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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

AF SETÚBAL»» Aníbal Guerreiro presidente do Conselho de Arbitragem

Muita coisa vai mudar na arbitragem setubalense

"Quem quiser ser árbitro tem de realizar os mínimos exigidos quer nos testes escritos quer nos testes físicos"


No arranque da nova época desportiva, o nosso jornal foi ao encontro do presidente do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Setúbal, Aníbal Guerreiro, com o objectivo de abordar as principais questões relacionadas com a arbitragem e saber quais os objectivos mais prementes para a época desportiva de 2013/2014.


Na conversa que mantivemos com o novo rosto da arbitragem setubalense falámos dos casos que aconteceram na temporada anterior, dos novos valores que estão a despontar, dos efeitos causados pela alteração aos quadros competitivos, das novidades relacionadas com a formação e classificação dos árbitros a nível distrital, bem como das nomeações.


Aníbal Guerreiro fez também o balanço dos primeiros 10 meses do exercício das suas funções.


“A arbitragem precisa de paz”

Estamos no início de mais uma época desportiva. Como presidente do Conselho de Arbitragem como é deseja que venha a ser?
Que seja uma época tranquila e que todos os jogadores e outros intervenientes no jogo colaborem porque a arbitragem precisa de paz. Se não for melhor, que seja pelo menos igual à época passada que teve alguns casos pontuais mas nada de transcendente. A nível de seniores porque às vezes os jogadores perdem a cabeça sem razão aparente para que isso aconteça e a nível dos escalões mais baixas devido principalmente a alguns pais que em vez de incentivarem aos meninos só complicam.

A nível distrital parecem estar a despontar alguns valores mas a nível nacional a AFS está a perder espaço em relação a outras associações. O Conselho de Arbitragem está certamente atento a esta situação?
Claro que sim. Na verdade, temos bons valores. Mas, também é um facto que nas últimas épocas perdemos terreno em relação a outras Associações e não vai ser fácil recuperar porque cada vez a malha está mais apertada. Neste momento, o nosso quadro de árbitros a nível nacional é bastante reduzido com apenas dois árbitros na Liga, três (C2) no Campeonato Nacional de Seniores e mais três em estágio que se juntaram aos que ficaram da antiga 2.ª Divisão e aos que foram promovidos da 3.ª Divisão. Vai ser complicado porque desse quadro apenas os oito primeiros vão ter acesso ao estágio para o nível 2 (C2), com a particularidade de desses oito metade ter que possuir menos de 26 anos no final da época. Portanto, não vai ser fácil mas temos esperança que entre eles possa estar algum dos nossos. No quadro feminino da FPF temos quatro árbitras. No futsal 13 árbitros mas apenas um no quadro principal e no quadro de assistentes temos 11 para apenas 2 árbitros da Liga, o que os obriga a actuar com árbitros de outras associações.


Esse estágio de um ano vai permitir que os árbitros cheguem ao escalão superior mais bem preparados. É isso?
Teoricamente deveria ser assim, mas na prática talvez não seja porque esses árbitros vão fazer muitos jogos de iniciados e juvenis mas no máximo cinco jogos de seniores, que é muito pouco. Quer isto dizer que a bagagem que vão adquirir não permite que fiquem com a experiência desejada para um nível superior. Em minha opinião, deviam fazer mais jogos de seniores porque com eles é que se ganha experiência.

“A partir desta época tudo vai ser diferente”

Ser árbitro não é fácil porque como qualquer ser humano também erra, resultando daí criticas algumas vezes infundadas. Isto leva-nos à questão da formação dos árbitros. Será que a duração dos cursos tem o tempo ideal?
A partir desta época tudo vai ser diferente. A começar pelo nome do curso que se chamava Curso de Candidatos a Árbitros e vai passar a ser Curso de Formação de Árbitros de Nível I. Antigamente eram acções aceleradas praticamente só com as leis de jogo, agora vai ter a duração de um ano com cerca de 140 horas no futebol e 100 horas no futsal, com uma parte teórica e outra prática. Vão ser acompanhados no campo, ter coordenadores de estágio e tutores, módulos de sociologia, saúde, história das competições e terão uma duração mais prolongada. Quem for leccionar estes cursos vai ter formação adequada e na segunda quinzena de Outubro contamos dar início ao primeiro curso.

