- JORNAL DE DESPORTO

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sexta-feira, 26 de abril de 2013


Portugueses lá por fora…


Futebolistas da margem

sul partem à descoberta 

da Finlândia


Adimar, Pedro Cardoso e Tiago Ramalho (Jardel)
no balneário com o treinador Diogo Nobre
Pedro Cardoso (ex-Almada), Adimar (ex-Beira Mar de Almada) e Tiago Ramalho (ex-C. Piedade e Desp. Fabril) deixaram os seus clubes na margem sul do Tejo partindo à descoberta da Finlândia onde vão actuar no Peimari United, um clube recém-formado na sequência da junção de esforços entre duas pequenas vilas chamadas Sauvo e Paimio, ambas perto de Turku, a cidade grande do Oeste Finlandês.

Tiago Ramalho, conhecido por Jardel, tem 23 anos e esteve durante a época 2011/12 no Fabril, é extremo esquerdo e conta passagens pelo Benfica e pelo Cova da Piedade; Adimar, é defesa, 22 anos, e estava a jogar no Beira-Mar de Almada depois de ter vestido a camisola do Cova da Piedade e do Vale de Milhaços; e, Pedro Cardoso, aos 22 anos, deixou a baliza do Almada, onde era titular, para ingressar no clube finlandês. Além de ter representado o Benfica, V. Setúbal e União da Madeira, o atleta passou também pelo Amora, Corroios, Elvas, Aljustrelense e União Montemor.

 Quanto ao treinador Diogo Nobre, 26 anos, o grande responsável pela contratação dos três futebolistas, é de Corroios e no seu curriculum enquanto técnico consta passagens pelas camadas jovens do Almada, Olivais e Moscavide e CAC (Pontinha) e no futebol sénior pelo C. Piedade e Desportivo Fabril, como adjunto.

Mas como é que surgiu a hipótese de ir para a Finlândia e levar consigo alguns atletas da nossa região. Foi esta a primeira questão que colocámos a Diogo Nobre. 

Em primeiro lugar vim eu, faz agora um ano, e a oportunidade surgiu aquando o presidente do clube esteve em Portugal a realizar um pequeno estágio com o plantel. Depois desse pequeno período o sr. Olli Dahl (nome do presidente) ficou encantado com a metodologia de trabalho em Portugal e encarregou um empresário de lhe arranjar um treinador português jovem e com potencial para fazer crescer este projecto. Então falaram com um grande amigo meu André Lourenço, que está no Sporting, mas ele mostrou-se relutante em aceitar, por várias razões e telefonou-me a dizer que o sr. Olli o tinha tratado muito bem e que o queria ajudar e portanto queria que fosse eu a aceitar, visto que estudámos e trabalhámos juntos e ele achava que eu era a pessoa correcta para tomar conta do projecto. Então começou assim esta aventura, a 31 de Março, deixando para trás três anos de treinador adjunto na 3ª Divisão Nacional e mais quatro como treinador de camadas jovens em Portugal.

E no que respeita aos jogadores? 

Diogo Nobre em acção de treino
A ideia dos jogadores foi totalmente diferente. Depois de eu passar aqui uma temporada notei claramente que precisávamos de ajuda, se queríamos atingir os objectivos. Só para imaginarem, o guarda-redes titular do plantel sénior, fez todo o campeonato com 16 anos. Portanto, esta foi a minha única exigência ao presidente depois de termos terminado o campeonato sénior em 3.º lugar (naquela que foi a primeira vez em que participou), somente com rapazes nascidos em 94, 95 e 96. Como o objectivo passa por subir dois anos consecutivos de divisão e se já que tínhamos que alugar uma casa maior (os custos eram os mesmos) porque não trazer mais alguém. Surgiu a hipótese do Adimar Neves primeiro, porque um dia falámos no facebook por curiosidade e ele disse-me que mesmo estando em França estava com algumas dificuldades e comecei logo a pensar numa solução, porque o nosso clube ainda não é profissional e não tem grandes meios financeiros. Resolvemos a questão arranjando trabalho aqui na vila para ele. Depois, soube que o Tiago Ramalho ainda estava sem clube em Dezembro (por estar a recuperar da segunda cirurgia aos joelhos) e o processo foi o mesmo. São dois rapazes fantásticos, trabalhadores, humildes e cheios de talento. Já tinham sido meus jogadores, sei que tiveram alguns azares na carreira mas ainda estão muito a tempo de agarrem a sua oportunidade. Depois disso, comecei a procurar possíveis candidatos para a baliza que era a minha grande preocupação. Os meus jogadores alvo a contratar são sempre jogadores jovens (máximo 89/90) com margem de progressão, que gostem de trabalhar, que não gostem da noite, ou pelo menos não bebam (o facebook é uma grande ajuda para os treinadores hoje em dia, e alguns jogadores deviam pensar melhor que fotos publicam), de preferência que sejam da Margem Sul, porque lá vivi 25 anos e sei como aquelas cabeças funcionam, e como último passo, é fundamental que eu os conheça pessoalmente.

