Trabalho tem sido a palavra de ordem
O Botafogo Futebol Clube, popular colectividade sedeada nas Cabanas (Palmela) está a passar por uma fase bastante positiva. Em apenas três meses, a nova direcção liderada por Miguel dos Santos, chefe de logística, de 33 anos, ex-praticante de futebol e treinador das camadas jovens, tem feito coisas fantásticas.
As pessoas da terra estão a colaborar, os associados a voltar e a direcção a trabalhar de forma tão intensa que o clube apresenta um ar muito mais airoso fruto de uma grande renovação feita a nível de instalações.
Na vertente desportiva será também de salientar o empenho da direcção que está a construir uma equipa de juniores e uma de juvenis para competirem nas provas da AF Setúbal e uma equipa de seniores que vai participar no campeonato da Fundação INATEL.
Miguel dos Santos, o presidente, que outrora fora treinador, em entrevista ao nosso jornal, explica as razões da mudança e fala de forma apaixonada do clube que aprendeu a amar.
“Tornei-me um apaixonado pelo clube”
Porque se candidatou a presidente, se era treinador do clube?
Sim, fui treinador do clube durante 3 épocas consecutivas, trabalhando com os escalões de iniciados e juvenis. Durante os meus últimos 9 meses de trabalho com a equipa de juvenis da época 2012/2013 já não estava o presidente que me contactou aquando da minha vinda para Cabanas e do qual sempre senti um apoio enorme, estou a falar do Sr. Luís Salvador. Desde que me iniciei no clube fazia de tudo um pouco, era eu que tratava dos balneários, do campo e das roupas/equipamentos do clube, em termos de lavagem/secagem, etc. Tornei-me um apaixonado pelo clube e senti que se estivesse na frente podia fazer algo mais do que estava a ser feito. Sendo assim e após uma breve conversa com o presidente que estava em funções, Jorge Marques, decidi apresentar um projecto com alguns objectivos/patrocinadores, para efectuar melhoramentos no campo e criar mais condições para os jovens que praticam desporto. Reuni pessoas para a minha direcção e ainda falei com o vice-presidente na altura, o Sr. Fernando Felicidade (pessoa que muito fez pelo Botafogo e é muito acarinhada nas Cabanas) para me acompanhar. Respondeu-me que precisava de tempo para ele e para a família mas deixou-me à vontade para o que precisasse dele, no futuro. Posto isto, candidatei-me às eleições e tomei posse no dia 2 de Maio de 2013. Agora, a cada dia que passa o que mais quero é trabalhar afincadamente pelo clube. Se for necessário marcar o campo ou lavar balneários e não houver ninguém eu próprio farei isso porque não quero deixar o clube “morrer”. Aliás, tenho há pouco tempo uma pessoa nova a entrar na minha vida que me dá cada vez mais força e confiança.
Desde que esta direcção tomou posse as mudanças têm sido muitas. O que é que já foi feito e o que está ainda por fazer?
Após tomar posse, meti mãos à obra e fiz os melhoramentos necessários no bar-sede que foi completamente renovado para reabrir logo de seguida com horário de funcionamento muito mais alargado (todo o dia). No dia da reabertura tivemos uma afluência que me deixou bastante satisfeito. Senti o apoio de muitas pessoas e muitos sócios que voltaram ao clube, depois de terem estado alguns anos desligados (presencialmente) por causa de situações envolventes com anteriores direcções. Remodelei a sede e o escritório da direcção, dando alma a fotos e taças/troféus conquistados que não estavam à vista das pessoas das Cabanas; ou seja, algo que entendi que devia estar exposto para o povo da terra visualizar e recordar. Depois, foram feitos alguns melhoramentos nos balneários e na bancada, que estão quase concluídos. Agora vamos passar para o terreno envolvente das quatro linhas de jogo que será totalmente fechado à volta, de forma a evitar a presença de indivíduos que anteriormente durante a noite ali se deslocavam para fazer coisas menos boas. É isso o que está por fazer. Nesta altura, estamos também a criar em conjunto com a Beatriz Matos o novo jornal do clube (Botafogo Semanal) que publicará tudo o que importa saber sobre o Botafogo, incluindo mensalmente as contas do clube.
Seniores no INATEL
por razões de ordem económica
Na vertente desportiva, quais os escalões que vão competir e quais os objectivos?
Para já vamos ter os juniores e os juvenis a competir nos campeonatos da AF Setúbal e os seniores nas competições do Inatel. Os juvenis (a única equipa que ainda não está totalmente certa) vão começar as captações ainda esta semana; os juniores estão quase a começar a pré-época; e, no que respeita ais seniores as coisas estão a andar para avançarmos para o Inatel. Não é justo entrar para presidente e pedir objectivos aos treinadores. Aos técnicos das camadas jovens quero dizer-lhes que têm o meu total apoio. Espero que trabalhem com os miúdos sem esquecer que se trata de jovens com idade de namorar, de estudar e que depois das aulas, por vezes à chuva, ainda vão correr para fazerem o que mais gostam, praticar futebol. Há que dar valor aos miúdos e saber explicar as razões que o treinador tem para alguns não jogarem em determinadas ocasiões. Em relação aos seniores pedi apenas ao Mister Fernandez que os jogadores suem a camisola do Botafogo. A minha intenção é participar dois anos nas provas da Inatel para formar uma equipa válida e consistente para que no terceiro ano possa entrar nas provas da AF Setúbal com uma base já formada de forma a atacar a subida de divisão logo na época do regresso.