Mais horas e uma maior duração não poderá constituir um obstáculo para quem está a começar?
Creio que não, porque assim que terminarem as 40 horas de formação teórica vão iniciar a fase prática de 100 horas, para que no final desse estágio possam ser aprovados ou não como árbitros. Até aqui faziam o exame e ficavam aptos. Agora não, vai ser o coordenador do estágio que os acompanha a elaborar um relatório que indicará se têm ou não aptidão. A formação vai mudar como o dia para a noite.

Por falar em classificações também vai haver novidades?
Sim, vai. Pela primeira vez, todos os árbitros de Setúbal vão ter classificação. Até aqui eram só os árbitros do quadro principal mas a partir de agora todos vão ser classificados. Já temos um programa próprio para isso e depois vão haver também sessões obrigatórias nos Núcleos, onde as presenças vão contar. Seremos mais exigentes para os árbitros perceberem que sem trabalho não vão a lado nenhum. A CAT vai realizar 10 acções obrigatórias por época nos Núcleos e todos os árbitros vão fazer um teste para que possam ser avaliados e classificados. No final, haverá subidas e descidas.

As nomeações por vezes geram também alguma controvérsia principalmente quando apitam clubes do seu próprio Núcleo…
O árbitro está lá para desempenhar o seu papel, não tem clube, não tem religião, não tem nada e deve estar preparado para apitar em qualquer campo seja ele onde for desde Almada até Alvalade (Sado). Na I Liga também se vê um árbitro de Lisboa apitar um clube de Lisboa. Nós aqui também temos o mesmo critério mas a nível das camadas mais jovens não faz grande sentido estar a fazer deslocar um árbitro de longe para apitar benjamins ou infantis. A nível de seniores e juniores depende da situação.

Com a alteração dos quadros competitivos muita coisa mudou na arbitragem a nível nacional. Isso também se irá reflectir na arbitragem distrital?
Sim, é natural. Ficámos com um número reduzido de árbitros nos nacionais mas felizmente nenhum se foi embora. Só o Nuno Campos não ficou como árbitro, por opção, porque ainda podia ser, mas optou pela carreira de observador e nós bem precisávamos porque Santiago do Cacem está com poucos árbitros. Todos os outros entraram para o quadro principal da AFS, excepto os que têm mais de 34 anos porque já não podem ser indicados à FPF. Quase todos foram para assistentes de árbitros que já estavam ou foram para os nacionais funcionando como uma mais-valia porque são árbitros experientes que podem ajudar os que entraram agora no estágio no CNS.

“Tivemos que ser exigentes”

Em relação ao policiamento qual vai ser a atitude dos árbitros sempre que não haja polícia?
Esse assunto está neste momento a ser tratado pela FPF, APAF e MAI, para que exista uma definição que se pretenda clara para as associações distritais. Claro que neste momento há regulamentação própria sobre esta matéria que se encontra regulamentada através de comunicados oficiais da FPF e é sobre ela que os árbitros têm de se cingir. A última palavra sobre questões de segurança para a realização dos jogos pertence sempre aos árbitros.

Qual o balanço do primeiro ano como presidente do Conselho de Arbitragem?
Começámos a época já em andamento mas tivemos que ser exigentes para tentar melhorar. Quem quiser ser árbitro tem de realizar os mínimos exigidos quer nos testes escritos quer nos testes físicos e uma coisa é certa quem não o fizer não actua. Sem exigência não se vai a lado nenhum. Portanto, creio que o balanço é positivo.

E, o que ficou ainda por dizer?
Que o nosso quadro principal tem 20 árbitros e todos eles oferecem garantias. Na retaguarda também temos qualidade mas falta de quantidade. Neste sentido, foi criado este ano um quadro de árbitros com menos de 24 anos porque o regulamento da FPF exige que dos três a indicar no final de cada época, dois devem ter menos de 26 anos. Temos que começar a lançá-los em jogos de seniores e juniores para ganharem ritmo porque são eles que daqui a dois ou três anos poderão estar no estágio da I Liga. Gostaria também de referir que o nosso quadro foi neste início de época reforçado com uma árbitra internacional, a Sílvia Domingos que se transferiu do Algarve para Setúbal.