Pedro Cardoso (guarda-redes)
Daí a minha hesitação com o Pedro Cardoso, que embora já o conhecesse como jogador e soubesse que iria ser excelente, não sabia como era como homem, mas depois de me informar com vários amigos, marquei um encontro com ele e com um grande amigo que temos em comum num café na Amora e passado cinco minutos já sabia que o queria comigo. Não me enganei é um rapaz calmo, respeitador e que quer trabalhar para ser profissional, estamos a dar-nos muito bem. Por fim, a ideia do treinador Hugo Henriques. Nós tínhamos quadro planteis no Peimari United (neste momento 5), sendo que o que precisava de mais atenção eram os meninos nascidos em 00/01, por serem a equipa mais jovem e por serem mais numerosos (26) precisavam de alguém a dar-lhes atenção a 100% e a transmitir os quatro princípios de jogo que estabeleci no nosso modelo de formação, para poderem ser no futuro a melhor geração de jogadores deste clube e não terem carências tácticas graves quando chegarem aos seniores (como o meu plantel tinha). Como infelizmente não encontrei ninguém com as características que queria por aqui, fiz alguns contactos para poder trazer um treinador estagiário da minha antiga faculdade (ESDRM) mas depois de falar de novo com o meu amigo André Lourenço, soube dum rapaz com muita qualidade que estagiou com ele no Sporting o ano passado e que voltou para a sua aldeia natal, estando a trabalhar num pequeno clube. Mais uma vez marquei um encontro, para conhecer, neste caso o Hugo Henriques, e muito rapidamente chegamos a acordo para ele integrar o projecto, espero que ele possa ficar muito tempo por aqui. Para já, acumula funções como adjunto dos seniores/juvenis, como treinador principal dos infantis A e B, estando também englobado num projecto que vamos desenvolver com a ajuda das instituições locais, de organizar várias equipas mais jovens, com meninos vindos do jardim de infância e escolas primarias (neste momento já criamos um plantel nascido em 07-08). 

Como é que está a decorrer o trabalho, quando começa o campeonato e quais os objectivos? 

Sessão de trabalho
Bem, a nossa pré-epoca esta a correr muito bem, os jogadores portugueses trouxeram uma energia nova à equipa, também mais dinâmica/intensidade nos treinos e a crença que podemos fazer algo grande. Os jogadores
jovens finlandeses por vezes têm dificuldades em acreditar no seu real valor, mas juntos destes “craques” penso que se sentem mais capazes e protegidos e estão a melhorar o seu futebol, com mais confiança no jogo e motivação. Por falar na motivação, acho que neste momento está a acontecer uma coisa única (não conheço outros casos idênticos) nesta zona, que nem o presidente achava ser possível, mesmo os jogadores lesionados estão a vir aos treinos e jogos (e não havendo massagista, só mesmo por uma questão de apoiar os colegas e querer estar com o grupo) e todo o plantel/clube está a atravessar um grande clima positivo de crescimento. Nas camadas jovens, o trabalho é muito mais complicado porque infelizmente por aqui qualquer desculpa é boa para faltar a um treino ou até aos jogos. Posso dizer que me vou estrear a 27 de Abril no campeonato de juvenis e que o central titular vai a um acampamento de golfistas e o lateral direito a um torneio de Badminton. Penso que pouco a pouco, com o exemplo do plantel sénior, podemos também mudar mentalidades nos mais novos, mas para isso precisamos de chegar aos pais. Neste sentido, criámos um dia do clube (no verão) onde se junta pais/jogadores/amigos para jogar futebol, jogos tradicionais e fazer uma churrascada (à maneira finlandesa, grelhando “makara”) de modo, a que eu consiga chegar até às famílias e lhes possa transmitir o prazer que é jogar futebol e que os meninos de todos os planteis venham aos treinos. Com este plantel e com esta motivação, temos de ambicionar não só a sermos campeões, mas também lutar para a subida na época seguinte. Se conseguirmos manter este plantel penso que não é irrealista dizer que o objectivo é subir de divisão dois anos consecutivos. Claro que vamos ter um grande problema. Na Finlândia é obrigatório o serviço militar e a meio da época vou perder o capitão e também o melhor marcador da época passada bem como outros três jogadores, mas com os portugueses vamos tentar dar a volta a essa situação. O nosso primeiro jogo oficial é a 5 de Maio e o último, a 28 de Setembro. (A época é muito curta por razões climatéricas claro, embora em Outubro pudéssemos ainda jogar outdoor).

Adimar e Jardel em jogo de pré-época
Como é que os portugueses foram recebidos sabendo-se que são realidades completamente diferentes? 

Sim, a realidade é muito diferente. Mas, neste caso, até ajuda, porque, apesar do desporto rei na Finlândia ser o Hóquei no Gelo, eles respeitam muito os jogadores que vêm dum país latino, onde se vive/joga “o verdadeiro” futebol. Portanto, todos os rapazes ficaram muito entusiasmados com a vinda destes jogadores, que eles admiram como ídolos. Não houve invejas, ou guerras internas, pelo contrário, apoiam muito e respeitam os jogadores portugueses. Depois, claro, para mim é importante fazer a ligação entre eles. Assim sendo, já prometi que se ganharmos os dois primeiros jogos oficiais ofereço uma noite de convívio com o plantel todo na minha casa, com uma “sauna evening” e churrascada, para que surja um grupo forte dentro e fora do campo.



Felicidades é o que se deseja aos nossos conterrâneos. Esperamos ansiosamente por mais novidades…

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