No futebol sénior, porque razão optaram pelo Inatel e não pela AF Setúbal?
Por razões de ordem económica. Entrar nas competições da AF Setúbal tem custos enormes e não me quero atirar de cabeça. O que estou a fazer é para o clube e para as pessoas da terra, não quero que me apontem nada de negativo. Quero ter sempre a cabeça bem erguida e que vejam esta direcção como algo de bom. Os seniores estão de volta ao Botafogo e o momento está a ser muito aguardado pelas pessoas das Cabanas. No meu projecto dizia que queria seniores no Botafogo em três anos e afinal chego ao final de três meses com seniores. Está a ser muito bom e o que eu mais quero é sentir um grande apoio dos “cabaneiros” neste regresso do Botafogo ao futebol sénior.
“Quero mostrar obra feita”
As vossas instalações não são certamente as desejadas. Há algum projecto ou alguma ideia para melhorar a situação?
Vamos com calma. É preciso não esquecer que peguei no clube com o saldo da conta praticamente a zeros. Tive alguém com um negócio aberto nas Cabanas que me ajudou imenso para as melhorias da sede com tintas e outros materiais, mas não quero ser alguém a mais. Quero sim mostrar obra feita para que as pessoas da terra e os associados do clube saibam que pagam cotas mas têm condições, que estão a ser feitas melhorias e que o seu dinheiro é empregue no clube. Tenho contado com toda a direcção mas quero principalmente agradecer o enorme apoio de duas pessoas; Ilda Silva e Alberto Reis, que têm sido fantásticos. Contudo, também não posso esquecer o Gualter Vieira que trabalha todos dias na boa manutenção do clube e nos melhoramentos efectuados em termos de canalização, pedreiro e pintura. Acho que as pessoas das Cabanas têm direito a saber o que se passa no Botafogo e aquilo que está a ser feito.
Tendo em conta a zona onde se encontra inserido. Acha que o clube tem margem de progressão?
A vida é feita de conquistas, mas para se obter conquistas há que trabalhar para as mesmas. As coisas não aparecem feitas do nada. Neste momento, como referi atrás, temos pessoas de volta, associados que se voltaram a filiar após a minha tomada de posse e eu não quero de forma alguma que se arrependam da decisão que tomaram em voltar a apoiar financeiramente e presencialmente, o Botafogo. É claro que ter novas instalações seria muito bom mas como não temos apoio financeiro das instâncias oficiais, vamos andando com o que há. Margem de progressão, cabe a todos nós, directores, treinadores e jogadores, fazer com que o clube cresça. Somos todos importantes desde a minha pessoa até ao miúdo mais novo que pratique futebol no Botafogo.
Quer deixar alguma mensagem que ache importante?
Agradecer ao Sr. Fernando Felicidade por tudo o que fez por este clube nos muitos anos que por cá passou; ao Sr. Jorge Marques porque me fez crescer um bom bocado no futebol; ao Sr. Luís Salvador por me fazer abraçar o Botafogo quando me convidou para vir; e, ao Sr. Vicente, um ex-presidente que fez com que o Botafogo tivesse as suas próprias instalações ao fazer a escritura do clube na altura em que o fez. A todos os meus directores um carinho especial porque sei que não é fácil estar sempre presente mas sei que gostam disto e quando podem não faltam. Aos adeptos do Botafogo Futebol Clube quero agradecer todo o apoio que nos têm dado e todo o carinho que têm manifestado. Espero sinceramente que nos continuem a apoiar e que acreditem no trabalho sério e honesto que estamos a desenvolver em prol do clube.
No que respeita ao futebol sénior, a maior dificuldade é lidar com a falta de verbas. Todos os jogadores jogam sem qualquer tipo de remuneração ou prémio financeiro. Não é a primeira vez que perdemos vários jogadores talentosos por um passe ou alguns euros. Esta é a realidade do clube. Mas, fazendo das fraquezas forças, aceitamo-las e sabemos que quando entramos no campo somos movidos pela paixão. É também esta paixão que faz com que se definam objectivos claros que nesta época passam logicamente por garantir tão cedo quanto possível a manutenção no campeonato distrital da 1.ª divisão e chegar o mais longe possível na taça da associação. Sabemos que temos potencial para o que nos propomos, e mesmo que no final não seja possível, saberemos que tudo fizemos para lá chegar e se o conseguirmos não será por acaso.
