor”, com todos os elementos do clube para discutir pontos de situação, e tudo é organizado e detalhado ao pormenor, sem desvios, pois toda a gente confia imenso no nosso trabalho, e os resultados estão á vista: não só todos os escalões foram já campeões regionais em algum período, mas também sub-13 do Hugo estão neste momento a liderar a chamada “Liiga” onde participam todos os clubes profissionais da zona (TPS, Inter Turku, etc), depois de no ano passado ter sido campeão regional. Obviamente que os jogadores portugueses que trouxemos, também são parte muito importante deste sucesso, foram escolhidos a dedo para ser um exemplo para os outros jogadores, e fazerem evoluir a equipa e os colegas mais jovens, estando a ser uma parte importante do sucesso da equipa sénior.

 "Cerveja do titulo" - Depois de muito suor todo o ano, os rapazes mereceram
champagne e uma cerveja no fim do jogo

Os finlandeses devem estar radiantes com o trabalho desenvolvido pelos portugueses, onde se inclui a equipa técnica e os jogadores?
Penso que sim, tendo em conta os treinadores, penso que somos vistos como os líderes que “trouxeram uma varinha mágica” para pôr todas as equipas a ganhar títulos, o que é bastante engraçado. Os nossos jogadores portugueses, são vistos como estrelas. Toda a gente admira bastante o Adimar Neves, por ser um gigante no processo defensivo, mas recentemente os mais pequeninos começaram a ver o Gonçalo Cruz como um ídolo, pois bateu recentemente o record de golos do clube (18 em 18 jogos) e lidera nas assistências. Como os pequenos finlandeses raramente vêm futebol na TV, só conhecem 2 jogadores portugueses que marcam tantos golos, o Cristiano Ronaldo e o Gonçalo Cruz, o que faz com que os feedbacks sejam bastante positivos para ele, que se ri bastante quando fazem esta comparação. O Diogo chegou á pouco tempo, e está encarregue de treinar os gr mais jovens do clube, que tal como aconteceu com o Pedro, seguem as suas instruções á risca e levam muito a sério.

A cobiça de outros clubes

A qualidade do trabalho desenvolvido ainda não despertou a cobiça de outros clubes, nomeadamente de divisões superiores?
Bem, tendo em conta os jogadores, o Adimar Neves já tem neste momento uma proposta concreta da 2ª divisão dum clube bastante importante na zona e que é satélite do FC Inter (1ª liga), um dos maiores clubes da Finlândia. O Gonçalo Cruz tem sido bastante seguido pelo FC Inter, esteve lá uma semana num período de testes, e estamos só á espera para ver se vai surgir alguma proposta, mas ele sofreu uma pequena lesão neste momento, o que pode atrasar o processo. Seja como for eles fizeram um grande trabalho toda a época, e merecem sair para um nível bastante superior, de modo que nem eu nem o clube “lhes podemos cortar as pernas”, vamos aguardar para ver o que acontece agora no final de época (Novembro), embora eu gostasse de ficar com os dois é claro. Em relação a mim (e equipa técnica) somos todos bastante jovens, estamos a disfrutar do nosso percurso, a ganhar títulos, e não temos pressa. No meu caso, prometi ao meu presidente deixar o clube na 3ª divisão (o que pode acontecer para o ano) e quero cumprir para retribuir a confiança que depositaram em mim. Sei que muita gente segue o meu trabalho, mas para sair, só quero sair para clubes da 1ª liga senão não vale a pena, porque aqui consigo chegar “facilmente” à 2.ª divisão, e o meu contrato está, monetariamente, nesse nível também, portanto prefiro esperar uma coisa bastante mais ambiciosa que o Peimari, que até agora ainda não chegou. Seja como for, o adjunto da selecção A da Finlândia conhece-me e gostou muito do meu trabalho, e disse que me “encaixava” no curso UEFA A que vai começar no centro de estágios da selecção em Janeiro. Obviamente que vou aceitar, porque me vai permitir evoluir na minha carreira e talvez abrir outras portas, mas tal como eu disse, para já estou bem no Peimari.

Esta época ainda não terminou. De qualquer forma, aqui fica a pergunta, Já começou a pensar na próxima?

Gonçalo Cruz celebra no balneário a conquista do campeonato 

Claro, sou um treinador bastante ambicioso, e tal como no xadrez temos de pensar sempre “algumas jogadas á frente” para garantirmos o sucesso quando chega o momento. No último sábado festejámos o título, e no domingo comecei logo a pensar na próxima época, e a maneira de continuar a garantir que tenho uma equipa candidata de novo à subida. Neste momento, estou já a tentar perceber em que altura chegam os rapazes do exército (alguns a tempo da pré-epoca felizmente), tento perceber que jogadores portugueses tenho à disposição, e que jogadores posso contratar se os meus portugueses forem alvos de cobiça de clubes maiores e saírem. Estabelecemos há muito um “modelo de jogador” que se adequa ao nosso modelo de jogo e uma base de dados grande, de jogadores maioritariamente da Margem Sul, portanto se alguém sair temos de ir contratar, para continuar a garantir a evolução do projeto. Estamos já á procura de novas maneiras de financiamento do clube, porque brevemente estamos a entrar nos escalões “semi-profissionais” e temos de garantir que o clube não fica “preso” na 3ª ou 2ª divisão para sempre, pois não é o nosso objetivo. Para rentabilizar ao máximo os nossos jovens de 96/97 que têm algum valor, sem queimar etapas de formação e sem “os atirar aos leões” nos campeonatos seniores, vamos pela 1ª vez abrir para o ano, uma equipa de Juniores, que é novidade na zona, pois só os clubes de Top conseguem ter este escalão na Finlândia, visto que o serviço militar obrigatório não permite a normal formação dos jovens que têm de sair das suas zonas de residência com 18 anos. Esta equipa tem como objetivo servir de “plataforma de lançamento” aos nossos jovens do clube, num campeonato muito competitivo, mas também captar outros jogadores da zona, que tenham desistido de praticar futebol por os clubes raramente manterem um plantel inteiro de Juniores a competir nos campeonatos oficiais.